“Se a pesquisa metódica, em todas as ciências, proceder de maneira verdadeiramante científica e segundo as leis morais, na realidade nunca será oposta à fé: tanto as realidades profanas quanto as da fé originam-se no mesmo Deus. Mais ainda: Aquele que tenta perscurtar com humildade e perseverança os segredos das coisas, ainda que disto não tome consciência, é como que conduzido pela mão de Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo que elas sejam o que são.” (Gaudium et Spes, 36)
A Ciência e a Bíblia
A Bíblia é a Revelação dos Planos de Deus ao homem. É por meio dela que o Senhor revelou Seus desígnos para a humaninade. Ela é o Relato da História da Salvação que teve início no Livro do Gênesis e progrediu até o Evangelho com o Nascimento, Morte e Ressurreição de Cristo, Nosso Salvador. Portanto, é um erro encará-la como um mero livro de história escrito por homens, ou ainda como o relato da história natural do universo. Ela é, na verdade, a História da Salvação do homem, escrita por homens, sob inspiração Divina pelo poder do Epsírito Santo.
Quando meditamos sobre os eventos relatados em Gênesis, por exemplo, havemos de considerar que a mensagem principal revelada por Deus naquele livro e não é um relato literal de como o Universo e a vida foram criados, não é tratado científico. Através do Gênesis, Deus falou-nos em linguagem humana, de uma forma que o homem pudesse compreender aquilo que Ele desejava comunicar, ou seja, que Ele é o criador do Universo e tudo nele contido. Ele é o Senhor de todas as coisas, o único Deus Verdadeiro.
Vejamos, por exemplo, a afirmação do Bem-Aventurado João Paulo II feita em 1994 à Pontifícia Academia de Ciência: “A teoria evolucionista convém com a fé cristã”.
A Igreja proclama que a Revelação Divina foi encerrada no Verbo encarnado; Jesus Cristo. Mas ela afirma também que o entendimento dessa Revelação tem sido desvendado à Igreja pelo Espirito Santo, seu Guia, através dos Séculos. Assim, por 100 anos – desde a fomentação da teoria evolucionista por Charles Darwin – a Igreja Católica não formulou uma posição oficial ou dogmática sobre a teoria da evolução. Contudo, ao contrário da crença comum, ela jamais negou que tal teoria merecesse crédito científico. Talvez por esse motivo o livro de Charles Darwin, Origem das Espécies jamais foi incluído no Index Librorum Prohibitorum, ou Índice de Livros Proibidos da Igreja. No documento Humani Generis, O Papa Pio XII concedeu liberdade academica ao estudo das implicações científicas relacionadas com a teoria da evolução, desde que nenhum dogma Católico fosse violado em consequência disso. Obviamente, essa postura reflete uma cautela peculiar à Igreja, visto que seus pronunciamentos dogmáticos devem ser infalíveis.
Dentro desse mesmo espírito, o então Papa João Paulo II declarou à Pontíficia Academia de Ciência sobre o documento Humani Generis:
“Hoje, mais de meio século depois do aparecimento dessa encíclica, algumas novas descobertas nos levam em direção ao reconhecimento da evolução como mais do que uma hipótese. Na verdade, é notável que esta teoria tem tido uma influência cada vez maior sobre o espírito de pesquisadores, seguindo uma série de descobertas em diferentes disciplinas acadêmicas. A convergência nos resultados destes estudos independente, que foi planeado nem procurou constitui em si um argumento significativo a favor da teoria”.
No mesmo pronunciamento, João Paulo II rejeitou qualquer teoria da evolução que fornece uma explicação materialista para a alma humana:
“As teorias da evolução que, por causa das filosofias que as inspiram, consideram o espírito ou como emergente das forças da matéria viva, ou como um epifenômeno simples dessa1a matéria, são incompatíveis com a verdade sobre o homem”.
Ai constatamos novamente a fidelidade da Igreja aos ensinamentos contidos nas Sagradas Escrituras, pois a Bíblia nos ensina que Deus é o criador do Universo e de toda vida nele contida. Assim, é correto afirmar que a vida humana não é o resultado de uma seleção aleatória, ou uma consequência acidental da evolução, mas a expressão concreta do desejo de Deus para a existência do homem.
Em seu comentário sobre o Gênesis intitulado “No princípio”, o Papa Bento XVI, então Cardeal Joseph Ratzinger, falou da “unidade interior da criação e da evolução e da fé e da razão” e que estes dois domínios do conhecimento são complementares, não contraditórios:
Não podemos dizer: criação ou evolução, na medida em que essas duas coisas respondem a duas realidades diferentes. A história do pó da terra e do alento de Deus, que acabamos de ouvir, de fato não explicam como os seres humanas vieram a existir, mas sim o que são. Ele explica sua origem mais profunda e lança luz sobre o projeto que eles são. E vice-versa. A teoria da evolução tenta entender e descrever a evolução biológica. Mas ao fazê-lo ela não pode explicar de onde o “projeto” de seres humanos vem, nem a sua origem interna, nem a sua natureza particular. Nessa medida, somos confrontados aqui com duas complementares, ao invés de excludentes de realidades. (Cardeal Ratzinger, “No princípio: uma compreensão católica da História da Criação e da Queda” (Eerdmans, 1995), p. 50.)
Mais recentemente, o Papa Bento XVI em sua homilia na Vigília pascal de 2011 declarou que era errado pensar que em algum momento “em algum canto minúsculo ponto do cosmos” evoluíram aleatoriamente algumas espécies de seres vivos capazes de raciocinar e de tentarem encontrar a racionalidade dentro da criação, ou para trazer racionalidade para a ela.”
Portanto, é correto afirmar que aIgreja Católica hoje rejeita tanto a teoria do Criacionismo – que acredita na intepretação literal do que está relatado em Gênesis – quanto o chamado Desenho Inteligente – que ensina que a evolução da vida humana, assim como outras caracteristicas do universo, se devam ao fator inteligência, e não por conta de uma seletividade natural.
Na conferência realizada em março de 2009 pela Pontifícia Universidade de Roma, marcando o 150 º aniversário da publicação da Origem das Espécies, em geral, ficou confirmada a ausência de conflito entre a teoria da evolução e a teologia católica, bem como a rejeição do Desenho Inteligente pelos estudiosos Católicos.
Assim, a Igreja deferiu aos cientistas as questões como a idade da Terra e da autenticidade do registro fóssil. Pronunciamentos papais, juntamente com comentários dos cardeais, aceitaram as conclusões de cientistas sobre o aparecimento gradual da vida. A postura da Igreja é que qualquer aspecto, mesmo que gradual deve ter sido guiado de alguma forma por Deus, embora até agora a Igreja não tenha definido de que forma isso ocorreu.
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