Sã Doutrina
Sendo a Sola Scriptura uma doutrina que já se torna auto-refutável por não haver na Bíblia nenhum versículo que a prove, seus adeptos hoje tentam usar-se de malabarismos exegéticos para poder explicá-la. Negando assim a tradição oral, que é ensinada pela própria bíblia, colocando o valor desta como inútil para o Cristão.
Também tentam fazer uma exegese barata das palavras de Paulo, (II Tes. 2,14; II Tes 3,6) Dizendo que tal Tradição Oral que Paulo fala nada mais é que o próprio conteúdo da bíblia, ora Paulo fala claramente “tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou por nossa carta”, será que é difícil entender? Paulo iria colocar o que falou e o que escreveu em pé de Igualdade? Não poderia ele simplesmente falar de um só já que são os mesmos, ele precisaria especificar diferenças?
Esquecem que os próprios apóstolos disseram que nem tudo foi escrito ( João 21,25 ) e que houve outras doutrinas que não foram passadas por escrito e simplesmente por viva voz ( 2 João 1,12; 3 João 1,13-14 ), bem, feito essas considerações vamos nos ater agora ao título da matéria:
Eles ( adeptos da Sola Scriptura) comumente citam versículos tais como 2 Tm 3,16-17 ou 1 Cor 4, 6 ( como mais fortes ) em sua defesa , mas um exame minucioso destas duas passagens facilmente irá demonstrar que na verdade estes não suportam tal doutrina.
Em 2 Tm 3,16-17 lemos: Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir, educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para qualquer boa obra.
Existem aqui cinco considerações que enfraquecem a interpretação protestante desta passagem:
A palavra grega ophelimus utilizado no v.16 significa útil e não suficiente. Um exemplo desta diferença seria dizer que a água é útil para nossa existência – mesmo necessária – mas não é suficiente; isto é, ela não é o único componente que nos manteria vivos. Também precisamos de alimentos, medicamentos, etc. Da mesma forma, a Escritura é útil na vida do cristão, mas isto nunca quis dizer que ela é a única fonte de ensino cristão e a única coisa que cada o necessita.
A palavra grega pasa, que geralmente é traduzida como toda, na realidade significa qualquer, e seu sentido se refere a cada uma ou qualquer uma das classes denotadas pelo substantivo a que está conectado. Em outras palavras, a forma grega indica que toda e qualquer Escritura é útil. Se a doutrina da Sola Scriptura fosse verdadeira, baseada no verso grego 16, todo e qualquer livro da Bíblia poderia, isoladamente, ser considerado a única regra de fé, uma posição que é obviamente absurda.
A Escritura a que Paulo se refere é o Antigo Testamento, um fato que é claramente referido pelo fato de as Escrituras serem conhecidas desde a tenra infância (v.15) por Timóteo. O Novo Testamento como conhecemos ainda nem mesmo existia, ou na melhor das hipóteses estava incompleto, então não poderia estar incluído no que Paulo quis dizer com o termo Escritura. Se aceitarmos as palavras de Paulo sem analisarmos o que realmente significam, a Sola Scriptura, então, significaria que a única regra de fé do cristão é o Antigo Testamento. Esta é uma conclusão que todos os cristãos rejeitariam. Os protestantes responderiam a este argumento dizendo que Paulo não está tratando do cânon da Bíblia (os livros inspirados que constituem a Bíblia), mas sim da natureza da Escritura. Ainda que haja alguma validade nesta afirmação, a questão do cânon também é relevante aqui, pelas seguintes razões: antes que falemos danatureza das Escrituras como sendo theopneustos, ou seja, inspirados (literalmente “soprados por Deus”), é imperativo que identifiquemos com segurança os livros que queremos listar como Escritura; de outra forma, livros errados poderia ser chamados de inspirados. Obviamente, as palavras de São Paulo aqui tomaram uma nova dimensão quando o Novo Testamento foi completado, e os cristãos eventualmente as consideravam, também, como sendo Escritura. Deve ser dito, então, que o cânon bíblico também entra na questão, pois Paulo – escrevendo sob a inspiração do Espírito Santo – enfatiza o fato de que toda (e não somente alguma) Escritura é inspirada. A questão que deve ser discutida, entretanto, é esta: como podemos ter a certeza de que temos todos os livros corretos? Obviamente, somente poderemos conhecer a resposta se soubermos qual é o cânon da Bíblia. Tal questão guarda um problema para os protestantes, mas não para os católicos, pois estes possuem uma autoridade infalível que pode responder.
A palavra grega artios, aqui traduzida como perfeito, à primeira vista pode fazer crer que a Escritura é de fato tudo o que é necessário. “Logo”, alguém poderia perguntar:
“se as Escrituras tornam o homem de Deus perfeito, que mais seria preciso? Por acaso a palavra ‘perfeito’ não significa que nada mais é necessário?”
Bem, a dificuldade com esta interpretação é que o texto não diz que somente pelos meios da Escritura o homem de Deus é tornado perfeito. O texto indica precisamente o oposto, pois é verdadeiro que a Escritura opera em conjunção com outras coisas. Note que não é qualquer um que se torna perfeito, mas o homem de Deus – que significa um ministro de Deus (cf. 1 Tm 6,11), um sacerdote. O fato deste indivíduo ser um ministro de Cristo pressupõe que ele já estava acompanhando um estudo que o prepararia para exercer tal ofício. Sendo assim, a Escritura poderia ser mais um instrumento dentro de uma série de outros que tornam o homem de Deus perfeito. As Escrituras poderiam complementar sua lista de itens necessários ou poderiam ser o item mais proeminente da lista, mas seguramente não eram a única ferramenta de sua lista nem pretendia ser tudo o que necessitaria. Por analogia, considere um médico. Neste contexto, poderíamos dizer algo como “O Tratado de Medicina Interna do Harrison (livro texto de referência na prática médica mundial) torna nossa prática médica perfeita, logo estamos aptos a qualquer procedimento médico”. Obviamente tal afirmativa não pode significar que tudo o que o médico precisa seja o TMIH. Este é um item entre vários outros, ou o mais proeminente. O médico também necessita de um estetoscópio, um tensiômetro, um otoscópio, um oftalmoscópio, técnicas cirúrgicas, etc. Estes outros itens são pressupostos pelo fato de estarmos falando de um médico, e não de um leigo. Logo, seria incorreto presumir que somente o TMIH torna o médico perfeito, a única ferramenta necessária.
Além disso, considerar que a palavra perfeito significa o único item necessário resulta em contradição bíblica, pois emTg 1,4 lemos que a paciência – sem citar as Escrituras – torna os homens perfeitos e íntegros, livres de todo defeito. É verdade que aqui uma palavra grega diferente – teleios – é usada para perfeitos, mas permanece o fato de que o entendimento básico é o mesmo. Então, se alguém certamente entende que a paciência não é a única ferramenta que o cristão precisa para ser perfeito, um método interpretativo consistente levaria-nos a reconhecer da mesma forma que as Escrituras não são a única coisa que o homem de Deus necessita para ser perfeito.
A palavra grega exartio no v.17, traduzida por qualificado (outras Bíblias trazem algo como equipado ouplenamente qualificado) é tida como uma prova pelos protestantes da Sola Scriptura pois esta palavra – novamente – implica em dizer que nada mais é necessário ao homem de Deus. Contudo, ainda que o homem de Deus seja qualificado ou plenamente equipado, este fato por si mesmo não garante que este homem saiba interpretar e aplicar corretamente uma passagem bíblica. O sacerdote deve também aprender como usar corretamente as Escrituras, mesmo que ele já esteja equipado com elas. Considere de novo a analogia do médico. Pense num estudante de medicina no início de seu internato. Ele deve dispor de todo seu arsenal necessário para os procedimentos cirúrgicos, ou seja, ele deve estar qualificado, plenamente equipado para qualquer procedimento de emergência, mas a menos que ele passe boa parte do tempo junto a médicos mais experientes, observe suas técnicas, aprenda suas habilidades, e pratique algum procedimento ele próprio, os instrumentos cirúrgicos que possui são completamente inúteis. Sem dúvida, se não aprender a usar tais instrumentos apropriadamente, estes mesmos podem se tornar armas perigosas em suas mãos. Quem se habilitaria a submeter-se a um cirurgião que aprendeu cirurgias por cursos de correspondência?
Da mesma forma ocorre entre o homem de Deus e a Escritura. Estas, como os instrumentos cirúrgicos, são preciosos apenas quando bem manipulados. Do contrário, os resultados são o oposto do esperado. Mal usados, um pode trazer a dor e a morte física, a outra, a dor e a morte espiritual. Devido a Escritura nos advertir a mantermos a retidão da palavra da verdade ( cf. 2 Tm 2,15), é óbvio, portanto, que a palavra da verdade pode ser desviada de seu correto caminho – da mesma forma que um estudante de medicina destreinado que usa incorretamente seu instrumental. ¹
Em 1 Coríntios 4, 6 lemos: “E eu, irmãos, apliquei estas coisas, por semelhança, a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro.” ( Tradução João Almeida )
Partindo do pressuposto do versículo Isolado do contexto este seria um prato cheio para os seguidores da Sola Scriptura, assim como para um ateu que poderia usar Salmo 9, 24 pra provar na bíblia que “Deus não Existe”.
Está passagem é uma passagem de tradução muito difícil, que não se consegui achar palavra por palavra indo direto ao original, sendo assim só por isso já não poderíamos extrair definitivamente uma doutrina desta passagem.
Na bíblia Jerusalém a melhor tradução das Sagradas escrituras que temos em português está escrito:
“Nisto Tudo Irmãos, eu me tornei como exemplo juntamente com Apolo por causa de vós, a fim de que aprendais a nosso respeito a Máxima, (‘não ir além do que está escrito’) ”.
Nas notas de Rodapé vem explicando que:
“Texto difícil. A frase entre parêntese foi acrescentada por copista escrupuloso que indica a negação foi acrescentada a seu texto.”
Ou seja pode se extrair uma doutrina de um texto que há variações nos manuscritos antigos sem uma devida autoridade para confirmá-los?
Este comentário acima fizemos isolando o texto do contexto, agora vamos mostrar o contexto e com as Palavras de São João Crisostomo um dos Pais da Igreja teólogos dos Primeiros séculos na sua Homilia XII Especialmente sobre 1 Coríntios 4, 6 a real interpretação deste texto.
Quem já leu e sabe a problemática que levou Paulo a escrever tal carta, sabe que os coríntios estavam em contenta, disputas para ver qual era o melhor apostolo que havia evangelizados eles, os julgamentos indevidos, a comunhão com os pagãos e etc.
Em 1 Coríntios 4 diz: 1. Que os homens nos considerem, pois, como simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de Deus.2. Ora, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis.3. A mim pouco se me dá ser julgado por vós ou por tribunal humano, pois nem eu me julgo a mim mesmo. 4. De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. Meu juiz é o Senhor. 5. Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece. 6. Se apliquei tudo isso a mim e a Apolo foi por vossa causa, para que, em nós, aprendais a não ultrapassar o que está escrito e para que vos não ensoberbeçais tomando partido a favor de um e com prejuízo de outrem.
Veja que Paulo não diz nada a respeito de que os coríntios estavam seguindo algo além das escrituras e conseqüentemente repreende-los por isso. Apenas repreende-os sobre a má conduta deles e os exorta nesse caso a seguirem o que está escrito. Além do mais se Paulo estivesse se referindo a seguir somente as escrituras cairia novamente no mesmo sentido da primeira passagem analisada, estaria se referindo ao antigo testamento e não ao novo testamento visto que o NT ainda não estava escrito. O que ele fala que estava escrito provavelmente seja o conteúdo de uma carta anterior que ele escreveu comunidade que ele vai revelar no capítulo 5:
“Na minha carta vos escrevi que não tivésseis familiaridade com os impudicos. Porém, não me referia de um modo absoluto a todos os impudicos deste mundo, os avarentos, os ladrões ou os idólatras, pois neste caso deveríeis sair deste mundo.” ( 1 Cor 5, 9-10 )
Onde está esta carta? E o conteúdo dela? Por que ela não foi considerada um livro inspirado? É uma carta chamada de “pré canônica” que não foi conservada, e logo após essa depois de Paulo ter recebido a noticia na casa de Cloé (1 Cor 1, 11) resolveu escrever esta outra carta que para nós é 1ª Coríntios.
Agora vamos deixar São João Crisostomo (+ 407 d.C) explicar melhor o que Paulo quer dizer com “Não ir além do que está escrito”:
“Mas qual é o significado de “não ser sábio acima do que está escrito?” Está escrito (St. Matt. Vii. 3.) “Por que vês tu o argueiro que está no olho do teu irmão, porém não o feixe que está no teu olho?” e “Não julgueis, para que não sejais julgados”. Porque, se nós somos um e são mutuamente unidos, não nos convém levantar-se um contra o outro. Para “aquele que se humilha será exaltado”, diz ele. E (. St. Matt xx 26, 27;. São Marcos x 43;. Não literalmente) “Aquele que será o primeiro de todos, que ele seja o servo de todos”. Estas são as coisas que “são escritas.”” (Crisostomo, XII Homilia sobre 1 Coríntios)
Veja que há uma variação nas palavras de São João Crisostomo em relação a esta passagem que também é uma tradução válida “não ser sábio além do que está escrito” por causa de variações nos manuscritos (Koiné e Bizantino) que contém uma palavra ( phronein ) que ao pé da letra é traduzida como “saber, pensar, tem uma opinião” no particípio passado. Existe melhor interpretação bíblica do que dos primeiros Cristãos?
Portanto mais uma vez provado que a Sola Scriptura não tem base sólida em si mesma, parte de uma autoridade Extra-bíblica, tornando-a auto refutável.
In Cord Jesu, Semper,
Rafael Rodrigues
Referencias e fonte utilizada:
¹ Charles the Hammer, Traditional Catholic Apologetics, Tradução: Carlos Martins Nabeto.
Foto: Web
Site: Sã Doutrina
Editado por Henrique Guilhon
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