O protestante Ralph Woodrow(1) sustentou que Maria era uma deusa pagã e escreveu um livro muito popular ligando o Catolicismo ao paganismo, baseando-se em um livro escrito em 1857 por Alexander Hislop chamado "As Duas Babilônias". Depois que a seriedade das pesquisas de Hislop foram questionadas, Woodrow resolveu pesquisar o assunto por conta própria... e ficou boquiaberto ao descobrir que as pesquisas de Hislop, se não escandalosas, foram no mínimo falhas. Dessa forma, tirou de circulação seu primeiro livro e publicou outro em seu lugar chamado "A Conexão Babilônia". Neste livro, nas páginas 33-38, Woodrow aborda detalhadamente os argumentos de Hislop contrários a Maria. Ele se envergonha dos seus irmãos evangélicos que utilizam este enfoque para condenar a relação existente entre a Igreja Católica e Maria e pede desculpas por ter propagado anteriormente esses pontos de vista. Ele permanece como evangélico, porém já não associa a Igreja Católica com o paganismo.
Problemas oriundos do Sincretismo
Um estudo cuidadoso e honesto dos cultos da(s) deusa(s) pagã(s) revelaram que, tirando alguns raros símbolos superficiais (p.ex.: a deusa ser considerada virgem ou mãe), não há nada em comum com a relação católica com Maria. A relação dos católicos com Maria não pode ser comparada à adoração profana e corrompida que era oferecida à(s) deusa(s). A deusa Gaia (=a mãe terra) é um símbolo de tudo o se que opõe ao que cremos sobre Maria. Maria não nos obriga a adorar a terra, nem nos faz exaltar o prazer sexual fora do matrimônio; Maria não permitiria jamais que profanássemos o nome de seu Filho Jesus. Maria não alimenta o culto de outras religiões em detrimento à mensagem de seu Filho. Maria está próxima apenas disto e somente isto: seu Filho Jesus.
"...cada católico romano que conheci vê Maria como uma mulher irrepreensível, uma virgem totalmente dedicada a Deus e à prática das virtudes. Nenhum destes atributos pode ser atribuído à deusa pagã Semíramis. Seu estilo de vida é exatamente o contrário." (Woodrow, pág. 35).
Os primeiros cristãos, convertidos do paganismo, abandonaram a obscuridade e a superstição de sua antiga fé. Muitos deles se tornaram mártires, entregando suas vidas ao invés de oferecer incenso a uma imagem de César. Nunca adoraram Gaia, Ísis ou Cibele, inclusive sob o aspecto da Mãe de Jesus.
Acusar a Igreja primitiva de ter duvidado da sinceridade de conversão dos pagãos? Estes convertidos eram atirados aos leões por sua fé em Jesus. Por que continuariam a sustentar os seus antigos deuses pagãos? Os cristãos consideravam as deidades pagãs como demônios e a fórmula do batismo exigia (e continua a exigir) a renúncia a Satanás. Com efeito, para receber o Batismo, os catécumenos deviam renunciar seus antigos deuses. Como poderiam continuar adorando aos demônios após terem renunciado a eles? E como poderiam identificar a Mãe do Salvador com demônios impostores? Entendo que as pessoas que promovem esta teoria não são práticos, racionais ou sérios em suas investigações.
Maria é uma cristã "renascida", que recebeu o Espírito Santo em Pentecostes e falou em línguas 2000 anos antes dos pentecostais terem recebido este dom (Atos 1,14-2,3). Ela sabe como orar (sim, inclusive em línguas).
1Ralph Woodrow, The Babylon Connection, (Palm Springs, CA: Ralph Woodrow Evangelistic Association, 1997, pág. 34). De qualquer forma, "A Conexão Babilônia" é, em sua maior parte, uma sonora refutação às acusações de "paganismo" que se tem levantado contra a Igreja Católica. Os parágrafos citados aqui são um bom exemplo disso.
Coliridianos?
Assim era denominada uma pequena seita do século IV na Arábia. Composta majoritariamente por mulheres que abertamente adoravam a bem-aventurada Virgem, ofereciam-lhe refeições durante suas cerimônias religiosas. Alguns observam que este é um exemplo de antigos pagãos adorando Maria como "deusa".
Ora, os coliridianos não eram católicos, mas uma religião sincrética que, da mesma forma que os gnósticos e outros grupos daquele tempo, mesclava práticas de várias tradições religiosas. Eram hereges: tomaram a figura de Maria do Catolicismo e lhe ofereciam sacrifícios (a respeito dos sacrifícios oferecidos a algumas deusas pagãs, ver Jeremias 44,18-19). Foi uma rara mesclagem de crenças contraditórias e foi, de fato, condenado pela Igreja Católica. Só viemos a conhecer da existência desta pequena seita porque Santo Epifânio, um dos Padres da Igreja, os condenou em um de seus escritos chamado "Panarion".
Mãe de Deus?
Recebi um e-mail dizendo: "Maria necessitava de um salvador". Os católicos concordam que Maria necessitava de um Salvador. Ela foi salva por seu Filho e, ao mesmo tempo, foi sua mãe:
"Minha alma glorifica ao Senhor,
E meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
Porque olhou para a baixeza de sua escrava
Por isso, todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (Lucas 1,46-49)
Maria necessitava de um Salvador E todas as gerações a chamarão bem-aventurada.
Alguns evangélicos entendem que Maria é uma "deusa católica" em razão do título mariano "Mãe de Deus"(2). Em razão disto, pensam que os católicos a chamam desta forma porque crêem que deu a Jesus sua divindade.
Jesus nasceu de Maria para se fazer homem. Se ela fosse um ser divino, como teria ele, Jesus, derivado sua natureza humana a partir dela, Maria?
A maioria dos cristãos diria que é impossível separar a divindade de Jesus de sua humanidade. Ele é, ao mesmo tempo, totalmente Deus e totalmente homem. Há uma união inseparável destas duas naturezas de Deus e Homem em Jesus Cristo. Chamamos Maria de "Mãe de Deus" porque Jesus é Deus e ela é sua mãe. Já que as duas naturezas de Jesus (divina e humana) são inseparáveis, os católicos crêem que é apropriado chamar Maria de Mãe de Deus. Isabel disse: "Quem sou eu para que a Mãe do meu Senhor venha me visitar?" (Lucas 1,43). Logo, este não é um título pagão, mas sim um título bíblico.
Transcrevo aqui o que Martinho Lutero, fundador da Reforma [Protestante], disse a respeito do título mariano "Mãe de Deus":
"São Paulo disse: 'Deus enviou seu Filho, nascido de mulher'. Estas palavras, que tenho por verdadeiras, realmente sustentam com toda firmeza que Maria é Mãe de Deus" (Martinho Lutero, Obras de Martinho Lutero, volume 7, pág. 592).
"Este artigo de fé - que Maria é a Mãe de Deus - está presente na Igreja desde os seus primórdios e não é uma nova criação oriundo de concílio, mas a apresentação feita pelo Evangelho e as Escrituras" (Martinho Lutero, Obras de Martinho Lutero, volume 7, pág. 572).
"É certo que Maria é a Mãe do real e verdadeiro Deus" (Martinho Lutero, Obras de Martinho Lutero, volume 24, pág. 107).
"...ela é corretamente chamada não apenas mãe do homem, mas também Mãe de Deus... é certo que Maria é a Mãe do real e verdadeiro Deus" (Martinho Lutero, Sermão sobre João 14,16: Obras de Martinho Lutero, volume 24, p. 107 - St. Louis, Pelican, Concordia).
2Este título foi usado pelos cristãos desde cedo.
Maria é a deusa pagã Ishtar?
A declaração de "Rainha do Universo" feita pela Lumen Gentium (constituição católica de 1964) provocou que certas pessoas pensassem que a Igreja Católica estava colocando Maria como cabeça do céu. Eles fizeram observar que "Rainha do Céu" foi um título atribuído à deusa Ishtar, por seus devotos na Babilônia (Jeremias 44,18-19). Inclusive chegaram a propagar que de algum modo isto prova que Maria e Ishtar são a mesma pessoa e que os católicos na verdade adoram Ishtar quando honram Maria.
Primeiramente, vamos ver a citação da Escritura que é usada contra a Igreja Católica nesta matéria:
"Por acaso não vês o que eles fazem nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém? Os filhos recolhem lenha, os pais acendem o fogo, as mulheres amassam a pasta para fazer bolos para a Rainha do Céu e se derramam libações a outros deuses a fim de ofender-me" (Jeremias 7,17-18).
Ora, jamais a Igreja Católica ofereceu refeições (ou qualquer outro sacrifício a Maria). A passagem, ademais, diz: "e se derramam libações a outros deuses". Os católicos nunca apresentaram qualquer oferenda a outro que não seja o único Deus verdadeiro descrito na Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).
O propósito com que foi dado [tal título] a Maria encontra-se delineado na Escritura: "Minha alma glorifica ao Senhor e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador" (Lucas 1,46).
Muitos reis de diferentes nações são chamados "Sua Majestade" por seus súditos, porém isso não prova que todos eles são a mesma pessoa! Numerosos foram os pagãos que chamavam seus deuses de "Pai", como Zeus ("Pai dos deuses e dos homens") e Odin ("Pai de todos"). No entanto, isto não significa que Zeus e Odin possam ser confundidos com Deus Pai.
Eu me chamo David. Existiram muitos assassinos chamados David e também magníficos líderes chamados David. Obviamente que não sou nenhum deles; eu sou eu. E Maria, a Mãe de Jesus é Maria, Mãe de Jesus.
Talvez seja compreensível que os evangélicos tenham se alarmado com a declaração de Maria como "Rainha", dado o contexto cultural desta geração. Vivemos um momento em que a Rainha da Inglaterra é a autoridade máxima de Commonwealth. Não há um rei. É ela quem manda, ela é o centro; todos nós falamos sobre a rainha e cantamos "Deus salve a rainha". Desta forma, é natural que nosso entendimento contemporâneo quanto a rainha é que se trata de alguém com autoridade máxima. Porém, o que ocorre com a rainha quando existe um rei? Quem detém a autoridade? Na lei de Commonwealth, quando há um rei a rainha não possui nenhuma espécie de autoridade, a não ser o direito de sussurar no ouvido do rei para influenciar alguma decisão.
JESUS É O REI. Ele é. Maria é a Rainha; significa que ela não possui qualquer autoridade senão a de que pode sussurrar-lhe ao ouvido (João 3,3). Deste modo, não creio que chamar Maria de "Rainha do Universo" diminui a autoridade do Rei Jesus. Na verdade, a reforça. Que Rei respeitável não possui uma rainha?
Os católicos sustentam com as Escrituras o reinado de Maria. Apocalipse 11,19 diz:
"Então o templo de Deus no céu se abriu e a Arca da Aliança foi vista em seu templo... um grande sinal apareceu no céu: uma mulher revestida do sol, com a lua sob os pés e uma coroa de doze estrelas sobre sua cabeça. Ela estava grávida... e deu à luz um filho varão que reinará sobre todas as nações com cetro de ferro... Porém, o filho foi elevado até Deus e até seu trono..."
Esta passagem apresenta Jesus como Rei. E também apresenta sua Mãe portando uma coroa no Céu. Os católicos percebem que a Escritura é muito clara.
Lumen Gentium
Apresento aqui alguns parágrafos da Lumen Gentium, documento oficial da Igreja redigido no Concílio Vaticano II, que é freqüentemente citado pelos evangélicos quando tratam do título "Rainha do Céu". Penso que a Lumen Gentium claramente afirma a autoridade de Jesus sobre o céu e a terra:
60. "Um só é nosso Mediador segundo as palavras do Apóstolo: 'Há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem; ele também se entregou para resgatar a todos' (1Timóteo 2,5-6). Porém a missão maternal de Maria diante dos homens de nenhuma forma obscurece nem diminui esta mediação única de Cristo; pelo contrário, melhor demonstra seu poder. Porque todo o influxo salvífico da bem-aventurada Virgem em favor dos homens não nasce de nenhuma lei mas sim do divino beneplácito, provém da superabundância dos méritos de Cristo, se apóia em sua mediação, dela depende totalmente e da mesma retira todo o seu poder e, longe de impedi-la, fomenta a união imediata dos crentes em Cristo".
62. "...Porque nenhuma criatura pode se comparar jamais com o Verbo Encarnado, nosso Redentor; porém, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversas maneiras, tanto pelos ministros como pelo povo fiel, e assim como a bondade única de Deus se difunde realmente de formas distintas nas criaturas, assim também a mediação do Redentor não exclui, mas suscita em suas criaturas uma múltipla cooperação que participa da única fonte. A Igreja não duvida em professar esta missão subordinada de Maria, a experimenta continuamente e a recomenda ao coração dos fiéis para que, apoiados nesta proteção maternal, se unam mais intimamente ao Mediador e Salvador".
66. "...Segundo as palavras proféticas dela mesma: 'Daqui por diante todas as gerações me chamarão feliz, porque o Todo-Poderoso fez em mim grandes coisas' (cf. Lucas 1,48-49)... enquanto se honra a Mãe, o Filho - em razão do qual foram criadas todas as coisas (cf. Colossenses 1,15-16) e em quem o Pai quis que residisse toda plenitude (cf. Colossenses 1,19) - seja melhor conhecido, seja amado, seja glorificado e sejam cumpridos os seus mandamentos".
67. "...Assim mesmo, exorta encarecidamente aos teólogos e aos pregadores da Palavra divina, que se abstenham com cuidado, tanto de todo falso exagero, como também de uma excessiva estreiteza de espírito, ao considerar a singular digninade da Mãe de Deus(3). Cultivando o estudo das Sagradas Escrituras, dos Santos Padres e doutores e das liturgias da Igreja, sob a direção do Magistério, ilustrem retamente os dons e privilégios da Santíssima Virgem, que sempre se referem a Cristo, origem de toda verdade, santidade e piedade".
Título Original: Maria, mãe de Jesus - Por um protestante
Site: A Realidade é Cristo
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