Nada a relatar hoje, 13 de Outubro, a não ser as quatro sessões (2 pela manhã e 2 pela tarde) com 56 discursos, ao todo, dos padres sinodais. No entanto tais discursos deverão continuar ainda na semana que vem, durante dois dias.
Além dos avisos corriqueiros, foi anunciado o resultado da eleição de 12 cardeais, arcebispos para a redação da Mensagem do Sínodo (um documento dirigido a toda a Igreja no final dessa Assembleia). O Arcebispo de Brasília, Dom Sérgio Rocha, está entre os eleitos.
Como se sabe, a língua oficial do Sínodo (como do Vaticano, em geral) é o latim. Então, os discursos mais importantes ou quando falam os Moderadores (são 3 que se revezam), a língua usada é sempre o latim. O Secretário Geral, Dom Nikola Eterovic e Card. Dom Francisco Robles Ortega (México) falam muito bem e sem tanto sotaque. Mas é uma graça ouvir os outros dois moderadores (Card. Dom John Tong Hon, de Hong Kong e Card. Laurent Monsengwo Pasinya) falarem a língua de Cícero com seus sotaques chinês e africano. Houve um cardeal americano que elogiou o fato do uso oficial do latim, mas pediu que não seja um latim tão clássico, mas um pouco mais "eclesiástico" (e consequentemente muito mais fácil...).
Naturalmente os nomes próprios (aliás, complicadíssimos para nós ocidentais) são mantidos na língua original. Os nomes dos indianos, como dos países árabes e da Europa oriental, são quase impronunciáveis! As frases em latim que mais se ouvem são: "Nunc loquabitur Emminentissimus Cardinalis (ou Excelentissimus Episcopus) N. N., e se preparit Episcopus N.N."
Dos 56 discursos hoje pronunciados, 40 (com 5 minutos cada um) foram lidos e o texto distribuído apenas para nós peritos que deveremos redigir uma síntese final, e outros 16 foram espontâneos, com 4 minutos cada. O jornal Osservatore Romano está publicando uma síntese dos discursos de 5 minutos. Essa dinâmica vem sendo observada desde o primeiro dia.
Como já acenei, é muito cansativo ficar ouvindo discursos em cinco línguas diferentes, mas é aí que se manifesta a riqueza e diversidade de pensamento e de experiências de todas as partes do mundo. Sendo impossível relatar aqui uma síntese de todos os discursos, apresento algumas ideias que foram mais recorrentes ao longo do dia, tanto nos discursos lidos como nos espontâneos:
1) Embora o mais importante na Evangelização seja o ato de fé, a resposta pessoal à Palavra de Deus (fides qua ou confessio fidei), por outro lado não se pode esquecer a dimensão racional e doutrinal (fides quae ou professio fidei), se quisermos dialogar com a cultura de hoje.
2) O tema da família voltou insistentemente em vários pronunciamentos, vendo nela não só o objeto, mas sobretudo o sujeito da evangelização. Os países que vivem ou viveram clima de perseguição testemunham que a fé é mantida principalmente na família. Espera-se que a Igreja publique algum manual ou vade mecum das famílias cristãs em situações canonicamente irregulares.
3) Para nós, na América Latina, as pequenas comunidades ou comunidades eclesiais de base, são prática pastoral desde os anos 60, tendo atingido o auge nos anos 70 a 90 e ainda permanecem vivas. Entretanto para países da Ásia e da África, está sendo uma descoberta! E como falam entusiasticamente desse modo de ser igreja, para nós já tão antigo!
4) Dom Odilo, arcebispo de São Paulo, fez um pronunciamento afirmando que ao longo da história da Igreja, já houve muitos momentos de nova evangelização, com a atuação de grandes santos e pastores, entre os quais citou Dom Bosco. A Igreja, mais do que estrategistas pastorais, precisa hoje de novos e santos evangelizadores que anunciem o Evangelho com a própria vida e testemunho. Nesse sentido, Dom Filipo Santoro, que trabalhou 27 anos no Brasil e hoje é bispo na Itália, relatou sua experiência pastoral na atual diocese, com problemas muito semelhantes aos do Brasil.
5) Fiquei impressionado com o número de pronunciamentos a respeito da missão do bispo com relação à evangelização. Um deles chegou a dizer, com certo exagero, que, se uma diocese não é missionária, isso é culpa do bispo que não cumpre suas essenciais obrigações!
6) Muitos falaram também da necessidade de evangelizar através da religiosidade popular, dando conteúdo evangélico e substancial àquelas práticas que o povo aprecia e através das quais exprime sua adesão a Jesus Cristo e a seu Evangelho. Muitas vezes ela precisa ser re-orientada, educada para que cresça na expressão da autêntica fé.
7) A Doutrina Social da Igreja também foi lembrada por alguns como importante meio de fazer chegar o fermento do Evangelho à grande sociedade, às estruturas sociais e à solução de problemas novos e antigos que sempre surgem nos grupos humanos. É necessário relembrá-la, pois faz parte de qualquer tipo de evangelização. Sugeriu-se que toda a Igreja ratifique e viva mais intensamente a opção preferencial pelos pobres.
8) O tema da inculturação foi abordado não do ponto de vista teórico e intelectual, mas no relato de muitas experiências, particularmente nos países de mais recentes cristianismo.
9) Em não poucos lugares se vive o problema das migrações, tanto internas como para outros países. É uma situação para a qual o Evangelho traz muitas luzes e soluções.
10) Foi muito aplaudida a intervenção de Dom Berislav Grigc que falou da presença da Igreja nos países nórdicos, suas dificuldades (padres que viajam 2000 km para atender uma comunidade!), mas ao mesmo tempo dos bons frutos e crescimento da Igreja naquelas regiões, particularmente através do catecumenato de adultos.
11) Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário da CNBB, falou da importância dos leigos na nova evangelização. Referiu-se também aos jovens, como um novo areópago da Igreja hoje, das boas experiências com jovens missionários de jovens principalmente através da música e da mídia em geral.
12) Mais de três discursos voltaram a atenção para a formação presbiteral. Para uma nova evangelização se requer uma formação que qualifique os presbíteros a viverem como missionários e, ao mesmo tempo, animadores de novos missionários.
13) A partir de uma sugestão do Instrumento de Trabalho (no. 108), alguns pediram que a Igreja reconheça e institua o ministério do catequista, para que esse trabalho tão dedicado de muitos cristãs e cristãos, seja mais reconhecido e valorizado na comunidade eclesial. Isso não significa "domesticá-los" e muito menos "clericalizá-los".
14) Voltou hoje, em vários pronunciamentos, sobretudo de bispos do Oriente Médio, da África e do Leste Europeu, o problema da dificuldade de diálogo como o Islã e a denúncia de discriminação dos cristãos, e muitas vezes de perseguição e martírio.
15) Finalmente dois problemas que polarizaram as discussões livres foram:
a) a sequência dos sacramentos de iniciação: manter a sequência atual, de caráter pastoral (batismo, eucaristia, crisma) ou retornar à sequência da antiga tradição, de caráter mais teológico (batismo, crisma e eucaristia)?
b) a questão da islamização do ocidente cristão: causou grande impacto na assembleia um pequeno filme de cinco ou sete minutos (cujo conteúdo eu já havia visto na internet, há tempo) que mostra um problema quase que irreversível: estatisticamente, em base a dados demográficos e migratórios, dentro de 50 anos a Europa cristã terá desaparecido transformando-se um continente mulçumano. Se as famílias cristãs não gerarem mais filhos e se não houver um trabalho de intensa evangelização, esse será o destino de nossa História...
Alguns viram nisso uma "guerra de religiões", outros duvidaram dos dados e perguntaram pelas fontes... mas parece que a frieza dos números e estatísticas apontam nessa direção. Um motivo a mais para intensificar uma nova evangelização.
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