A Igreja é a coluna (mestra) e sustentáculo (preservadora) da verdade – 1º Tim 3,15

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É importante falar de Deus, das coisas de Deus, sem tirar os pés do mundo, pois estamos nele, embora que não sejamos dele. O Viver em Deus, fala de Deus, dos fatos da Igreja, do meio cristão católico. O Viver em Deus não é fechado em si mesmo, portanto faz também a apresentação de obras de outros sites católicos, o que, aqui, mais se evidencia, no intuito da divulgação e conhecimento dos mesmos. UM BLOG A SERVIÇO DA IGREJA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Sejam todos bem - vindos!

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Quando neste blog é falado, apresentado algo em defesa da Igreja, contra o protestantismo, é feito com um fundo de tristeza ao ver que existem "cristãos" que se levantam contra a única Igreja edificada pelo Senhor Jesus no mundo. Bom seria se isto não existisse, a grande divisão cristã. Mas os filhos da Igreja têm que defendê-la.

Saibam, irmãos(ãs), que o protestantismo, tendo que se sustentar, se manter, se justificar, terá que ser sempre contra a Igreja católica (do contrário não teria mais razão de sê-lo) ainda que seja pela farsa, forjar documentos, aumentar e destorcer fatos (os que são os mais difíceis para se comprovar o contrário pelos cientistas católicos, pois trata-se de algo real, mas modificado, alterado para proveito próprio.) E tentarão sempre atingir a Igreja na sua base: mentiras contra o primado de São Pedro, contra o Papa e sua autoridade, contra o Vaticano, contra a sua legitimidade, e outros tantos absurdos. São, graças a Deus, muitos sites católicos que derrubam (refutam) estas mentiras, provando o seu contrário, bastando portanto se fazer uma pesquisa séria, por exemplo, com o tema: cai a farsa protestante, refutando o protestantismo, etc. O Espírito Santo jamais abandona sua Igreja. Que saibamos, por este Espírito, amar aos protestantes que não participam destas ações malignas, e aos que se incumbem destas ações, os inimigos da Igreja, que saibamos, ainda que não consigamos amá-los o bastante, ao menos respeitá-los em sua situação crítica perante Jesus e desejar a eles a conversão e a Salvação de Nosso Senhor Jesus. "Se soubéssemos verdadeiramente o que é o inferno, não o desejaríamos ao pior inimigo".

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Notas Importantes

*O marcador “IDOLATRIA”, na seção TEMAS, abaixo, à esquerda, assim está exposto com a função de desmentir as acusações de idólatras aos católicos, outras vezes também denunciando que estes próprios acusadores cometem a idolatria ao dinheiro, entre outras.

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Tradutor

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Desde o começo, os seguidores de Jesus Cristo reconheciam a Sua presença real na celebração da Santa Missa



Padre Paulo Ricardo

Quem quer que faça uma incursão pelas catacumbas dos primeiros cristãos, vai se deparar com uma verdade sublime e, ao mesmo tempo, inconveniente: desde o começo, os seguidores de Jesus Cristo reconheciam a Sua presença real na celebração da Santa Missa.

Graças à pregação dos Apóstolos, os cristãos começaram a multiplicar-se em todas as cidades, a ponto de o historiador Tácito dizer, no ano 66, que já era grande o seu número na capital do Império [1].

Por isso, não era nada surpreendente que Satanás, antevendo o fim de seu principado, procurasse, através dos mais diversos artifícios, apagar a religião cristã da face da Terra. Os pagãos, para quem a pregação da Cruz era loucura, tanto serviam de instrumentos ao demônio quanto mais a retidão dos cristãos condenava a perversidade do seu modo de vida. "Sereis odiados por todos, por causa do Meu nome" (Mt 10, 22): desde muito cedo a profecia de Cristo começava a cumprir-se.

O misto de simplicidade e mistério que rondava o discreto grupo dos cristãos inquietava cada vez mais os seus inimigos, que não tinham nenhum fato ou testemunho com os quais acusá-los. Por conta disso, todo tipo imaginável de maldade começou a ser atribuída a eles. Pela boca dos judeus, chegava aos seus ouvidos a misteriosa tradição de que, durante as suas festas, os cristãos faziam um sacrifício e, depois, bebiam a carne e o sangue de suas vítimas. Como os cristãos guardavam "a sete chaves" a doutrina da Sagrada Eucaristia e celebravam a Santa Missa sempre em segredo, começaram a circular acusações as mais absurdas, como a de que os cristãos sacrificavam e canibalizavam crianças inocentes.

Eram de tal modo discretas as circunstâncias em que se davam a celebração desse sacramento, que ninguém que não fosse batizado estava autorizado a aprender sobre ela, e os próprios catecúmenos deixavam as igrejas quando a parte mais solene da liturgia começava. Falar dessas coisas aos de fora era um crime tão grave que apenas hereges e apóstatas ousavam fazê-lo.

Não obstante todo o cuidado com que os primeiros cristãos preservavam os seus ensinamentos, eles ainda deixaram atrás de si as mais claras provas de sua fé na presença real do Senhor na Eucaristia, bem como da adoração que eles davam ao Corpo e Sangue do Senhor.

Se, durante as suas assembleias, eles oferecessem e consumissem simplesmente pão e vinho comuns, não haveria nenhum problema de fazê-lo diante de todo o mundo, sem perigo ou medo de perseguição.

O mistério se estendia não só a palavras e escritos, mas até aos lugares onde os nossos primeiros pais na fé se reuniam para o culto divino, em tempos de perigo e perseguição. Nesses lugares, estão conservados memoriais extraordinários, que dão testemunho de sua fé em Tão Sublime Sacramento.
Dentro das catacumbas de Roma

Fora dos muros da cidade de Roma, existe uma cidade subterrânea onde foram sepultados os cristãos dos primeiros séculos da Era Cristã. Antigamente, esses lugares eram chamados simplesmente de "cemitérios" ou "dormitórios", mas, nos tempos modernos, eles são designados pelo nome de "catacumbas". Sob esse título, são entendidos todos os lugares sagrados onde, em tempos de perseguição, os primeiros cristãos enterravam os seus mortos.

As catacumbas consistem em longos labirintos, divididos por passagens, que variam em altura e largura de acordo com a natureza do solo em que foram escavadas. Nelas, existem câmaras, de todos os tipos e tamanhos, ornadas com afrescos. As passagens se encontram próximas umas às outras, em distâncias que variam de três a dez quilômetros dos muros da antiga Roma, ao longo das rodovias. Calcula-se que, unidos, o comprimento desses corredores subterrâneos exceda 560 quilômetros de extensão. Contam-se cerca de 43 catacumbas, 26 maiores e 17 de menor tamanho, de acordo com a extensão dos leitos de tufo calcário, uma rocha vulcânica macia na qual elas foram escavadas pelos cristãos. Tendo em mente que o corpo do Senhor foi deixado em um sepulcro novo escavado na rocha, eles estavam ansiosos por proverem para os seus entes queridos uma tumba parecida, a fim de que também na morte eles seguissem a imitação de Cristo.

Esse modelo de sepultamento era praticado pelos judeus em Roma no primeiro século e algumas famílias romanas antigas ainda mantinham a prática de seus ancestrais etruscos, recusando-se a soterrar os seus mortos. Mas uma característica completamente nova é encontrada nos cemitérios cristãos: a caridade cristã impulsionava muitos da nobreza patrícia que tinham abraçado a fé a enterrar em seus cemitérios privados também os seus irmãos mais humildes, de modo que, já no terceiro século da Era Cristã, cada uma das igrejas paroquiais de Roma tinha o seu próprio cemitério do lado de fora dos muros. Até meados do mesmo século, os cemitérios cristãos continuarão sob a proteção da lei romana, que resguardava todos os túmulos como sagrados e invioláveis.

A história deixou-nos os nomes de muitas nobres mulheres, como Domitila, Lucina, Priscila e Ciríaca, que fizeram as suas propriedades de cemitérios e receberam em suas próprias casas as urnas com os corpos dos Santos Mártires. São Sebastião, São Lourenço, São Nereu e Santo Aquiles são exemplos dos nomes de algumas das catacumbas em que seus respectivos corpos foram sepultados.

O trabalho de escavar esses corredores dos mortos – com os túmulos e as capelas mortuárias que eles continham – foi confiado à confraria dos fossores (escavadores, em latim). Esses homens devotos, que pertenciam em sua maior parte às classes operárias, podiam ser comparados ao venerável Tobias, que escondia os mortos de dia para dar-lhes uma sepultura à noite (cf. Tb 1, 18; 2, 7). O ofício deles, além de extremamente árduo, era cheio de perigos. Com que coragem eles não penetravam nos canais da terra e, com a luz opaca de suas lamparinas, talhavam aqueles corredores na tufa sólida! Nas paredes das passagens, os túmulos eram escavados um em cima do outro, em número de seis ou mais, de acordo com a altura da passagem. Quando um corredor ficava cheio de defuntos, ele era aprofundado e dava espaço para mais corpos. Se isso não pudesse ser feito com segurança, um novo conjunto de passagens era escavado embaixo do primeiro e, dessa forma, os corredores iam sendo formados um sobre o outro, com vários cruzamentos em diferentes direções.

Nos túmulos, eram enterrados um e às vezes dois corpos. Os cristãos não poupavam esforços para tirar as relíquias dos mártires das mãos de seus executores. Muitos chegavam a tomá-los dos magistrados e levá-los para longe da vista dos guardas, às catacumbas, onde eles finalmente banhavam, embalsamavam e davam a eles uma sepultura. O túmulo era cuidadosamente fechado com ladrilhos ou uma laje de mármore e revestido com uma inscrição rudimentar do ano, da idade e do dia do enterro, acompanhada de algumas breves palavras de consolo, como: In pace, Vivas in Deo, Vivas in aeternum. A família e a posição social dos falecidos são raramente mencionadas. O importante mesmo era ser concidadão dos santos e pertencer à família de Deus (cf. Ef 2, 19).

Além desses túmulos nas paredes dos corredores, os fossores escavaram valas separadas para algumas famílias cristãs particulares. Para esse propósito, eram abertas câmaras espaçosas e abobadadas, com tetos ricamente adornados, como se pode ver nas Catacumbas de São Calisto.

Em muitos desses cubículos ficava reservado um lugar especial, sobre o terreno plano, para um caixão de pedra ou uma tampa de mármore. Aí, um, dois ou até mais corpos dos Santos Mártires eram colocados e a parte de cima do caixão era usada como altar. Esse tipo de memorial dos mortos era chamado de arcosolium e as câmaras em que eles se encontravam eram às vezes usadas como capelas. Alguns compartimentos tinham uma abertura para a superfície de cima, permitindo a passagem de luz e de ar, e eram chamados de cubicula clara.

A fé dos primeiros cristãos no sacramento da Eucaristia

Afresco na cripta de Santa Lucina. Especialistas avaliam que a arte seja do século II.

Como já se disse, as terríveis calúnias contra os cristãos – aliadas às blasfêmias com que os gnósticos parodiavam os ritos sagrados –, fizeram os fiéis guardar com a mais estrita discrição tudo o que dizia respeito ao Augustíssimo Sacramento do Altar. Durante os anos de perseguição, a própria Divina Liturgia parecia ser transmitida mais por memória do que por escrito. Com exceção das explanações de Tertuliano e de São Justino Mártir, em suas Apologias, não era permitido ao mundo profano nenhum acesso aos "Sagrados Mistérios". Teria sido, na verdade, totalmente espúrio ao espírito do cristianismo primitivo que eles representassem em pinturas ou esculturas uma ação tão sagrada quanto a do Santo Sacrifício da Missa.

Por isso, não é difícil que os protestantes façam a sua própria ideia da ausência dessas imagens nos afrescos das catacumbas, argumentando que, por não se verem representações de padres paramentados, altares com luzes e incenso, essas cerimônias eram desconhecidas dos cristãos primitivos. Uma explicação desse tipo, no entanto, só satisfaz quem quer ficar satisfeito com ela. Qualquer pesquisador sério procurará descobrir o significado das figuras encontradas nas paredes das capelas subterrâneas, interpretando-as à luz, não da imaginação agitada dos polemistas, mas das expressões comumente usadas pelos escritores cristãos do mesmo período.

Em uma das câmaras da cripta de Santa Lucina, próxima à tumba de São Cornélio, por exemplo, é possível ver um peixe, pintado mais de duas vezes, que traz em seu dorso uma cesta cheia de pães, através da qual é possível ver, em uma passagem aberta na cesta, um cálice pintado de vermelho, como se contivesse um líquido dessa cor. Os especialistas avaliam que a câmara e os seus afrescos sejam do século II.

A pergunta é: o que o artista queria dizer com essa estranha combinação? Os mais imaginativos podem sugerir inúmeras interpretações, mas o mais apropriado é procurar a explicação entre os autores cristãos dessa época.

Santo Abércio de Hierápolis, que foi bispo na Frígia até o fim do século II, descreve em seu epitáfioas suas viagens pela Síria e a Roma, e conclui:

"Por toda parte a fé me levou adiante, e me proveu como alimento um Peixe, grande e perfeito, que uma virgem santa pescou com suas mãos de uma fonte e sempre dá aos seus amigos para comer, acompanhado de um vinho misturado com água, e servindo-o juntamente com pão. (...) Aquele que for capaz de entender essas coisas, reze por Abércio."

Aqui constam, evidentemente, os mesmos símbolos – o peixe, o pão e o vinho. Está bem claro o significado do peixe, mas qualquer ambiguidade é removida por Tertuliano, que, por volta do ano 200, escreveu que "nós, pequenos peixes, segundo nosso Peixe (ΙΧΘΥΝ) Jesus Cristo, de nenhum outro modo somos salvos senão permanecendo na água, da qual nascemos" [2].

Jesus Cristo é, portanto, o grande peixe, sempre servido em "vinho misturado com água" e "juntamente com pão". Esses símbolos aparentemente estranhos são, na verdade, a expressão pictórica dos primeiros cristãos para expressar a sua fé na presença real de Jesus na Eucaristia. Também para eles, assim como para nós, sempre foi certo que – como ensina o Concílio de Trento –, "no sublime sacramento da santa Eucaristia, depois da consagração do pão e do vinho, nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, está contido verdadeira, real e substancialmente sob a aparência das coisas sensíveis" [3].

São Justino Mártir expressa a mesma verdade quando escreve que:
"Depois da ação de graças do presidente e da resposta do povo, os diáconos, como se chamam entre nós, distribuem o pão e o vinho entre os que pronunciaram a ação de graças e não os tomamos como alimento e bebida comuns; do mesmo modo como nos foi ensinado que, pela palavra de Deus, Jesus Cristo Nosso Senhor se encarnou, assim também estes alimentos, para os que tenham pronunciado as palavras de petição e ação de graças, são a verdadeira carne e sangue daquele Jesus que se fez homem e que entra na nossa carne quando o recebemos." [4]

Não se sabe ao certo quando e como o peixe se tornou o símbolo universalmente reconhecido por Cristo, mas é digno de nota que, na passagem há pouco citada de Tertuliano, o escritor latino usa a palavra grega para peixe (ΙΧΘΥΣ), sublinhando que essa expressão é composta das letras iniciais para as palavras Jesus, Cristo, Deus, Filho e Salvador. O peixe, portanto, sugeria aos cristãos um compêndio da sua fé, enquanto permanecia completamente ininteligível para os de fora. Os oficiais pagãos, que inspecionavam as catacumbas que estavam sob a lei romana, não viam nada de ofensivo em um símbolo tão inócuo. Mas a sua multiplicação das mais variadas formas mostra quão precioso ele era para os cristãos.

Alguém poderia nos acusar de estarmos tentando conectar o símbolo do peixe com a doutrina da transubstanciação. Defendemo-nos dizendo que... é isso mesmo. Embora a terminologia que hoje usamos para falar da Eucaristia só tenha surgido séculos mais tarde, está provado, por abundantes testemunhos, que, quando o peixe e o pão eram representados juntos nos antigos monumentos cristãos, estava sempre implícita uma referência à Sagrada Eucaristia, da qual o pão denota a realidade aparente e visível, enquanto o peixe mostra a realidade invisível e escondida, que é "a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nossos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou" [5].

"Por isso – cabe perguntar, com São Cirilo de Jerusalém –, quando Ele mesmo pronunciou as palavras, dizendo do pão: 'Isto é o meu corpo', quem ousará ainda duvidar? Quando Ele mesmo asseverou e disse: 'Este é o meu sangue', quem poderá ainda pôr em dúvida que esse é o Seu sangue?" Ainda que o gosto sensível do que comungamos seja de pão, a hóstia consagrada não é pão, mas o Corpo de Cristo; ainda que se perceba o gosto de vinho, o que se bebe do cálice sagrado não é vinho, mas o sangue de Cristo. Mesmo hoje essas palavras podem parecer muito duras aos ouvidos dos mais céticos (cf. Jo 6, 60). Isso, todavia, não pode minimizar a grandeza do "mistério da fé": "Minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida" (Jo 6, 55). Negar a presença real de Jesus na Eucaristia é negar o próprio Evangelho.

Por Equipe CNP | Com informações da obra "Legends of the Blessed Sacrament"

Referências

Tácito, Anais, XV, 44.

Tertuliano, De Baptismo, I (PL 1, 1198-1199).

Concílio de Trento, Decreto sobre o sacramento da Eucaristia (XIII) (11 de outubro de 1551), 1: DH 1636.

São Justino Mártir, Apologias, I, 65-66 (PG 6, 427-430).

Santo Inácio de Antioquia, Epístola aos Esmirnenses, 7 (PG 5, 713-714).

São Cirilo de Jerusalém, Catequeses Mistagógicas, IV (PG 33, 1097-1106).

Título Original: Catacumbas atestam: Jesus está realmente presente na Eucaristia

domingo, 29 de maio de 2016

A defesa do mundo por Jesus em Maria



Acampamento Mariano




Professor Felipe Aquino. Foto: ArquivoCN

Professor Felipe Aquino

Deus quis salvar a humanidade, então escolheu o caminho da encarnação para realizar essa missão. Para isso, precisava do sacrifício de um homem, a fim de que a oferta desse homem fosse infinita diante do Senhor e trouxesse perdão a toda a humanidade.

O pecado ofende a majestade infinita de Deus, segundo o Catecismo da Igreja Católica; então, o sacrifício precisava redimir a humanidade em sua infinidade. Para que o filho de Deus fosse gerado, Ele escolheu Maria para ser a Mãe de Jesus.

O tempo não se submete a Deus, ou seja, Ele está acima do tempo e para Ele não há passado nem futuro, tudo é presente. Por isso, o Senhor escolheu Maria, desde toda a eternidade, segundo o Catecismo da Igreja, para ser a Mãe do Salvador.

Primeira verdade de fé

Maria mãe de Deus! A Igreja fez um Concílio de Éfeso para declarar o dogma de fé que declara Maria a Mãe de Jesus homem e divino. Não se separa sua humanidade da divindade, ou seja, Maria é a Mãe de Deus.

No Século II, os cristão foram perseguidos pelo Império Romano e colocaram-se sob a proteção de Maria rezando: “Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém”.

Essa mulher consegue tudo de Jesus! Sabe por quê? Porque ela é a Mãe d’Ele, e o que ela pede para seu Filho, Ele a atende. Prova disso são as Bodas de Caná, quando o primeiro milagre de Jesus aconteceu pelo pedido de Maria, que estava preocupada com os noivos.

O vinho estava acabando na festa, e a festa dos judeus durava sete dias. Primeiramente, porque as pessoas demoravam muitos dias para chegar à festa, depois, porque, para o judeu, quando um casal se reunia em casamento era a aliança de Javé com Israel – o rapaz significava Javé, e a esposa Israel.

Jesus transformou 600 litros de água em vinho, porque eram seis talhas de pedras, e essas talhas estão na Galileia. O vinho que Jesus transformou foi o melhor, tanto que o chefe da festa fez esse comentário: “Deixaste o melhor vinho para o final?”.

Jesus respondeu para Maria: “Não chegou a minha hora ainda, mulher”. Mas Maria disse: “Fazei tudo que Ele vos disser”, porque ela sabia que Ele iria fazer algo por aquele casal. Então, Cristo fez o que Sua Mãe pediu e transformou água em vinho. É por essa razão que nós pedimos a intercessão de Nossa Senhora, porque ela consegue tudo o que quer de seu Filho.

Maria é a grande intercessora, a medianeira de todas as graças. Os doutores da Igreja dizem que toda graça que desce para a Terra passa pelas mãos de Maria. É tão bonito quando Maria foi visitar sua prima Isabel e esta disse: “Que honra receber a Mãe do meu Senhor!”. Não havia como Isabel saber disso, mas foi Deus quem revelou a verdade para ela.

Segunda verdade de fé

Maria foi concebida sem pecado. Santo Agostinho defendeu que ela jamais teria pecado por ser escolhida para ser a Mãe de Jesus. Segundo o dogma da Igreja, ela foi preservada, na sua concepção, do pecado original pelo Sangue de seu Filho. Mas como o Sangue de Jesus a salvou, se Ele não havia nascido? Porque, para Deus, não há tempo, apenas o momento presente. Então, Jesus salvou Maria, pelo Seu Sangue, de todo pecado.


Professor Felipe Aquino prega no Acampamento Mariano.

Nossa Senhora foi vacinada pelo Sangue de Cristo contra o pecado original, por isso ela é concebida sem pecado. Papa Pio IX declarou esse dogma de fé. Em 1830, 24 anos antes da proclamação do dogma, Nossa Senhora já havia aparecido e declarado que ela era Imaculada. A Virgem apareceu para Catarina, na França, e esta perguntou para Nossa Senhora o que eram aqueles raios que saiam da mãos dela. A Virgem explicou que eram as graças que estava derramando para seus filhos. Catarina então perguntou por que alguns raios eram mais claros. Nossa Senhora disse: “São as graças que não me pedem e que quero derramar”. Essa é a imagem de Nossa Senhora das Graças, por isso, meus irmãos, precisamos pedir as graças para a Virgem.

Terceira verdade de fé

Maria sempre virgem. Santo Agostinho dizia que Maria era virgem antes do parto, durante o parto e depois do parto. Isso é um milagre de Deus na vida de Maria! Segundo a tradição, a mãe de Nossa Senhora, Santa Ana, era estéril. Para os judeus, isso era um sinal de maldição. São Joaquim e Santa Ana fizeram uma promessa de que, se eles tivessem um filho, consagrariam-no a Deus; então, aos três anos, Maria foi levada ao templo para ser consagrada ao Senhor.

Santo Agostinho disse que em Jesus tudo é diferente, para Aquele todas as coisas são excepcionais. Na vida de Jesus, tudo se dá de forma diferente.

Quarta verdade de fé

Nossa Senhora assunta ao céu: Papa Pio XII declarou que a Virgem Maria, a Mãe de Deus, Imaculada, ao término da sua vida terrena foi levada para o Céu de corpo e alma. A Igreja ensina que Maria é a única pessoa humana que foi levada para o Céu de corpo e alma.

João Paulo II disse que Nossa Senhora morreu, mas não teve uma morte traumática, pois não tinha pecado. Ela adormeceu e Deus a ressuscitou; então, ela foi levada para o Céu de corpo e alma.

Três razões para se ter uma imagem

Coloque imagem de Nossa Senhora, na sua casa, para você venerá-la. Uma imagem representa que a pessoa é santa, que fez a vontade de Deus na Terra, é um modelo de humildade, desprendimento, bondade, mansidão e oração. Assim, você imita a pessoa representada na imagem. A segunda representação da imagem é que, se é um santo, então a pessoa tem comunhão com Deus; por isso, pode interceder por nós. A terceira representação da imagem é que, quando você venera aquela pessoa, você está dando glória a Deus, porque aquela pessoa só se tornou santo por causa da graça do Senhor.

Nós não adoramos Maria, nós a veneramos. Portanto, meus irmãos, vamos pedir a intercessão de Nossa Senhora, vamos pedir que ela derrame as graças de Deus em nossas vidas.

Transcrição e adaptação: Fernanda Soares

Adquira essa pregação pelo telefone (12) 3186-2600



Prof. Felipe Aquino

Doutor em engenharia mecânica, pregador e escritor

Título Original: Maria a defensora do mundo


Site: Eventos Canção Nova
Editado por Henrique Guilhon

terça-feira, 24 de maio de 2016

A batalha de Lepanto, no mar da Grécia, em 1571, onde Maria se mostrou de fato a grande “Auxiliadora dos Cristãos”



Prof. Felipe Aquino

Saiba mais sobre um dos casos que se tornaram inesquecíveis na história da Igreja, marcado pela poderosíssima proteção de Nossa Senhora!

Somos o “Corpo de Cristo”, e Maria, Mãe de Cristo, logo é também a Mãe de seu Corpo que é a Igreja. É por essa razão que durante o Concílio Vaticano II o Papa Paulo VI declarou solenemente que: “Maria é Mãe da Igreja, isto é, Mãe de todo o povo cristão, tanto dos fiéis como dos Pastores” (discurso a 21 de novembro de 1964). Mais tarde, em 30 de junho de 1968, na Profissão de Fé, conhecida como o “Credo do Povo de Deus”, repetiu essa afirmação de forma ainda mais compromissiva:

“Nós acreditamos que a Santíssima Mãe de Deus, nova Eva, Mãe da Igreja, continua no Céu e sua missão maternal em relação aos membros de Cristo, cooperando no nascimento e desenvolvimento da vida divina nas almas dos remidos”. “O conhecimento da verdadeira doutrina católica sobre a Bem-aventurada Virgem Maria continuará sempre uma chave para a compreensão exata do mistério de Cristo e da Igreja”.

Para exemplificar a proteção poderosíssima de Nossa Senhora à Igreja, gostaria de citar um dos casos que se tornaram inesquecíveis na história da Igreja.


Um deles foi o da batalha de Lepanto, no mar da Grécia, em 1571, onde Maria se mostrou de fato a grande “Auxiliadora dos Cristãos”, título este que o Papa S. Pio V acrescentou na Ladainha Lauretana de Nossa Senhora, após a milagrosa vitória da esquadra cristã, organizada pelo Papa e comandada pelo Príncipe Dom João d’Áustria, sobre as forças muçulmanas, que ameaçavam invadir a Europa e escravizá-la ao Império Otomano.

São Pio V enviou para o Imperador uma bandeira, na qual estava bordada a imagem de Jesus crucificado. A preparação dos soldados consistiu em um tríduo de jejuns, orações e procissões, suplicando a Deus a graça da vitória, pois o inimigo não era apenas uma ameaça para a Igreja, mas também para a civilização. Tendo recebido a Santa Eucaristia, partiram para a batalha. No dia 7 de outubro de 1571, invocando o nome de Maria, Auxíliadora dos Cristãos, travaram dura batalha nas águas de Lepanto. Três horas de combate foram necessárias… A vitória coube aos cristãos, que ao grito de “Viva Maria”, hastearam a bandeira de Cristo.


O Papa mandou um cardeal benzer as armas dos soldados, pedindo que levassem o santo Rosário como a arma mais forte. Era uma guerra de legítima defesa da Europa invadida, depois que os turcos tomaram Constantinopla em 1453, e agora ameaçavam destruir o Ocidente cristão. Foi uma batalha decisiva. Os muçulmanos sempre tentaram, e ainda tentam destruir o cristianismo, e conquistar o mundo para Alá, pela força das armas, é a guerra santa: Jihad.

A Europa estremeceu, e estava em risco a civilização cristã e a religião católica, que custou tanto sangue dos mártires. S. Pio V implorou a proteção da Virgem Maria em favor do povo cristão, pedindo à Virgem que afastasse, de uma vez por todas, o perigo do islamismo ameaçador.

No dia 7 de outubro de 1571, na grande e temida batalha de Lepanto, na Grécia, os cristãos venceram definitivamente os turcos. As forças cristãs eram minoria, os turcos tinham cerca de trezentos barcos de guerra no mar da Grécia, mas, por ação de Nossa Senhora, milagrosamente, as forças turcas foram aniquiladas.

O Papa quis então demonstrar sua gratidão à Mãe da Igreja e dos homens, e mandou incluir na Ladainha a invocação, “Auxiliadora dos Cristãos, rogai por nós”.

A festa litúrgica de Nossa Senhora Auxiliadora, tão cara a D. Bosco, a quem ela apareceu em sonho na infância, veio com o Papa Pio VII, em 1816, depois de mais uma maravilhosa demonstração de carinho e proteção dela para com o Papa e a Igreja.

Napoleão era imperador da França e, por não ser atendido pelo Papa em seus desejos de grandeza que queriam subjugar a autoridade do Pontífice, mandou prendê-lo, submetendo-o a maus-tratos na prisão de Fontainebleau.

O Papa, sem nada poder fazer, recorreu à proteção de Nossa Senhora para não perder a coragem e não vacilar, prometendo-lhe, que, se saísse da prisão iria coroar a imagem de Nossa Senhora de Savona, por onde passara a caminho do cárcere.

Depois de um bom tempo Napoleão perdeu o trono, vencido nos campos de batalha, e foi feito prisioneiro na mesma prisão de Fontainebleau, onde mandara prender o Santo Padre. Ali assinou a rendição aos ingleses. Castigo de Deus.

O Papa pôde então sair da prisão; foi até Savona cumprir seu voto coroando a imagem de Nossa Senhora de Savona. Depois entrou em Roma, aplaudido pelo povo, carinhosamente. Em agradecimento a Maria, instituiu a festa de Nossa Senhora, fixando-lhe a data de 24 de maio, dia de sua entrada triunfal em Roma.

Esses fatos históricos, mostram que Maria não é apenas a protetora de cada um de nós, mas também da Santa Igreja que seu Filho lhe confiou aos pés da Cruz.

Prof. Felipe Aquino


Sobre Prof. Felipe AquinoO Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.

Título Original: Você conhece a história da Batalha de Lepanto?


Site: Cléofas
Editado por Henrique Guilhon

domingo, 22 de maio de 2016

Eruditos Católicos Modernos e o Episcopado Monárquico na Igreja Primitiva


Devemos ter sempre em mente que, principalmente nestes últimos tempos, satanás tenta atacar a Igreja de Cristo em sua orígem, e usa das mais diversas artemanhas e até pessoas intelectuais para tentar conseguir seus objetivos.

Henrique Guilhon
Apologistas Católicos

Em seus ataques ao episcopado monárquico, protestantes muitas vezes argumentam que a sua origem não é de instituição apostólica, mas um produto de evolução muito posterior a partir de meados do século II. É neste contexto que costumam citar os teólogos católicos para dar a impressão de que “Os eruditos católicos modernos” concordam com eles, e os que pensam de forma diferente, pensam porque eles não pertencem a academia. Isto, naturalmente, é nada mais do que uma mistura de falácia de autoridade e ad hominem, acompanhado por uma tendência questionável de tirar seletivamente uma evidência para acreditar no que pode se agarrar.

Um eco dessas opiniões, encontramos recentemente em um fórum Católico: 

"Muitos estudiosos católicos reconheceram que não existia monoepiscopado em Roma antes de 140-150 d.C”

“Querer ver um primado em uma época tão cedo quanto a primeira Epístola de Clemente é algo que já está ultrapassado pelos eruditos católicos contemporâneos. Em outras palavras, só os católicos que permaneceram com a visão pré-científica (ou seja, um século ou mais atrás) da história do cristianismo primitivo, insistem em ver em Clemente Romano um papa com as mesmas características essenciais dos Papas de hoje ou medievais.”

“Como disse na minha primeira intervenção, primeiro eu quero mostrar que aqueles que pretendem ver um primado não só de Roma, mas da pessoa de Clemente como uma espécie de bispo de bispos na primeira epístola que é conhecida pelo seu nome, é algo que só um determinado setor no catolicismo contemporâneo se atreve a dizer como verdade inquestionável. Isso ocorre fora dos círculos acadêmicos. Quase sempre entre os católicos que estão relacionados com a apologética.”

“A verdade é que eu acho que há entre os católicos que conheço uma grande ignorância do que seus estudiosos dizem. Meu primeiro objetivo é mostrar que a informação que geralmente se passam muito convenientemente em certos ambientes católicos, sem ser notado por muitos católicos que gostam de trocar ideias e argumentos sobre sua fé e tradição.”

“Meu objetivo é mostrar tão claramente quanto possível algo que é muitas vezes inexistente nesse intercâmbio de idéias em nosso contexto hispano-católico. Quero dizer a descoberta de que outro grande setor do catolicismo romano que é a academia e assim ignorados e às vezes até se torna denegrida no nosso contexto.”

“Eu repito, meu primeiro objetivo é mostrar que existe um abismo intransponível entre a erudição católica contemporânea e ideias apresentadas por alguns setores do catolicismo, geralmente ligados à apologética.”

É verdade que um número crescente de teólogos católicos têm abraçado a ideia de que o episcopado monárquico surgiu em meados do século II, no entanto, dizer que os pontos de vista divergentes existem “fora dos círculos acadêmicos” não pode ser qualificado, se não como ato monumental de ignorância, e que a concessão do benefício da dúvida que, deliberadamente, não está tomando citações seletivamente para generalizar, o que pode questionar seriamente sua honestidade intelectual.

Mas a pluralidade de opiniões sobre este ponto não é exatamente nova. A este respeito já explicava o historiador Alphonse Van Hove:

“Escritores católicos concordam em reconhecer a origem apostólica do episcopado, mas as opiniões estão divididas quanto ao significado dos termos que designam a hierarquia nos escritos do Novo Testamento e dos Padres Apostólicos. Pode-se até se perguntar se estes termos originalmente tinham um significado bem definido (Bruders, Die Verfassung der Kirche bis zum Jahre 175, Mainz, 1904). Não há maior unanimidade quando é feita uma tentativa para explicar por que algumas igrejas estão sem padres, outras sem bispos, e outras em que os chefes da comunidade são às vezes chamados de bispos, às vezes de sacerdotes. Esta discordância aumenta quando surge a questão da interpretação dos termos que designam outros personagens que exercem alguma autoridade fixa nas primeiras comunidades cristãs. Os seguintes fatos devem ser considerados como plenamente estabelecidos:
Até certo ponto, neste período inicial, as palavras bispo e sacerdote (“episkopos” e “presbyteros”) eram sinônimos. Estes termos podem designar ou sacerdotes simples (A. Michiels, Les origines de l'episcopado. Leuven, 1900, 218ff) ou bispos que possuíam os plenos poderes de sua ordem. (Batiffol Etudes d'histoire et de théologie positivo, Paris, 1902, 266 ff:.... Duchesne, Histoire ancienne de l'Église Paris 1906, 94.)

Em cada comunidade a autoridade pode ter originalmente pertencido ao colégio ou presbítero-bispos. Isso não significa que o episcopado, no sentido atual do termo pode ter sido plural, porque em todos os colégios da igreja ou presbítero-bispos não exercem um poder supremo independente; Estava sujeito aos apóstolos ou seus delegados. Estes últimos eram bispos, no sentido moderno do termo, mas não tinham sede fixa ou tinham um título especial (Batiffol, 270). Uma vez que eles eram essencialmente itinerantes, eles confiavam o cuidado das funções fixas necessárias relacionadas com a vida diária da comunidade para alguns dos neófitos melhor educados e mais respeitados.

Mais cedo ou mais tarde, os missionários tiveram de deixar as jovens comunidades sozinhas, a partir do qual a sua direção ficou completamente nas autoridades locais que receberam a sucessão apostólica.

Esta autoridade local maior, que era de origem apostólica, foi concedida a um bispo monárquico pelos Apóstolos, como o termo é entendido hoje. Isto se prova primeiro pelo exemplo de Jerusalém, onde Tiago, que não era um dos doze Apóstolos, ficou em primeiro lugar, e depois por aquelas comunidades da Ásia Menor de que fala Inácio, e onde, no início do segundo século existiu um episcopado monárquico, pois Inácio não escreve como se a instituição fosse uma novidade.

É verdade que em outras comunidades nenhuma menção do episcopado monárquico é feita até meados do século II. Nós não queremos rejeitar a opinião daqueles que acreditam que em muitos documentos do segundo século há vestígios de episcopado monárquico, ou seja, de um colégio de autoridade superior de presbítero-bispos. Razões muito plausíveis são alegadas por alguns autores para explicar por que, por exemplo, na Epístola de S. Policarpo não é mencionado o bispo. No entanto, a melhor evidência para a existência, nesta fase inicial do episcopado monárquico é o fato de que no final do segundo século não há nenhum vestígio de qualquer mudança na organização. Tal mudança teria tomado a autoridade do colégio de presbítero-bispos soberanos, e é quase impossível compreender como este corpo teria permitido ser privado da sua autoridade em todos os lugares, sem deixar em documentos contemporâneos a menor evidência de um protesto contra uma mudança importante. Se o episcopado monárquico só começou em meados do século II, é impossível compreender como o final do século II foram geralmente conhecidas e aceitas as listas episcopais de muitas dioceses importantes que remonta a sucessão de bispos até chegar ao primeiro século. Tal exemplo, foi o caso em Roma.

Deve-se observar cuidadosamente que esta teoria não contradiz textos históricos. De acordo com estes documentos, houve um colégio de padres ou bispos que administraram várias igrejas, mas não tinham um presidente que não era outro senão o bispo monárquico. Embora o poder deste último tivesse existido desde o início, tornou-se cada vez mais evidente. O papel desempenhado pelo “presbitério” ou corpo de sacerdotes, foi um muito importante nos primeiros dias da Igreja Cristã; no entanto, não exclui a existência de um episcopado monárquico. (Duchesne, 89-95)” . [1]

Abaixo eu ofereço algumas opiniões de teólogos e historiadores católicos (18 no total) sobre o episcopado monárquico, em sua maioria considerados verdadeiros “pesos pesados”. Isto serve isto para ilustrar que não só apologistas que pensam desta maneira, mas também estudiosos de quem não se pode duvidar em nenhum momento de sua preparação acadêmica.

DANIEL RUIZ BUENO

Padre, teólogo e historiador, conhecido por suas versões e obras patrísticas e filosóficas, foi proclamado por uma autoridade conhecida “como uma das pessoas mais bem treinadas para verter textos gregos para um elegante e fluente castelhano” (M.F Galiano, Emerita XVI [ 1948], p. 334).

Em relação às cartas de Inácio de Antioquia, refere-se a Inácio como bispo monárquico da Igreja de Antioquia:

“Quando Eusébio, no início do século IV, nomeia em sua História da Igreja (III, 36), um companheiro de Policarpo e Papias, discípulos dos Apóstolos, que o chama de “o famoso Inácio, celebrado pela maioria até o presente, que herdou o segundo lugar depois de Pedro no episcopado de Antioquia.” Exatamente e literalmente temos que repetir”.[2]

“A HIERARQUIA TRIPARTIDA"

A heresia abundava pelas Igrejas; o cisma- o espírito desordem e baderna - ameaçava transformá-las em seitas; Inácio pode comprovar em seu caminho. Aqui em Esmirna, são confirmados pelos pastores e líderes das Igrejas asiáticas. O remédio, diz ele com inigualável poder contra os grandes males é se aproximar mais e mais em torno da hierarquia de bispos, padres e diáconos, peça chave e parte essencial da constituição da Igreja; pois sem ele nem nome da Igreja há.

Já dissemos algo sobre isso. Adicionamos agora, o momento em que Inácio está rodeado por representantes da mesma hierarquia tripartida, exercidas por pessoas cujos nomes nos transmitem em todas as igrejas da Ásia, tem sido um dos obstáculos críticos ao apoio à autenticidade das cartas de Santo Inácio, porque com eles tem que engolir um episcopado monárquico e uma hierarquia bem definida no final do primeiro século, o que faz cair muitas teorias “valiosas”. Mas as teorias são teorias e textos são os textos. No entanto, os textos das cartas de Santo Inácio nos atestam com clareza absoluta e insistência repetitiva que cada Igreja incluindo Antioquia, Esmirna, Éfeso, Trália, Filafélfia - tem à sua cabeça de um ἐπίσκοπος, “prefeito, supervisor”, autoridade suprema na comunidade, que tem como dependendo e seu subordinado, um πρεσβυτέριον, escola de “anciãos”, que o auxilia como um “Senado” e um terceiro corpo de diáconos ou ministros.

Agora, o que há de novo nisto, tão solidamente atestado por toda a correspondência inaciana? A maior novidade e, sem dúvida, um mérito de San Inácio, é a precisão na terminologia, que foi hesitante e ambígua muito tempo e tem sido usada grande parte para confundir e rechaçar a questão das origens do episcopado.

A confusão primitiva e inegável dos termos intercambiáveis, “sacerdotes e epíscopos”, alcança um documento tão importante, neste contexto, quanto I Clemente e ainda se prolonga por muito tempo, e desaparece completamente em San Inácio. Mas confusão de termos não implica confusão de papéis e toda a tradição interpreta unanimemente os fatos, no sentido de que revelam as cartas de Santo Inácio. A Igreja de Jerusalém, de Antioquia, de Roma, aparecem uma vez que sobre elas existe uma tradição histórica, governadas por um único bispo assistido pelo seus presbitérios e diáconos. O caso de Roma é exemplar. I Clemente está escrito coletivamente de igreja a igreja, de Roma a Corinto; seu editor não faz distinção entre sacerdotes e epíscopo, mesmo assim, toda a tradição sabe que a carta da Igreja de Roma aos coríntios é trabalho de seu Bispo Clemente, que deixa memória duradoura para as gerações vindouras.

Mais tarde, em meados do século II, Hermas parece não conhecer senão o episcopado coletivo; no entanto, um documento de primeira ordem, o fragmento de Muratori, nos diz que o Pastor de Hermas foi escrito nuperrime temporibus Urbis Romae cathedra sedente nostris Pio episcopo eius Ecclesiae Fratre.

Santo Inácio claramente distingue os termos, mas não há qualquer vestígio em suas cartas que o regime do episcopado monárquico tenha sido imposto por uma espécie de revolução que teria-se que respeitar para o bem da Igreja. Nem se percebe a tentativa de justificar uma instituição disputada, cujas origens divinas, assim como o Bispo de Roma aos coríntios sediciosos, tem que recordar o desconhecido ou esquecido. É um fato que se justifica por si só, ser parte da consciência cristã; mas um fato é o bispo, outro fato é o colégio de “anciãos” ou presbíteros, outro os diáconos e uma subordinação verdadeira, tão bem expressa pelas imagens mais claras desses três níveis da hierarquia da Igreja. Este fato não é contestado por qualquer pessoa e não se trata de como proteger uma nova ordem e aponta-la apologeticamente; não é nada menos do que para manter intacta a fé recebida e pregada, e como um baluarte defendê-la de todas as heresias, estreitando a unidade e união à volta do Bispo, sacerdotes e diáconos; mas a esses - seus poderes, a sua posição preeminente e reitoral da Igreja, pelo menos em princípio, ninguém discute, mesmo assim, há quem, tendo sempre o nome do bispo na boca, faz tudo em suas costas.

A heresia ajudou para que a Igreja tivesse, diante do perigo, a mais viva consciência da sua constituição íntima e perceber onde levaria sua melhor defesa contra ela; outras vezes, para definir os termos que explicam um dogma; outras, para despertar uma possível letargia espiritual e expor sua degradação humana. Nestas várias maneiras, haereses oportet esse... Quando San Inácio insiste tão fortemente sobre a adesão à hierarquia contra aberrações heréticas, não é afirmar que ali reside o que Clemente de Roma já tinha chamado de “a regra sagrada da tradição” o depósito intacto da fé apostólica?.

Mas se a heresia avivou essa consciência, não podemos dizer de forma alguma que a criou e menos que deu origem a uma instituição que os textos mais explícitos fazem remontar aos primeiros dias da Igreja, na comunidade de Jerusalém.” [3 ]

Em relação ao Pastor de Hermas e o silêncio dos comentários sobre o episcopado monárquico:

“Hermas não menciona o episcopado monárquico; mais os que confiam neste silêncio para negar a sua existência em Roma em 140 d,C não d, mas Turner palavras: “É ridículo aceitar a data do livro, 140-145, dando fé ao cânon de Muratóri, que diz pastor Hermas escreveu quando seu irmão Pio foi bispo de Roma, e depois querer provar que até a data deste livro não havia bispo em Roma e Hermas particularmente não sentia necessidade dele.” [4]”, [5]

RAMÓN TREVIJANO

Ele é padre e doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, formou-se em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico, licenciou-se em História pela Universidade de Zaragoza e promoveu seus estudos em Bonn. Ele ensinou Novo Testamento e Patrologia no Seminário de Córdoba (Argentina), na Faculdade de Teologia de Buenos Aires, no Norte da Espanha (Burgos e Vitória) e desde 1978 na Universidade Pontifícia de Salamanca. Ele ensina Origens do Cristianismo, cartas apostólicas e Patrologia e é diretor da revista Salmaticensis.

Em relação as Epístolas de Santo Inácio de Antioquia explica:

“A unidade dos cristãos com Cristo se traduz pela unidade dos cristãos entre si, unidade da Igreja. Os hereges orgulhosos, que negam o dom de Deus, são também aqueles que estão separados da comunidade, do bispo e do altar. A Igreja no entanto, é a unidade de fé e de vida, comunidade de amor de Jesus Cristo e da Lei. Esta unidade é expressa em um corpo visível, promovido pela organização hierárquica necessária ao seu funcionamento. As cartas de Inácio são a primeira evidência da combinação e consolidação da hierarquia tripla: episcopado monárquico, presbiterato e diaconato:

“Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem os diáconos, como à lei de Deus. Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja. Por legítima seja tida tão-somente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja Católica. Sem o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape. Tudo, porém, o que ele aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja seguro e legítimo.”


Desde a concepção da Igreja como uma realidade espiritual com Deus ou Cristo como o bispo invisível, Inácio chega à justificação do episcopado monárquico, colocando o bispo como cabeça invisível, agindo como Deus ou Cristo. No ápice está o bispo, representante de Deus, cuja autoridade deriva da missão dos apóstolos; mas é principalmente imagem do Deus invisível. É um episcopado monárquico que dirige as comunidades. Mas nós vemos o bispo cercado por seus sacerdotes e diáconos. O bispo preside como um representante de Deus ou Jesus Cristo, os sacerdotes formam o senado apostólico, e diáconos são encarregados do serviço de Cristo” (Magn 6,1; Tral 2,1-3,2)”[6]

JOSÉ ORLANDIS

Ele foi para muitos anos professor de História do Direito na Universidade de Zaragosa. Na Universidade de Navarra, ele foi o primeiro decano da Faculdade de Direito Canônico e primeiro diretor do Instituto de História da Igreja. Ao longo de mais de meio século, desenvolveu-se ao lado de uma atividade acadêmica constante e intensa pesquisa histórica e criação. Ele escreveu mais duzentos trabalhos e mais de vinte livros relacionados com temas históricos.

Refuta todas as dúvidas sobre o episcopado monárquico de Pedro na Igreja de Roma e, como os seguintes bispos sucederam-lhe no seu ministério.

“Mas se a Igreja Romana é a Igreja de Pedro e Paulo – os dois Apóstolos mártires, Pedro foi o único bispo de Roma e a Sé Romana é a sede de Pedro e de seus sucessores na cadeira episcopal. Cristo conferiu a Pedro, o Primado da Igreja fundada por ele: a primazia que não deveria ser extinta com a sua vida, porque de acordo com os desígnios do fundador é um elemento essencial da estrutura da Igreja, e isso vai perdurar até o final dos tempos. Pedro morreu, e desapareceram com ele as prerrogativas pessoais inerentes ao seu estatuto de Apóstolo; a autoridade primacial e o ministério da unidade, portanto, herdam, sem interrupção, os bispos de Roma, seus sucessores na cadeira episcopal.”[7]

“Muitas igrejas do primeiro século foram fundadas pelos Apóstolos e, enquanto viveram, permaneceram sob a sua autoridade superior, liderada por um colégio de presbíteros que ordenavam sua vida litúrgica e disciplina. Este esquema pode ser testemunhado em especial nas igrejas paulinas fundadas pelo Apóstolo dos Gentios. Mas, como os Apóstolos desapareceram, tornou-se difundido por todas as partes o episcopado monárquico, que havia sido introduzido em um estágio inicial em outras igrejas locais. O bispo era o chefe da Igreja, pastor dos fiéis e, como sucessor dos Apóstolos, possuía a plenitude do sacerdócio e a energia necessária para o governo da comunidade.

A chave para a unidade das igrejas espalhadas por todo o mundo, que integradas em uma Igreja universal, foi a instituição do primado romano. Cristo, fundador da Igreja - tal como apontado em outros lugares, escolheu o apóstolo Pedro como a base sobre a qual iria assentar a Igreja. Mas o Primado conferido por Cristo a Pedro não era, de forma alguma, uma instituição efêmera e circunstancial destinada a morrer com a vida do Apóstolo. Era uma instituição permanente, promessa da continuidade da Igreja e válida até o fim dos tempos. Pedro foi o primeiro bispo de Roma, e seus sucessores na cátedra romana também foram seus sucessores e a prerrogativa do Primado, que conferiu à Igreja a constituição hierárquica, querida para sempre por Jesus Cristo. A Igreja Romana foi, portanto, e para sempre, o centro da unidade da Igreja universal.

O exercício do primado romano foi logicamente condicionado, ao longo dos séculos, pelas circunstâncias históricas. Em tempos de perseguição ou comunicações difíceis entre os povos, o exercício foi menos fácil e intenso do que em tempos mais propícios. Mas a história pode documentar, desde a primeira hora, tanto o reconhecimento pelas outras igrejas da preeminência que era para a Igreja Romana como a consequência de que os bispos de Roma tinham do seu primado sobre a Igreja universal”. [8]

JOHANNES QUASTEN

Padre, teólogo e um dos patrólogos contemporâneos mais eminentes. Ele estudou teologia católica na Universidade Wilhelms de Vestfália em Münster. Ele também foi professor de história antiga na Universidade Católica da América e, posteriormente, decano da Faculdade de Teologia da Universidade de Washington. Em 1960 ele recebeu o prêmio da Associação Teológica Católica da América por seu trabalho na esfera teológica e João XXIII nomeou-o membro da Pontifícia Comissão de Liturgia sagrada preparatória do Concílio Vaticano II.

Paulo VI o nomeou em 1964 Consultor Consilii ad exsequendam Constitutionem da sagrada liturgia. Ele também foi membro de várias comissões científicas: 1948 membro da Abt-Herwegen-Institut für Forschung Liturgiewissenschaftliche (Maria Laach), 1951 membro do conselho da Conferência Patrística da Universidade de Oxford, 1963 membro da Oxford Historical Society. Após sua aposentadoria em 1970, foi nomeado professor honorário da Faculdade de Teologia Católica na Universidade de Freiburg,

No primeiro volume de sua obra Patrologia Volume I (que é considerado um modelo para seu gênero), quando ele fala das cartas de Inácio de Antioquia diz que a rejeição que têm sido de parte dos protestantes, para inviabilizar suas objeções ao episcopado monárquico.

“A autenticidade das cartas foi, por um longo tempo, posta em dúvida pelos protestantes. De acordo com seu ponto de vista, seria improvável encontrar nos tempos de Trajano, o episcopado monárquico e uma hierarquia como bispos, sacerdotes e diáconos claramente organizados. Eles suspeitaram que as cartas de Inácio foram falsificadas precisamente com a intenção de criar a organização hierárquica. Mais tal engano é inimaginável. Após a brilhante defesa de sua autenticidade feita por J. B. Lightfoot, A. von Harnack, Th. Zahn e F. X. Funk hoje são geralmente aceitas como genuínas.” [9]

ENRIQUE MOLINÉ

É doutor em Teologia pela Universidade Lateranense (Roma) com uma tese sobre Tertuliano, e licenciado em Química e Filosofia pela Universidade de Barcelona. Ele é o autor de Els últims dos-cents anys de monestir Gerri (Garsineu, 1998) e muitos outros estudos de pesquisa histórica, alguns de extensão notável, aparecendo em revistas ou no processo de diferentes conferências. Ele também publicou o livro Os Sete Sacramentos (Ignatius Press, 1998), bem como vários panfletos populares sobre temas de teologia e história da igreja.

Referindo-se às cartas de Santo Inácio de Antioquia escreve:

“A hierarquia da Igreja, formada por bispos, sacerdotes e diáconos, com suas respectivas funções, aparece de forma tão clara em seus escritos, que esta foi uma das principais razões pelas quais se chegou a negar que as cartas eram autênticas por daqueles que pensavam que isso iria ter um desenvolvimento mais lento e gradual de organização na igreja; mas hoje essa autenticidade é incontestável.

O bispo representa Cristo; É o professor, quem está ligado a ele está unido a Cristo; É o sumo sacerdote e administra os sacramentos, de modo que sem ele não pode ser dado nem de batismo ou a Eucaristia, e até o casamento é conveniente que se celebre com o seu conhecimento.

Na saudação inicial da Carta aos Romanos, Inácio se excede e trata a Igreja de Roma de forma diferente do que trata as outras, com um elogio especial. O tom geral da saudação pode ser tomado como um testemunho do primado de Roma, ainda de maior interesse por vir do bispo da Sé de Antioquia, uma antiga sede, que apresenta S. Pedro como seu primeiro bispo, estabelecida em uma das maiores e mais influentes cidades do Império, que também foram chamou de cristãos os seguidores de Cristo. Algumas das suas frases, embora difíceis de interpretar, sublinha esta impressão: a Igreja “que preside na caridade” e cujo significado mais provável parece ser que é a Igreja que tem a autoridade para dirigir no que concerne a mensagem essencial de Cristo.”[10]

LUDWIG HERTLING

Sacerdote da Companhia de Jesus, celebre como historiador da Igreja.

Em sua História da Igreja, ele fala sobre o episcopado monárquico rejeitando as teorias dos “teóricos da evolução”:

“O episcopado monárquico.

Alguns críticos modernos têm se esforçado para intercalar entre os apóstolos e comunidades episcopais subsequentes um período de movimentos informes de massas, o que representa, portanto, um problema que se tornou clássico na teologia não-católico: como e quando o “episcopado monárquico emergiu”?

A intenção desta questão não pode ser mais clara: Cristo não fundou uma igreja, mas só forneceu uma doutrina, algumas ideias. É verdade que, com base em tais ideias desenvolveu-se o que chamamos de Igreja, mas tornou-se algo completamente diferente do que Cristo propôs. Acontece, porém, que tal teoria só é sustentável com o custo de substituir fontes por completo ou torcê-las para força-las a dizer algo diferente do que elas realmente dizem.

É difícil, em primeiro lugar, imaginar que uma massa amorfa conseguisse dotar-se de uma organização sem nela uma ação externa ter sido exercida, e ainda mais notar que tal “evolução” aconteça simultâneamente e nos mais diferentes lugares tendo resultados idênticos. Mas acima de tudo, carece totalmente de informações sobre a existência de tais comunidades não organizadas. Nenhum fonte permite descobrir o menor vestígio de grupos regidos por uma faculdade ou aliança sem uma liderança “monárquica”, que demonstre a fase de transição postulada pelos teóricos evolucionistas.

Por outro lado, encontramos em todos os lugares comunidades dotadas de um vértice hierárquico. Nas cartas de Santo Inácio de Antioquia, no início do segundo século, em cada comunidade aparece um bispo, assistido por padres e diáconos. E pouco antes do fim do primeiro século, temos São Clemente de Roma, em sua carta aos Coríntios que adota a tal ponto um tom de bispo “monárquico” que muitos críticos atribuem-lhe o estabelecimento deste ofício. Ele nunca fez tal coisa, porque no Apocalipse, provavelmente escrito por volta do ano 100, encontramos presidentes locais de Pérgamo, Tiatira, etc. designado pelo nome de “anjos das igrejas”, e eles era sem duvida alguma, pessoas individuais, não colégios.

Nós também temos a lista dos primeiros bispos das principais igrejas como Roma, Antioquia, Alexandria, todos os quais remontam aos próprios apóstolos. Elas foram elaboradas com precisão, desde meados do século II, para dar a garantia de que a sucessão dos Apóstolos não tinha sido interrompida. É verdade que formulam suspeitas de que os nomes mais antigos de tais listas não correspondem aos chefes hierárquicos, mas simples “testemunhas da tradição”. Mas o que isso significa? Os primeiros escritores ao fazerem uso deles, Irineu e outros, em qualquer caso considerava-os como bispos. O fato de terem que formulas hipóteses como estas, é uma prova conclusiva de como infundada é a teoria do surgimento gradual de episcopado monárquico.

Uma questão distinta, embora de importância secundária, é se todos os presidentes locais, e desde o início, ou mesmo aqueles nomeados por Paulo e Barnabé em Listra, Derbe, etc., possuíam a ordem episcopal, e se cada comunidades eram eles os únicos a terem recebido este grau. Os títulos não permitem concluir nada de concreto. Paulo usa os termos como sinônimos “presbítero” e “episcopos". Santo Inácio distingue entre eles, mas ainda Irineu fala de sacerdotes, por vezes, referindo-se a bispos. O mais plausível é que os apóstolos, quando consagravam novos ministros pela imposição das mãos, lhes conferiam a princípio a plenitude da Ordem. Só mais tarde ele devem ter instituído a prática de fixação de baixos graus no sacramento ou não transmitiam toda a ordem, mas apenas na medida em que o trabalho dado exigia. Isto explica, por exemplo, a informação, cujo testemunho pode ser rastreado até ao século II, que São Clemente foi consagrado pelo Apóstolo Pedro, ainda que, como bispo de Roma, ficou em terceiro lugar na lista de sucessores; bem como o costume perpetuado em Alexandria até o final da II o novo bispo foi consagrado, não por um bispo vizinho como foi feito em outros lugares, mas pelos anciãos do século cidade. Daí segue-se que, em Alexandria, onde de outra forma se manteve em vigor muitas outras práticas antigas, mesmo no final do século segundo todos os sacerdotes, ou pelo menos alguns deles tinham recebido consagração episcopal. Mas isso não tem nada a ver com o episcopado monárquico. Existem ainda grandes dioceses em que, juntamente com o bispo, os sacerdotes têm a dignidade episcopal. Nos tempos antigos, como hoje, as comunidades sempre tiveram uma única cabeça”. [11]

BERNARDINO LLORCA

Doutor em Ciências Históricas e professor de História da Igreja e Arqueologia Cristã da Universidade Pontifícia de Salamanca.

Em seu trabalho Manual de História Eclesiástica rejeita categoricamente a hipótese do desenvolvimento tardio do episcopado monárquico:

“É uma questão de grande importância saber se o cristianismo foi desde o início organizado perfeita hierarquia. Protestantes e outros críticos liberais negam; Eles dizem, no entanto, que a introdução da hierarquia aconteceu após a era Apostólica por desenvolvimento dos acontecimentos; porque no começo, segundo eles, não havia distinção entre clérigos e leigos, não havia episcopado monárquico nem muito menos primado romano; quem exercia administração eram os Apóstolos e missionários dotado de carismas. Toda esta concepção é falsa e tendenciosa. Bem, além de que é inconcebível que os cristãos como amigos da tradição, deixassem ser introduzido no segundo século uma hierarquia; que não tinha existido no início, temos documentos suficientes para provar que a hierarquia cristã existiu desde o início, embora de uma forma mais primitiva, que foi desenvolvida de forma gradual.

A hierarquia cristã em seus princípios.

No princípio, a liderança da Igreja estava nas mãos dos Apóstolos, ao lado dos quais haviam profetas, dotados de carismas, médicos e professores, que foram nomeados para ajudar os Apóstolos e completar a instrução dos fiéis. O título de Apóstolo receberam, além dos doze, outros missionários dedicados à pregação. Além disso, também vemos o conselho de bispos, padres e diáconos, todos eles responsáveis pela direção.

Assim, parece, acima de tudo em Jerusalém. Quando a comunidade cristã, liderada por os doze, foi aumentada significativamente, eles se associaram aos sete diáconos, e não muito depois ao conselho presbiteral, que já participou do Concílio do ano 50. Mais tarde, depois da dispersão dos Apóstolos, São Tiago o “irmão do Senhor” aparece, como autoridade monárquica em Jerusalém, enquanto os sacerdotes continuaram a exercer as suas funções subordinadas. Então Simão, sucede São Tiago na liderança monárquica da Igreja. Portanto distingue-se claramente três graus: episcopado, presbiterato e diaconato.

O mesmo vemos nas igrejas organizadas pelos Apóstolos, e particularmente por São Paulo. Desde sua primeira viagem apostólica, estabeleceu nas igrejas que ele fundou os presbíteros para governa-las. Todas estas comunidades cristãs estavam sob sua direção; mas quando elas aumentavam significativamente, ele deixou no lugar, como superiores e bispos, seus fiéis discípulos, Timóteo em Éfeso e Tito em Creta. A instituição dos diáconos também aparece nas cartas pastorais do Apóstolo. Igualmente evidente a partir de vários documentos que São João estabeleceu na Ásia Menor, vários bispos de muitas outras igrejas, como São Policarpo de Esmirna.

Também nos escritos dos Padres Apostólicos, que receberam imediatamente a herança dos Apóstolos, a existência da hierarquia da Igreja aparece claramente. Em meados do século II, encontramos muitos casos de bispos monárquicos a frente de suas respectivas igrejas não só em Roma e Antioquia, mas em Alexandria, Esmirna, Éfeso, Corinto, Lião, Atenas, etc., e em nenhum lugar encontraram qualquer protesto contra a suposta contestação do colégio sacerdotal a uma autoridade monárquica.” [12]

JOSEPH LORTZ

Sacerdote e renomado historiador da Igreja Católica autor de vários livros.

No Volume I de sua História da Igreja, ele sustenta que desde tempos remotos, cada igreja tinha um episcopado monárquico, evidências encontradas nas cartas de Santo Inácio e S. Policarpo:

“Na Ásia Menor, é onde podemos melhor acompanhar a gênese do ministério episcopal. As cartas de Santo Inácio de Antioquia (§ 12), contêm já o dizer: “Quem quer que se opõe a ele (o bispo), se opõe a Deus”; “Onde está o bispo está a comunidade, bem como onde está Cristo, está a Igreja Católica”. Com esta carta e aquelas de Policarpo sabemos que, no final do século já se tinham separados os ministérios do bispo e sacerdotes; o primeiro nome foi reservado para o chefe da comunidade: o bispo. Sacerdotes se tornaram seus assistentes. Nós já vemos uma ordem hierárquica que culmina com o bispo (imagem do pai), acima do padre e diáconos.

O bispo era quem convocava todo o clero e deu-lhes o ministério. Toda a vida da comunidade (batismo, penitência, serviço divino, exclusão e reintegração, ou seja, a educação, a ordem na comunidade e na vida litúrgica e sacramental) estava sob sua direção (= “cura de almas”). “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue.” (Atos 20, 28).

Desde os primeiros tempos cada comunidade tinha seu bispo. Comunidades cristãs dirigidas apenas por sacerdotes (que hoje chamamos de freguesias), não temos notícias, apenas a partir do terceiro século em Roma; Só desde então que os presbíteros adquirem uma maior importância. Este desenvolvimento está intimamente relacionado com a luta contra o gnosticismo, contra a qual a Igreja reagiu com uma unidade muito mais clara, fixando mais precisamente os artigos de fé, selecionando e monitorando mais de perto os novos candidatos (desde então começou a ser decisiva a disciplina do arcano)”. [13]

MICHAEL SCHMAUS

Padre alemão e teólogo. Ele ensinou teologia em universidades católicas e escreveu incontáveis livros. Foi professor de Joseph Ratzinger, agora Bento XVI. Especializou-se em teologia dogmática também foi perito no Concílio Vaticano II.

Ele rejeita a hipótese de que o episcopado monárquico é o produto de uma evolução na qual algumas personalidades subiam acima do presbitério. Ele argumenta que isto foi instituído pelos apóstolos, e, portanto, de direito divino.

“A posição do bispo monárquico testemunhado por Santo Inácio, das comunidades da Ásia Menor e Santo Irineu de toda a Igreja, não pode ser considerada como um resultado de uma evolução em que algumas personalidades fortes tinha subido acima do presbitério. Mas remonta, como demonstramos as Epístolas Paulinas, uma disposição do próprio Apóstolo. Muitas vezes desempenham um importante papel as necessidades que envolvia a missão do campo em torno da cidade. Quando surgiam comunidades perto de grandes cidades locais, eles surgiram primeiro sob a direção de portador de ofícios da cidade. No entanto, logo necessitaram de encarregados eclesiásticos, que tinha o deve do serviço litúrgico. Eles eram enviados pelo Colégio dos Bispos-sacerdotes de suas próprias fileiras, com mandatos e poderes específicos limitados a tais lugares. E assim se pode, certamente, dizer que o sacerdócio como um ofício independente “não nasceu pela concentração, mas pela diferenciação, como resultado da consolidação das comunidades individuais e suas necessidades internas”. (A. Erhard, Die katholische Kirche, I, 1 (1935), 211). Há de se atribuir à Igreja a autorização e poderes - transmitidos a ela por Cristo - para a plenitude do poder universal que a compete, desagregar como instituições independentes alguns poderes parciais claramente definidos (presbítero). A descrição por São Paulo na Epístola a Tito e em primeira Timóteo testemunham a sua potência máxima. A divisão em três, é, portanto, direito divino”. [14]

Diz que, em algumas comunidades relativamente pequenas (como Felipo) no início houve um episcopado monárquico [15], as diferenças de outras em que os próprios apóstolos instituíram. Coloca como um exemplo de bispos monárquicos Timóteo e Tito.

“A imposição de mãos do sacerdote, que era feito na época, tinha obviamente, o caráter de consentimento e corroboração. Timóteo era o condutor monárquico de uma comunidade. Em torno dele se agrupava o colégio dos presbíteros. O processo descrito na primeira Epístola a Timóteo, foi criador da forma de ordenar para o serviço da comunidade.” [16]

“E assim, no final da era apostólica, encontramos o bispo monárquico. Como tal, são atestados Timóteo em Éfeso e Tito em Creta.Timóteo tinha sido ganho à fé por São Paulo. O Apóstolo levou-o em sua companhia em sua segunda viagem missionária. Lhe confiou tarefas importantes. Em seus últimos anos, depois de sua primeira prisão em Roma, em uma viagem missionária através do Oriente, ou seja, por volta do ano 64, Paulo deixou-o em Éfeso como seu representante. O Apóstolo escreve ao seu discípulo: “Torno a lembrar-te a recomendação que te dei, quando parti para a Macedônia: devias permanecer em Éfeso para impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes, e a preocupar-se com fábulas e genealogias. Essas coisas, em vez de promoverem a obra de Deus, que se baseia na fé, só servem para ocasionar disputas.” (Tim. 1, 3-4). Pouco antes de sua morte, Paulo sente saudades de Timóteo e pede-lhe para ir a Roma para vê-lo (II Tim. 4, 11). Mais tarde Timóteo voltaria a Éfeso como bispo. Eusébio (História da Igreja 3, 4, 5) chamou o de primeiro bispo de Éfeso.

Tito aparece ao lado do Apóstolo Paulo na viagem de Antioquia para o “Concílio dos Apóstolos”, em Jerusalém. O Apóstolo também lhe entrega difíceis missões de confiança. Mais tarde, ele deixou-o em Creta, onde devia de atuar como Timóteo em Éfeso (Tt 1, 5.)” [17]

GEORGE HAYWARD JOYCE

Filósofo, escritor e teólogo prolífico da Companhia de Jesus, professor no Heythrop College, em Oxford. Ele estudou na Universidade de Oxford e foi ordenado pastor anglicano. Ele se converteu ao catolicismo e fez filosofia no Saint Mary Hall, Stonyhurst e Teologia no St. Bruno. Ele também foi professor de teologia dogmática. Suas obras Catholic Doctrine of Grace e Christian Marriage fizeram muito sucesso.

Ele argumenta que o episcopado monárquico foi instituído pelos apóstolos, instituição, portanto, divina. Coloca como exemplos de bispos monárquicos São Tiago, Tito e Timóteo, entre outros também os “anjos” que dirigem as casta das sete igrejas que são abordados no apocalipse.

“Queria ponderar aqui se o chamado “episcopado monárquico” foi instituído pelos Apóstolos. Além de estabelecer um colégio de presbítero-bispos, eles puseram um homem na posição de supremacia, confiando o governo da Igreja, e dotando-o de autoridade apostólica sobre a comunidade cristã? Mesmo se levarmos em conta a evidência da Escritura somente, há base suficiente para responder a essa pergunta afirmativamente. A partir do momento da dispersão dos Apóstolos, Tiago aparece em uma relação episcopal com a Igreja de Jerusalém (Atos 12, 17, 15,13,. Gal 2:12). Em outras comunidades cristãs a instituição de bispos “monarquistas” foi um desenvolvimento um pouco mais tardio. No começo os próprios Apóstolos comandavam, aparentemente, todas as tarefas de vigilância supremas. Eles estabeleceram o ofício quando demandavam as crescentes necessidades da Igreja. Epístolas Pastorais não deixam margem para dúvidas de que Timóteo e Tito foram enviados como bispos de Éfeso e de Creta, respectivamente. A Timóteo foi concedido poderes apostólicos completos. Apesar de sua juventude tem autoridade sobre ambos os clérigos e leigos. Para ele, a tarefa de guardar a pureza da fé da Igreja, para ordenar sacerdotes de exercer a sua jurisdição. Além disso, a exortação a ele de São Paulo “conserve o mandamento sem mácula, irrepreensível, até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” mostra que não é uma missão temporária. Tal pedido expresso inclui no seu âmbito não só Timóteo, mas seus sucessores em uma posição que vai durar até a Segunda Vinda. A tradição local, sem dúvida, o reconheceu entre os ocupantes da sede episcopal. No Concílio de Calcedônia, a Igreja de Éfeso teve uma sucessão de vinte de sete bispos começa com Timóteo (Mansi, VII, 293; cf. Eusebio, Hist. Eccl., II, iv,v). 

Estes não são as únicas evidências que o Novo Testamento fornece para o episcopado monárquico. Em Apocalipse os “anjos” a quem as cartas das sete igrejas se dirigirem são quase certamente aos bispos das respectivas comunidades. Alguns comentaristas, de fato, têm argumentado que eles eram personificações das próprias comunidades. Mas esta explicação dificilmente pode se sustentar. São João, em toda parte refere-se ao anjo responsável pela comunidade precisamente como se se referisse a seu governante. Além disso, o simbolismo do Capítulo 1, os dois são representados em imagens diferentes: os anjos são as estrelas na mão direita do Filho do Homem; os sete castiçais são a imagem representativa das comunidades. O termo anjo deve ser notado, é praticamente sinônimo de apóstolo, e tão bem escolhido para designar o gabinete episcopal. De novo as mensagens para Arquipo (Cl, 4, 17, Filemon 2) implica que ele tinha uma posição de dignidade especial, superior à de outros sacerdotes. Sua menção em uma carta referindo-se inteiramente a uma questão totalmente privada, como é a de Filemon, é dificilmente explicável a menos que ele fosse o chefe oficial da Igreja de Colosso. Temos, portanto, quatro importantes indícios da existência de um cargo nas igrejas locais, ocupados por uma única pessoa, e carregando da autoridade apostólica. Nenhuma dificuldade pode levar ao fato de que até agora nenhum título especial distingue estes sucessores dos apóstolos dos sacerdotes comuns. É da natureza das coisas que o ofício existia antes de ser lhe atribuído um título. O nome de um apóstolo, como vimos, não se limitava aos Doze. São Pedro (I Pedro 5, 1) e San Juan (II e III, João 1, 1) tanto falam de si próprios como “sacerdotes”. São Paulo fala do Apostolado como uma diakonia. Um caso paralelo na história eclesiástica posterior é oferecido pela palavra papa. Este título não é atribuído ao uso exclusivo da Santa Sé até o século XI. Embora ninguém argumenta que o supremo pontificado do bispo de Roma não foi reconhecido até então. Não é de estranhar que a terminologia precisa, que distingue bispos, no verdadeiro sentido, dos presbítero, não é encontrada no Novo Testamento.

“A conclusão é colocada acima de qualquer dúvida razoável, pelo testemunho da era pós-apostólica. Isto é tão importante em relação à questão do episcopado que é completamente impossível de ignorar. Bastará, no entanto, referir-se as provas contidas nas Epístolas de Santo Inácio, bispo de Antioquia, um discípulo dos Apóstolos. Nessas epístolas (cerca de 107d.C) várias vezes afirma que a supremacia do bispo é de instituição divina e pertence à constituição apostólica da Igreja. Ele vai tão longe e afirma que o bispo está no lugar do próprio Cristo. “Quando obedeces ao bispo obedece a Jesus Cristo", escreve aos Tralianos: “... me dais a impressão de não viverdes segundo os homens, mas segundo Jesus Cristo, que morreu por nós para fugirdes à morte pela confiança na morte d’Ele. É mesmo necessário, como alias e de vosso feitio, nada empreender sem o bispo, mas submeter-vos também ao presbitério como a apóstolos de Jesus Cristo” (ad Trall., n.2). Aliás nos diz que bispos são encontrados na Igreja, mesmo em “lugares mais remotos do mundo” (ad. Ephes., N.3). Está fora de questão que alguém que viveu em um período pouco distante da era Apostólica poderia ter proclamado esta doutrina em termos tais como aqueles usou, se os bispos não fossem universalmente reconhecidos como de criação divina. Foi visto que Cristo não só criou o episcopado nas pessoas dos Doze, mas, além disso, criou em São Pedro, o ofício de pastor supremo da Igreja. A História cristã primitiva nos diz que antes de sua morte, passou a residir em Roma, e ali governou a Igreja como seu bispo. É em Roma que ele data sua primeira epístola, falando da cidade sob o nome de Babilônia, uma designação que São João também dá no Apocalipse (cap. 18). Em Roma, também, ele sofreu o martírio em companhia de São Paulo, no ano de 67. A lista de seus sucessores na Sé é conhecida, de Lino, Anacleto, e Clemente, que foram os primeiros a sucedê-lo, como pontífice reinante. A Igreja sempre viu no ocupante da Sé de Roma o sucessor de Pedro no supremo múnus pastoral. (Ver Papa.)

A evidência até agora considerada parece demonstrar além de qualquer dúvida que a organização hierárquica da Igreja era, nos seus elementos essenciais, trabalho dos próprios Apóstolos; e que a esta hierarquia transmitiu a missão confiada a eles para governar o reino de Deus e ensinar a doutrina revelada. Estas conclusões estão longe de serem admitidas por protestantes e outros críticos.” [18]

HENRI DE LUBAC

Sacerdote e teólogo francês da companhia de Jesus. Foi considerado um dos teólogos mais influentes do século XX. Também influenciou sobremaneira na teologia do Concílio Vaticano II. Ensinou teóloga fundamental e história das religiões na Faculdade de Teologia da Universidade de Lyon-Fourviere. Participou como perito no Concílio Vaticano II, e posteriormente João Paulo II o ordenou cardeal em 1983.

Sustenta também que o episcopado monárquico provém dos apóstolos, e enfatiza que não há evidencia história alguma que permita supor que sua instituição foi disputada de maneira alguma:

“A história das primeiras gerações cristãs está cheia de sombras. São escassos os documentos que nos fornecem informação em relação à situação das igrejas até final do primeiro século e começo do segundo, em todas as partes se observa a existência de homens exercendo o ofício de bispos com plena consciência de sua origem apostólica, e que combinada a presidência em sua própria igreja e uma preocupação ativa pelas outras igrejas. Ninguém sente necessidade de justificar esta situação com argumento algum. E em nenhuma parte, seja nos períodos mais antigos ou durante muito tempo depois de nenhum modo há a menor pegada perceptível de que este estado fosse disputado”[19]

JESÚS ÁLVAREZ GÓMEZ

O missionário claretiano, doutor em História da Igreja pela Universidade Gregoriana (Roma) e profesor de Arqueologia cristã na Faculdade de Teologia “São Damaso” de Madrid. Entre suas numerosas publicações, cabe destacar “História da Igreja, I. Idade Antiga”.

Explica em relação ao episcopado monárquico:

A hierarquia ministerial: bispos, presbíteros e diáconos

Nas cartas de Santo Inácio de Antioquia aparece já a figura do bispo monárquico a frente das comunidades cristãs como garantia de sua unidade; mas o bispo está rodeado do conselho dos presbíteros e diáconos. Esta “triple hierarquia”: bispo, presbíteros e diáconos, é a que se estabeleceu desde então de um modo permanente na Igreja Católica. Mas, posto que Santo Inácio de Antioquia não pretende introduzir nenhuma inovação, haverá de se concluir que essa triple hierárquica já estava admitida uns decenios antes, pelo menos nas comunidades da Síria.”[20]

Reconhece Clemente Romano como bispo monárquico de Roma, cuja jurisdição universal já se evidenciava na era pós apostólica:

“Os primeiros indícios não só de estima, mas também de exercício de uma certa autoridade da Igreja romana no âmbito da Igreja universal, remontam-se à era imediatamente pós apostólica:

— Epístola de Clemente Romano à Igreja de Corinto. É o primeiro caso de um recurso elevado por uma Igreja, nada menos que de fundação paulina, à Igreja de Roma; a intervenção do bispo de Roma foi bem recebida; ainda pelo ao final do século II perdurava em Corinto o costume de ler a carta de Clemente Romano na assembléia litúrgica do domingo, e inclusive transcendeu a Igreja de Corinto, porque Clemente de Alexandria, ao final do próprio século II, considerava essa carta como uma “escritura santa”. E a princípios do século IV, Eusébio era testemunha de que ainda se lia em muitas igrejas.

— A controvérsia pascoal. Esta controvérsia demonstra que, na segunda metade do século II, o bispo de Roma exercida já de um modo confiável sua autoridade primada sobre outras igrejas. A questão de que se abordava era a seguinte: As Igreja da Ásia celebravam a Festa de Páscoa no dia 14 de Nisa, embora não caísse no domingo; daqui o apelativo ‘quartodecimanos” com que eram conhecidos; por outro lado na Igreja romana, por instituição do Papa Pio I (141-155), teria-se de celebrar sempre em Domingo, o domingo seguinte ao 14 do Nisá.

Embora possa parecer que esta questão carecia de relevância, contudo, era algo importante, porque da seta na qual se celebra a Páscoa dependia a ordenação de todo o ciclo litúrgico, e além disso, era um sinal bem claro da comunhão entre todas as Igrejas do mundo”[21]

FRANCO PIERINI

Sacerdote e doutor de história da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e está especializado em história antiga. Colabora com numerosas revistas entre elas Famiglia cristiana y Jesús.

Em seu Tomo I do Curso de história da Igreja trata a constituição da Igreja nos séculos I e II. Reproduzirei alguns extratos interessantes, onde se claramente sustenta que algumas igrejas contavam com um colégio de presbíteros como forma de governo, aquelas que contavam com bispos instituídos pelos apóstolos como seus sucessos contavam com um bispo que as governava :

“Mas, acima de tudo,[referindo-se aos apóstolos] desça-se Simão, a quem Jesus dá o sobrenome de Cefas, isto é, pedra (daí Pedro), pondo-o como cabeça do grupo apostólico e estabelecendo-o como fundamento da Igreja nascente...

.. Encontramos outros numerosos apóstolos e evangelistas como Barnabé e Lucas, que trabalham ao lado dos doze e de Paulo, ajudados por sua vez por diáconos e diaconisas, profetas, doutores e distintos tipos de colaboradores, todos os quais vão sendo progressivamente substituídos ou o largo dos dois primeiros séculos, por presbíteros, bispos e outros chefes das comunidades cristãs...

…[Referindo-se à vida cotidiana dos cristãos do século II]

…As comunidades estão regidas pelos bispos, especialmente nos lugares onde os apóstolos deixaram sucessores diretos [como é o caso de Jerusalém, Antioquia, Roma, Alexandria ou Corinto]. Em outras comunidades segue vigente um governo de tipo colegial, o presbitério, semelhante ao das comunidades judias, mas destinado a ser substituído pelo chamado episcopado monárquico”[22]

AUGUST FRANZEN

Catedrático de História medieval e moderna da Igreja na Universidade Albert Ludwing, de Friburgo de Brisgovia.

Do mesmo modo que outros teólogos e historiadores, distingue entre o lento desenvolvimento do primado de sua essência, que não nega. Sustenta que as comunidades eram governadas pelos bispos, os quais mesmo promovendo do colégio de presbíteros exerciam funções de chefia e direção. Afirma, contudo que em algumas comunidades locais existiam vários bispos-presbíteros que finalmente optaram também pelo modelo do episcopado monárquico.

Não era o caso do bispo de Roma que segundo as listas episcopais tinham uma posição singular, pois podia por meio das listas episcopais demonstrar que sua sucessão apostólica remontava diretamente a Pedro.

“No governo normal da Igreja, os carismas estiveram, portanto, subordinados sempre ao ministério. Com o passo do tempo, a direção das comunidades se concentrou cada vez mais em mãos dos bispos e diáconos. Os bispos provinham do colégio dos presbíteros, no que desenvolveram funções diretivas como chefes e inspetores (episkopos). Em algumas comunidades locais encontramos, no primeiro momento, vários bispos-presbíteros; mas depois e não mais tarde do século II, o episcopado monárquico se difundiu por todas partes. Nesta tendência até o vértice monárquico que se manifestou logo nas comunidades particulares se viu com razão o nascimento do princípio do primado, que se expressará mais tarde na Igreja universal (Heinrich Schlier, f 1978)”[23]

“Em particular, o bispo desta cidade [Roma] adquiriu uma posição única, com base no fato de que, de acordo com as listas episcopais, podia mostrar que a sua sucessão apostólica que remonta diretamente para Pedro. No entanto, isso significava que o património da revelação, transmitida por Cristo e os apóstolos, era conservado de modo mais seguro e mais puro pelo bispo de Roma, por isso, uma vez que a continuidade direta com os apóstolos e a Igreja primitiva era a melhor garantia da pureza da fé. O Bispo romano gozava da autoridade para ensinar. Já no segundo e terceiro séculos, hereges costumava vir a Roma para se justificar; assim o fez Marcião em 139, e Montano e os principais expoentes do gnosticismo.

Também os defende da reta fé procuravam e encontravam apoio em Roma como Atanásio, em 339/340. Este primado da Sé Romana não impediu que o centro de gravidade da obra teológica se mantivesse sempre no Oriente, onde os grandes concílios também ocorreram. Nem sempre o reflexo de teólogos coincide exatamente com o Magistério da Igreja, o único que deve decidir se a opinião teológica está contida na tradição apostólica e pertence ao património da fé revelada.

Também nas questões de direito e disciplina o bispo de Roma desde muito cedo gozou de uma autoridade singular. Um primeiro de dado de sua supremacia já se pode observar na Primeira Carta de Clemente (cerca de 96 d.C), que fala da solução de um conflito que surgiu na comunidade de Corinto. A intervenção do Papa Victor (189-199) na controvérsia sobre a data da Páscoa e as controvérsias do Papa Estevão I (254-257) com Cipriano, sobre a questão do batismo administrado por hereges, marcou novos estágios de desenvolvimento da autoridade do sucessor de Pedro. Nada se permite afirmar que já nestes acontecimentos se manifeste uma reinvindicação de um verdadeiro primado de jurisdição.

Mas desde que esta primazia, como todas as coisas históricas, teve uma evolução lenta antes de alcançar seu pleno desenvolvimento, não deve ser menosprezada as fases anteriores.” [24]

É um exemplo que pode ilustrar como alguns historiadores acreditam que, embora algumas comunidades locais não tinham um episcopado monárquico, o que não é o caso das principais igrejas da cristandade (Roma está incluída), mas reconhecem a evidência fornecida pelas cartas de Inácio de Antioquia, que rejeitam teorias evolutivas envolvendo um episcopado monárquico desenvolvido em meados do final do século II. Ele mencionou, a este respeito o caso de

“Todos os seus escritos [referindo-se as cartas de Inácio de Antioquia] abundam em edificantes pensamentos e, do ponto de vista histórico, atestam que, naquela época, o episcopado monárquico havia sido imposto em regiões onde ele exerceu seu ministério. Um único bispo a frente das comunidades, e Inácio exorta-as com estas palavras: “Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem os diáconos, como à lei de Deus. Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja. Por legítima seja tida tão-somente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja Católica. “ (Carta aos Cristãos de Esmirna 8.1). Inácio já desenvolve uma teologia do episcopado, em que ele vê encarnada a unidade da Igreja: Cristo, o bispo e a Igreja são uma só coisa.

Em sua Carta aos Romanos, Inácio atribuiu inequivocamente à Igreja de Roma uma posição única e não se limita a exaltar sua atividade caritativa, mas a louva - em relação óbvia com a Carta de Clemente, que indubitavelmente conhecia, sua firmeza na fé e doutrina, de modo que “ se percebe claramente a particular autoridade e a efetiva primazia da comunidade romana.” (Altaner, Patrologie [Patrologia], 86). Seu irmão, o Bispo Policarpo, que o acompanhou em Esmirna, lembrou-o em Tróade de seu dever pastoral e encoraja-o a permanecer firme durante a perseguição dos cristãos, como uma bigorna sob o martelo. De Policarpo, bispo de Esmirna, que em sua juventude tinha ouvido pessoalmente o ensino do apóstolo João e que tinha sido nomeado bispo por ele, se conserva uma Carta aos Filipenses.” [25]

PHILIP HUGHES

Historiador e teólogo, escritor de vários livros.

Ele explica que a constituição da Igreja primitiva no final do primeiro século consistiu em tripla gradação: bispo, presbíteros e diáconos, antes dessa data, pode ser provável que as igrejas eram governadas por um colégio de bispos, sob a supervisão dos apóstolos.

“A vida dos primeiros cristãos

Até agora, temos nos referido a um aspecto particular do cristianismo primitivo, a vida de pensadores ou cristãos “intelectuais”. E o crente comum? Infelizmente, não há detalhes de sua história fossem preservados para nós. Nós não possuímos qualquer diário privado dos primeiros cristãos, e somos forçados a reconstruir a sua vida religiosa diária, com os dados de que a literatura pode nos oferecer.

A Igreja, desde a sua primeira aparição no Novo Testamento, é organizada em muitas “igrejas”, um para cada cidade. Em cada igreja são dois grupos: o clero com as funções de presidir, oferecer sacrifícios, administrar os sacramentos e explicar a doutrina; e os leigos. Esta estrutura é repetida em todos os lugares, com uma uniformidade que exclui a mera casualidade e revela a imitação de um modelo comum.

O clero era eleito pela totalidade de cada igreja local recebendo os poderes espirituais pelo rito da imposição das mãos de outros que por sua vez já haviam recebido, juntamente com o poder de transmitir. Existe uma gradação tripla entre o clero. Cada igreja era presidida por um único bispo, assistido por sua vez por padres, na tarefa espiritual e diáconos, cuja principal missão era cuidar dos bens da Igreja, a distribuição de esmolas, assistência aos pobres, viúvas e órfãos e outras instituições de caridade que constituíram um dos traços mais característicos do início do cristianismo. “Como se amam uns aos outros” foi uma das primeiras e mais espontâneas confissões que o paganismo atribuiu aos cristãos, cuja religião nós herdamos.” [26]

Também argumenta que Clemente Romano foi bispo monárquico de Roma, cujo primado jurisdicional já era evidente nos primeiros séculos, e citou como evidência a epístola de Clemente aos Coríntios e outros eventos históricos.

“A Igreja Romana"

Há uma que desde a mais tenra idade desempenha um papel especial, regulamentando os assuntos das outras e agindo com uma espécie de autoridade superior sobre elas. Esta é a Igreja de Roma, governada segundo a tradição unânime por São Pedro, a quem o Senhor tinha dito: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja... Eu te darei as chaves do reino dos céus. Tudo o que ligardes na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu.” Não sabemos a data exata de fundação da Igreja romana bem como a chegada de são Pedro a Roma, mas é tradição universal do início do cristianismo romano que São Pedro governou a Igreja de Roma, e deu a sua vida por Cristo na perseguição de Nero.

Não é muito o que sabemos sobre os primeiros passos desta Igreja Romana, velados pela escuridão, nesses séculos, que nos esconde tantas coisas. No entanto, sabemos relativamente o bastante, e é significativo que, sempre que Roma aparece, a vemos desempenhar este seu papel exclusivo que nunca foi negado (embora às vezes façam oposição ao seu exercício), papel que nenhuma outra igreja tentou reivindicar para si, ou seja, o papel de uma superintendência geral sobre todas as igrejas da Igreja Católica.

Assim, vemos a Roma do papa Clemente I, por volta do ano 90, intervir nos assuntos da Igreja de Corinto. Na mesma época, Santo Inácio de Antioquia confirma a posição única da Igreja Romana nas famosas cartas escritas na véspera de seu martírio em Roma (107). Vimos a tradição como aparece em Irineu. Na mesma época, sob o Papa Victor (189-198) acontece uma enérgica atuação da autoridade romana para reduzir a obediência à Igreja Apostólica de Éfeso em uma disputa litúrgica. Sessenta anos mais tarde outra crise surge entre Roma e Cartago. Desta vez, a questão não é meramente transdisciplinar, e toda a atitude de Roma é mais uma vez de juiz sem possibilidade de recurso, a emissão de uma lei ultimato e assegurar o cumprimento. O personagem em confronto com Roma foi nada menos do que São Cipriano, a primaz de Cartago; e em 262, encontramos o Papa Dionísio corrigindo a teologia de seu xará, o bispo de Alexandria.” [27]

ADALBERT HAMMAN

Padre e historiador franciscano e especialista em patrologia. Tem em seu currículo a publicação de cerca de cem traduções de textos patrísticos em francês, conhecido como “Pères dans la foi”, bem como sendo o autor de inúmeros livros relacionados aos pais da igreja e história da igreja.

Argumenta que a organização das primeiras comunidades cristãs não foi uniforme, alguns colégios regidos por padres, enquanto as grandes cidades têm desde os tempos apostólicos um bispo que preside como chefe dessas comunidades.

“A organização dos quadros

O final do primeiro século é de suma importância na história do cristianismo. Todos os Apóstolos desapareceram, exceto João, a última testemunha. Torna-se uma figura quase lendária. Permanece durante muito tempo na Ásia. Clemente afirma que comunidades as comunidades que ele organizou na Ásia ao longo do segundo século evocam sua autoridade. Sua sombra é projetada sobre as igrejas distribuídas como as contas de um rosário ao longo do litoral.

Depois disso, as comunidades estão nas mãos de líderes que transmitem os relatos e ensinamentos dos Evangelhos. Receberam ajuda dos primeiros apóstolos e de seus colaboradores. Se estabelece uma organização flexível e progressiva. Acontecem em fases, cujos vestígios ainda são visíveis. Comunidades judaico-cristãos mantém por algum tempo uma liderança colegial (anciãos ou presbíteros). Os nascidos em terra pagã são baseados em o bispo-diácono binomial. Ambas as organizações são simultâneas, e, em seguida, são unificadas ao longo do segundo século. Seu estabelecimento ocorre lentamente, com atrasos, hesitante, e às vezes com crise. A vida não estava uniforme, mas desenvolve organicamente cresce com a vitalidade explosiva de começos.

A atividade itinerante dos apóstolos e dos profetas só dura um certo tempo; É uma preparação para o estabelecimento de uma organização permanente, uma autoridade local que os substituiriam. Alguns desses itinerantes acabavam por ficarem fixos no lugar de sua atividade missionária. Potino, e também pode Irineu de Lion, são bons exemplos disso. Outros continuam movendo-se para arar novas terras e plantar a cruz sob novos céus. A sua atividade estende-se ao longo do segundo século, mas tende a esgotar-se com ele.

A Pregação evangélica dá frutos a partir do momento em que deixa atrás de si um mínimo de estrutura e organização. Convertidos são recolhidos, reunidos e fundidos em uma comunidade, a igreja local. Eusebio diz explicitamente “os apóstolos distribuíam seus bens aos pobres, deixavam seu país, lançavam as bases da fé em regiões estrangeiras, estabeleciam pastores a quem entregavam aqueles que haviam abraçado a fé.”

Inácio em Antioquia, Policarpo em Esmirna, Potino em Lion, Cuadrato em Atenas, Dionísio em Corinto, eram chefes de suas comunidades; se chamavam epíscopos, bispos, o que significa inspetores ou superintendentes, título vem da administração civil. O nome do bispo, que por um tempo foi sinônimo de padre impõe-se para designar a autoridade monárquica.

Desde a organização colegial para alcançar a responsabilidade episcopal houve um tempo indeciso, com hesitações e resistências. Algumas cidades, como Jerusalém ou Alexandria, desde de as origens cristãs possuíam um bispo, outras, como Filipo, não parecem ter ainda estabelecido qualquer bispo quando Clemente de Roma escreve. Pelo menos a carta de Clemente não menciona, só fala da cabala, que causou discórdia entre padres jovens e velhos.

Há muitas cidades que têm como bispo personagens de grande altura, como Policarpo e Irineu, mas outros que escolhem um tamanho adaptado às suas necessidades. Nem todos os corsos são Napoleão. A vida da igreja local geralmente tem uns começos mais modestos; escolhem o homem mais disponível, o mais generoso, imposto pela sua qualidade e exemplo.

...

O episcopus, desde o início de sua existência, é assistido por um colaborador direto geralmente mais jovem que ele, o diácono, cujas qualidades pessoais, familiares e deve torná-lo adequado para ajudar eficazmente o chefe da comunidade. Juntos, dirigem a reunião, celebram a Eucaristia; juntos, são os gestores do bem comum e suprem as necessidades da comunidade”.

Ao longo do segundo século, a instituição do bispo e diácono se confunde com presbíteros ou anciões de origem verossimilmente judaica. Os “anciãos” do judaísmo eram os notáveis, que faziam parte do Sinédrio ou que dirigiam a comunidade e sinagoga. Nos tempos de Doze, eles existiam em Jerusalém, quando Tiago era bispo lá. Assistem com os Apóstolos o primeiro concílio de Jerusalém. No final do primeiro século são encontrados em Roma, em Felipo, em Corinto, onde são objeto de conflito que dá origem à carta de Clemente de Roma.

A fusão destas duas instituições foi se fazendo progressivamente e de acordo com os lugares e circunstâncias, não sem confrontos aqui e ali.A carta de Paulo a Timóteo, que dá uma descrição do bispo, sabe o colégio sacerdotal que, com Paulo impôs as mãos sobre Timóteo. Tito foi aconselhado a ordenar sacerdotes.

A solução mais elegante para se passar a autoridade colegial para a monarquia consistia eleger um bispo entre o corpo sacerdotal. Os dois termos, sacerdote e bispo, são sinónimo durante algum tempo. Irineu parece utilizá-los alternadamente.

Na época de Inácio de Antioquia, o estabelecimento da autoridade monárquica e a integração do concílio presbiteral eram coisas feitas na Ásia, de Jerusalém a Pérgamo. As cartas inacianas para as várias comunidades, assim atestam. Em outros lugares, parece que a mudança foi mais dolorosa. A carta de Clemente à comunidade de Corinto, causada por padres que não se aceitavam, reconhece a existência de cabeças ou bispos, eleitos sem dúvida entre o conselho de anciãos, que presidiam a liturgia e claramente distinguidos dos leigos, nomeado aqui pela primeira vez”. [28]

CESAR VACA O.S.A.

Sacerdote e Teólogo agostiniano, escritor de inúmeros livros

“Nas cartas de Inácio - Grandmaison escreve – se lança pela primeira vez o epíteto glorioso de Católica ao nome da Igreja: “Onde estiver o bispo, há também a multidão, para que, onde uma pessoa foi Jesus Cristo, não é a Igreja Católica” (Aos Esmirnenses. VIII, 2). Assim, o bispo encarna sua igreja particular, bem como a grande Igreja é a encarnação continuada do Filho de Deus. Não creríamos estar lendo um dos campeões da unidade eclesiástica do nosso tempo, um Adão Moehle, um Ralmes Jaime, uma Edward Pie? "(Jesus Chist II p.634).

Santo Inácio assim nos mostra que, em seu tempo, final do século primeiro, a estrutura e o pensamento sobre a Igreja estavam completos e maduros. Bispos, padres e diáconos são a hierarquia tripartida sobre a qual toda a realidade do cristianismo repousa. É preciso permanecer unidos esta hierarquia para viver no espírito de Cristo. “Assim como o Senhor nada fez sem o Pai, ainda que estivesse unido a Ele, nem por si mesmo e nem pelos apóstolos, também vós não deveis fazer nada sem o bispo e os presbíteros. Nem deveis tentar fazer com que algo pareça razoável e justo para vós mesmos; mas, reunindo-vos num mesmo lugar, orai uma única prece, fazei uma única súplica, tenham uma única mente e esperança, no amor e na alegria imaculada. Há um só Jesus Cristo e nada é melhor que Ele.” (Magnésios VII, 1). Sem essa hierarquia não exite a Igreja: “Da mesma forma deverão todos respeitar os diáconos como a Jesus Cristo, como também ao bispo que é a imagem do Pai, aos presbíteros, porém como ao se nado de Deus e ao colégio dos apóstolos. Sem eles, já não se pode falar de Igreja.” (Tralianos III, 1).” [29]

LUDWIG OTT

Sacerdote, doutor em teologia na Universidade de Munique, com uma tese sobre a teologia medieval. Desde 1941, ele atuou como professor de dogmática na Universidade Católica de Eichstaett até serviu como reitor. Sua obra Manual de Teologia Dogmática, publicada pela Herder Editorial é considerada uma obra de referência indispensável.

“A perpetuação de poderes hierárquicos é uma consequência necessária da indefectibilidade da Igreja (v. § 12), pretendida e garantida por Cristo. A promessa que Cristo fez aos seus apóstolos de que os assistiria até o fim do mundo (Mt 28, 20) assume que o ministério dos apóstolos se perpetua nos sucessores dos apóstolos. Estes, de acordo com o comando de Cristo, comunicaram sus poderes a outras pessoas;. por exemplo, São Paulo a Timóteo e Tito Cf. 2 Tim 4: 2-5; Tito 2, 1 (poder de ensinar); 1Tm $ 19-21; Tt 2, 15 (poder de reger); 1 Timóteo 5, 22; Tt 1, 5 (poder de santificar). Nestes dois discípulos do apóstolo aparece pela primeira vez com toda claridade o episcopado monárquico que desempenha o ministério apostólico. Os “anjos” das sete comunidades Ásia Menor (Ap 2-3), de acordo com a interpretação tradicional (que não carece de impugnadores) são bispos monárquicos.

O discípulo dos apóstolos, São Clemente Romano, diz o seguinte sobre a transmissão dos poderes hierárquicos pelos apóstolos "Assim, proclamando a palavra nos campos e nas cidades, estabeleceram suas primícias, como bispos e diáconos, dos futuros fiéis, após prová-los pelo Espírito.” (Epistola Aos Coríntios 42, 4.); “Também os apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade episcopal. or tal motivo e como tivessem pleno conhecimento do porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a morte deles, outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério.” (Epistola Aos Coríntios 44, 1-2).

Santo Inácio de Antioquia testemunha, no início do segundo século, que na cabeça das comunidades da Ásia Menor e até mesmo “nos países mais remotos” (Ef 3, 2) houve apenas um bispo (monárquico) em cujas mãos estava todo o governo religioso e disciplina da comunidade. “Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja. Por legítima seja tida tão-somente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. 

Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja Católica. Sem o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape. Tudo, porém, o que ele aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja seguro e legítimo.... Quem honra o bispo será também honrado por Deus; quem faz algo às ocultas do bispo presta culto ao diabo” (Esmirna 8, 1-2;. 9, 1). Em cada comunidade, há também o bispo e abaixo dele, outros ministros, sacerdotes e diáconos.

De acordo com Justino Mártir, “o que preside os irmãos” (ou seja, o bispo), é que realiza a liturgia (Apologia 165 e 67). Irineu considera a sucessão ininterrupta dos bispos desde os Apóstolos como a garantia mais segura de toda a integra tradição da doutrina católica: “Nós podemos enumerar os bispos instituídos pelos apóstolos e todos os que os se seguiram para nós” (Adv. Haer. m 3, 1). Mas, como seria fastidioso enumerar a sucessão apostólica de todas as Igrejas, se limita a ressaltar a daquela Igreja “que é a mais notável e antiga e conhecida de todos, e que foi fundada e estabelecida em Roma pelos gloriosos apóstolos Pedro e Paulo”. Nós nos referimos a mais antiga lista de bispos da Igreja Romana, que começa com os “abençoados apóstolos” e chega até Eleuterio, 12º sucessor dos apóstolos (ibid 3, 3). São Policarpo nos refere Irineu (ib. 111 3, 4), que foi estabelecido como bispo de Esmirna “pelos apóstolos”, de acordo com Tertuliano (De Praescr. 32), pelo apóstolo João. Tertuliano, como Irineu, funda a verdade da doutrina católica na sucessão apostólica dos bispos (De Praescr. 32)” [30]

NOTAS

[1] Van Hove, Alphonse. "Bishop." The Catholic Encyclopedia. Vol. 2. New York: Robert Appleton Company, 1907

[2] Daniel Ruiz Bueno, Padres Apostólicos, Edición Bilingüe completa, BAC 65. Quinta Edición, Pág. 376

[3] Daniel Ruiz Bueno, Padres Apostólicos, Edición Bilingüe completa, BAC 65. Quinta Edición, Pág. 376

[4] Aquí Daniel Ruiz Bueno cita a Turner, JThS, XXI (1920), p. 194, citado por Lebreton, L’Eglise primitive, p. 353, n. 1.

[5] Daniel Ruiz Bueno, Padres Apostólicos, Edición Bilingüe completa, BAC 65. Quinta Edición, Pág. 933 

[6] Ramón Trevijano, Patrología, BAC Manuales, Madrid 2004, pág. 39-40 

[7] José Orlandis, El Pontificado Romano en la Historia, Ediciones Palabra, 2 Edición Madrid 2003, pág. 29

[8] José Orlandis, Breve Historia del Cristianismo, Ediciones RIALP, Sexta edición, Madrid 1999, Pág. 25-26

[9] Johannes Quasten, Patrología, Tomo I, BAC 206, Madrid 1995, pág. 81

[10] Enrique Moliné, Los Padres de la Iglesia, Ediciones Palabra, Cuarta Edición, Madrid 2000 pág. 53

[11] Ludwig Hertling, Editorial Herder, Décima edición, Barcelona 1981, Edición digital

[12] Bernardino Llorca, Manuel de Historia Eclesiástica, Editorial Labor. S.A. 1951, pág. 95-97

[13] Joseph Lortz, Historia de la Iglesia, Tomo I, Ediciones Cristiandad, Madrid 1982, Versión digital

[14] Michael Schmaus, Teología Dogmática, Tomo IV, La Iglesia, Ediciones Rialp, Madrid 1960, pág. 511-512

[15] Ibid., pág. 496

[16] Ibid.

[17][17] Ibid., pág. 504

[18] G. H. Joyce, Enciclopedia Católica, Artículo Iglesia.

[19] Traducido de Henri de Lubac, The Petrine Office and Particular Churches

[20] Jesús Álvarez Gómez, Historia de la Iglesia, I. Edad Antigua, BAC, Madrid 2001, pág 121

[21] Ibid., pág. 130

[22] Franco Pierini, La Edad Antigua, Curso de historia de la Iglesia, Tomo I, San Pablo 1996, pág. 48,49.73

[23] August Franzen, Historia de la Iglesia, Editorial Sal Terrae, 2009, pág. 26

[24] Ibid., pág. 110 

[25] Ibid., pág. 40

[26] Philip Hughes, Síntesis de Historia de la Iglesia, Editorial Herder, 1996, pág 11-36

[27] Ibid.

[28] Adalbert G. Hamman, La vida cotidiana de los primeros cristianos, Editorial Palabra, Septima Edición, Madrid 2002, Pág. 130-134

[29] Cesar Vaca O.S.A. Ignacio de Antioquía

[30] Ludwig Ott, Manual de Teología Dogmática, Editorial Herder, Barcelona 1966, Pág. 423-424

PARA CITAR

ARRAIZ, José Miguel. Eruditos Católicos Modernos e o Episcopado Monárquico na Igreja Primitiva. Disponível em: Desde: 22/05/2016. Tradutor: Rafael Rodrigues.


Site: Apologistas Católicos
Editado por Henrique Guilhon