Outros:
São Bernardo(1090-1153):
"Quem pecou, não experimentando o castigo de Deus, pode estar certo que é objeto da ira de Deus. Deus condena no outro mundo a quem nesta vida não conseguiu corrigir pela adversidade".
Pe. Antônio Vieira(1608-1697):
“Daqui se entenderá aquela sentença famosa de Davi, que mais parece enigma que sentença: Semel locutus est Deus, duo haec audivi (Sl. 61, 12): Deus — diz Davi — disse uma coisa, e eu ouvi duas. — Aquilo que se ouve, se se ouve bem, é o mesmo que se diz; pois, se Deus disse uma só coisa, Davi, que era muito bom ouvinte, como ouviu duas? O mesmo Davi se explicou, e não sei se nos implicou mais: Duo haec audivi, quia potestas Dei est, et tibi, Domine, misericordia: quia tu reddes unicuique juxta opera sua (Ibid. 12): O que ouvi — diz Davi — é que Deus todo-poderoso tem misericórdia e justiça, com que dá a cada um segundo o merecimento de suas obras”(Sermão do 4º sábado da quaresma).
Para o santo Cura d’Ars(1786-1859), os castigos de Deus são graças: “’Dizemos às vezes: Deus castiga aqueles a quem ama’. Nem sempre é verdade. As provações, para aqueles que Deus ama, não são castigos, são graças...” . "Se não houvesse almas puras que aplacassem a Deus ofendido pelos nossos pecados, quantos e quão terríveis castigos teríamos nós que suportar!"(Idem, cf. Sacerdotii, nostri promordia, 17).
Sinais do nosso tempo: A Irmã Lúcia, (1907-2005) de Fátima, escreve: “A guerra vai logo acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virem uma noite iluminada por luz desconhecida, saibam que é o grande sinal que Deus lhes dá de que vai castigar o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, fome, perseguições à Igreja e ao Santo Padre...”(Castigo que se cumpriu com trágicas conseqüências).
O Sagrado Magistério
Paulo VI, na doutrina das indulgências, lembra-nos que as penas do pecado devem ser reparadas pelos sofrimentos desta vida ou da outra (se não indulgenciadas): “Assim nos ensina a revelação divina que os pecados acarretam como conseqüência penas infligidas pela santidade e justiça divina, penas que devem ser pagas ou neste mundo, mediante os sofrimentos, dificuldades e tristezas desta vida e sobretudo mediante a morte, ou então no século futuro...”(DI, 2)
Catecismo: “Para os estimular às obras virtuosas, foram necessários o temor do castigo e diversas promessas temporais, até sob a Nova Aliança. Em todo caso, mesmo que a Lei Antiga prescrevesse a caridade, ela não dava o Espírito Santo pelo qual "o amor de Deus derramado em nossos corações" (Rm 5,5) “(Cat § 1964).
"A nossa Cabeça(Cristo), diz santo Agostinho, ora por nós; acolhe uns membros, castiga outros, a outros purifica, a outros consola, a outros cria, a outros chama, a outros torna a chamar, a outros corrige, a outros reintegra"(Mystici Corporis, 57).
“Deus é descrito amando o seu povo escolhido com um amor justo e cheio de santa solicitude, qual é o amor de um pai cheio de misericórdia e de amor, ou de um esposo ferido na sua honra. É um amor que, longe de decair e de cessar à vista de monstruosas infidelidades e pérfidas traições, castiga-os, sim, como eles merecem, mas não para os repudiar e os abandonar a si mesmos, mas só com o fim de limpar, de purificar a esposa afastada e infiel e os filhos ingratos...”(Haurietis Aquas, 15)
B. A prefiguração do Castigo Eterno
Figuras em Geral:
As realidades do AT só se tornam plenamente explícitas quando confrontadas com a Revelação Plena do NT. Assim não poucos dos personagens e episódios ali narrados são figuras e prefigurações de realidades que só se conheceriam em plenitude nos tempos messiânicos:
1Pd 3,21: “Esta água prefigurava o batismo de agora, que vos salva também a vós, não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma consciência boa, pela ressurreição de Jesus Cristo”
Rm 5,14: “No entanto, desde Adão até Moisés reinou a morte, mesmo sobre aqueles que não pecaram à imitação da transgressão de Adão (o qual é figura do que havia de vir)”
Hb 9,1-9: “A primeira aliança ... o Santo ... o Santo dos santos... Isto é também uma figura que se refere ao tempo presente, sinal de que os dons e sacrifícios que se ofereciam eram incapazes de justificar a consciência daquele que praticava o culto”.
O Santuário do templo como figura do céu: “Eis por que Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu”(Hb 9,24).
Também no deserto, o alimento e a bebida dos hebreus eram figuras de Cristo: “todos comeram do mesmo alimento espiritual; todos beberam da mesma bebida espiritual (pois todos bebiam da pedra espiritual que os seguia; e essa pedra era Cristo).”(1Cor 10,3-4).
Figuras de Castigo:
Não havendo outra maneira de representar a perdição e condenação eternas no AT, os hagiógrafos utilizavam a morte física para exprimi-la:
Gn 2,17: “no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente”.
Gn 20,7: “Devolve agora a mulher deste homem ... se não a devolveres, sabes que morrerás seguramente, tu e todos os teus”
2Sm 12,13: “Natã respondeu-lhe: O Senhor perdoa o teu pecado; não morrerás.” Jr 28,16: “Ainda neste ano morrerás, pois que insuflaste a revolta contra o Senhor!”
Am 7,17: “Eis o que diz o Senhor: tua mulher será violada em plena cidade, teus filhos e tuas filhas cairão sob a espada, teu campo será repartido a cordel; quanto a ti, morrerás numa terra impura”
Nm 26,10: “A terra, abrindo sua boca, engoliu-os com Coré, enquanto o seu grupo perecia pelo fogo...”
2Sm 6,6-7: “Oza estendeu a mão para a arca do Senhor ... a cólera do Senhor se inflamou contra Oza ... Oza morreu ali mesmo, perto da arca de Deus.” Nm 3,4: “Nadab e Abiú morreram diante do Senhor, quando levaram à sua presença um fogo estranho no deserto do Sinai”
C. CONCLUSÃO
1. Em Deus tudo é infinito. Não se pode exaltar um atributo em detrimento do outro, sob pena de incorrermos nas mais horrendas heresias: Ex: Deus sendo misericordioso não condena ninguém, logo o inferno não existe ou ‘se existe está vazio’. ?!?!?!?! (Heresia tão propagada nos nossos dias!!!).
2. É preciso ler o Antigo Testamento dentro do adágio: “O Novo está contido no Antigo. O Antigo está explicado no Novo. O Novo está latente no Antigo. O Antigo está patente no Novo.” (tb cf. Dei Verbum, 16).
3. Jesus nunca retirou a autoridade das Escrituras(3) , relegando suas partes difíceis a ‘costumes dos povos da época’, ou coisas semelhantes, mas proclamou com toda autoridade:
“Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas...”(Mt 5,17); “Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus”(Mt 5,19); “passará o céu e a terra do que se perderá uma só letra da lei”(Lc 16,17).
Síntese Final
Para preservar o povo de Deus da idolatria dos pagãos e de todas as suas práticas abomináveis, não poucas vezes os israelitas foram exortados a não fazer nenhum pacto com os habitantes da terra que o Senhor lhes daria (Ex 23,24.32; 34,12.15; Lv 20,5; Dt 4,19; 12,3.30; Jz 2,2-3.17; 8,27.33; 1Sm 15,6). Por conseguinte, o Herém é ordem de Deus, entendida nestes principais motivos:
a) Justiça de Deus contra os cananeus idólatras Se Deus outrora fizera justiça, riscando do mapa cidades inteiras (a pentápole: Sodoma, Gomorra...) por causa de sua perversidade, não é de se surpreender que Ele o faça através de agentes humanos, no caso o seu povo eleito.
b) Utopia
Seria inadmissível que Josué se apresentasse aos reis de Canaã com um discurso assim: “Senhores, sabeis, que Iahweh, nosso Deus, o Todo-Poderoso, nos deu esta terra que habitais, por herança. Portanto é preciso que dela saiais, deixando-nos todos os seus palácios, todas as suas construções, todos os seus rebanhos, todas as suas vinhas... porque esta é a vontade de Deus. Buscai para vós outra terra” ?!!?!?!?!?!??!
c) Mal menor
O maior mal que pode afligir o homem é o pecado, pois lhe tira o maior bem: a vida eterna.
Por isso a prática do herém tornou-se um ‘mal necessário’, ou MAL MENOR, para evitar que o povo de Deus assimilasse todas as mazelas pagãs, como de fato se evitou.
NOTAS:
(1) Para Bultmann (1884-1976), teólogo protestante, o Novo Testamento era inaceitável ao homem moderno, que não mais acredita em milagres, demônios e intervenções sobrenaturais no curso da história. Era pois necessário eliminar tudo isto que ele chama de mitos: desmitificar.
(2) Márcion, cristão da Ásia Menor, viu um contraste entre o Deus do Antigo Testamento e o do Novo Testamento. O primeiro, um Deus criador justiceiro e punitivo, criador, também, do sofrimento, dor doença - e até pernilongos e escorpiões. - O Deus do Novo Testamento era Amor e Perdão. Dois deuses diferentes? Chamaram-no "dualista" e Irineu, mais tarde, objetava que os gnósticos eram dualistas como os marcionistas acreditavam que "há outro Deus além do criador".
(3) No tempo de Jesus, por Escrituras, entenda-se: O Antigo Testamento.
Nilton Fontes
Título Original: Deus Castiga ?
Fotos: Web
Site: Dicionário da Fé
Editado por Henrique Guilhon
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