Prezado leitor(a) anônimo(a), a fé da Igreja não é essa que você descreve. Em primeiro lugar, não dizemos que a Igreja Católica é "a única aceita", a única "considerada" una e santa, assim como se existissem muitas "igrejas" criadas por seres humanos e Deus tivesse escolhido uma delas, por ser a melhor ou a que mais lhe agrada. Nada disso. A verdade é que Jesus Cristo mesmo, diretamente, fundou apenas umaIgreja neste mundo, - a sua Igreja, - e deu a esta única Igreja a autoridade sobre a doutrina. Também a esta Igreja confiou a guarda do seu "rebanho", isto é, do seu povo neste mundo. Tudo isso é 100% bíblico, como você deve saber.
Jesus não disse a Simão "tu és Pedra e sobre esta Pedra edifico 'as minhas igrejas'"... Ele disse: "Sobre esta Pedra edifico a minha Igreja", no singular; uma só Igreja (Mt 16,18). Além disso, ele deu aos Apóstolos e seus sucessores a autoridade para perdoar ou não perdoar os pecados, para ligar e desligar na Terra o que será ligado ou desligado no Céu (Mt 16,19; 18,18). Pelo estilo das abreviações dos livros da Bíblia que você usa, noto que anda consultando material protestante, pois os católicos não separam os livros dos capítulos com ponto nem com dois pontos, e sim com vírgulas (saiba mais aqui). No entanto, a própria Bíblia, que você parece citar como regra absoluta de fé e prática dos cristãos (o que é um erro, veja porquê), também afirma: "Há um só Corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, há uma só Fé e um só Batismo" (Ef 4,4-5).
Uma só fé, um só batismo, portanto uma só Igreja, pregando esta única fé, ministrando este único batismo. Não podem existir diversas igrejas pregando diversos tipos de fé diferentes, e cada uma ministrando o seu próprio batismo (algumas das chamadas 'igrejas' dizem que o batismo cristão é 'nas águas', outras dizem que batizam 'no Espírito'; algumas aceitam o batismo de crianças, outras não; umas dizem que o batismo tem que ser por imersão, num rio ou num tanque, outras praticam o derramamento ritual da água na fronte; umas dizem que sem o batismo não há salvação, outras ensinam o contrário, e por aí se vai...). Qual seria então a autêntica Igreja una, que ministra o único batismo e guarda a única e verdadeira fé? Obviamente, se há só uma, a primeira Igreja tem que ser a verdadeira, por ser a única que vem do tempo dos Apóstolos, a única que foi perseguida pelos judeus e pelos imperadores romanos, até prevalecer e ganhar o mundo. Que Igreja é essa? Essa pergunta eu simplesmente deixo para você responder.
Ainda há mais: Jesus Cristo deu a missão de "apascentar" suas ovelhas e cordeiros, isto é, conduzir a sua Igreja neste mundo, especialmente ao Apóstolo Pedro. Pedro foi, portanto, o primeiro Sumo Pontífice, como deixa claro o livro dos Atos dos Apóstolos, quando, no primeiro Concílio da Igreja, o próprio Pedro declara: "O Senhor me escolheu dentre vós (os Apóstolos reunidos) para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho" (At 15,7).
Além de tudo isso, a Bíblia também afirma categoricamente, várias e várias vezes, que a Igreja é o Corpo do Senhor no mundo, do qual é Cristo mesmo a Cabeça (1Cor 10,16; 12, 12 / Cl 1, 18 / Ef 5, 23 / Rm 12, 4-5, etc...). Afirma que a Igreja é a "Noiva ataviada (adornada)" de Cristo (Ap 21,2-3). Afirma que a Igreja é a coluna e o sustentáculo da Verdade para todo aquele que crê (1Tm 3,15).
Tudo isso demonstra, de maneira muito clara e totalmente objetiva, que só há uma autêntica Igreja de Jesus Cristo, e que essa Igreja é conduzida pelos sucessores dos Apóstolos, tendo por líder o sucessor do Apóstolo Pedro.
Está mais do que claro, portanto, que quando a Bíblia fala n"aqueles que o receberam, aos que creram no seu Nome" (Jo 1,12), está falando dos que aderiram à sua Igreja una, santa, católica (universal) e apostólica. Estar na Igreja é estar em Cristo, como diziam muitos santos, entre os primeiros cristãos: "Ubi Petrus, Ibi Ecclesia, Ibi Deus!" – "Onde está Pedro (o Papa), aí está a Igreja; onde está a Igreja, aí está Deus!".
E quanto aos não católicos?
Outra preocupação que me parece contida na sua pergunta diz respeito às pessoas que não pertencem à Igreja Católica, que não a conheceram, ou que não a compreenderam e por isso não aderiram a ela. Estarão todos os que não são católicos condenados ao inferno?
A própria doutrina católica diz que não. Todos nós sabemos que, historicamente, o Evangelho não chegou a conquistar todas as almas, seja porque não chegou fisicamente a todos os lugares da Terra, seja porque, ainda que tenha chegado, nem sempre foi da maneira ideal, e assim nem todos o acolheram ainda.
Para explicar melhor, recorremos a dois textos do Magistério da Igreja: o primeiro é um discurso do Papa Pio IX no Consistório de 8 de dezembro de 1854, ocasião da solene proclamação do Dogma da Imaculada Conceição de Maria. O Papa declarou que aqueles que ignoram a verdadeira religião, quando sua ignorância é invencível, não são culpados ante os olhos de Deus. Anos depois, retomou este ensinamento, declarando o sentido do termo "ignorância invencível" na Carta Encíclica "Quanto Conficiamur Moerore" (1863): "(...)Os que observam com zelo a lei natural e seus preceitos, esculpidos por Deus no coração de todo homem, podem alcançar a vida eterna se estão dispostos a obedecer a Deus e se conduzem uma vida reta".
Pio IX nada mais fez do que reafirmar uma convicção eterna da teologia cristã. São Paulo já havia dito em sua carta aos romanos: "Os pagãos, que não têm a Lei, fazendo naturalmente as coisas que são da Lei, embora não a tenham, a si mesmos servem de Lei; eles mostram que o objeto da Lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus pensamentos, com os quais se acusam ou defendem no dia em que Deus julgará, por Cristo Jesus, as ações ocultas dos homens" (Rm 2,14-15).
Vemos que existem pessoas que, por várias razões, - seja por incapacidades naturais, condicionamentos culturais, seja por experiências ou contatos negativos com a fé cristã, - não chegam ao consentimento da fé. Ainda que pareça que essas pessoas rejeitem a Cristo, não podemos sobre isso emitir um juízo definitivo. "Ignorância invencível" indica precisamente uma condição de falta de conhecimento a respeito de Cristo, à Igreja, à fé, à verdade do Evangelho. É uma falta de conhecimento que, de momento, não pode ser superada apenas com um ato de vontade própria. A razão e/ou a vontade da pessoa está como que "bloqueada", impossibilitada de chegar ao "sim" que a fé exige. Como podemos notar facilmente, entre nossos conhecidos, as razões pelas quais muitas pessoas dizem não a Cristo são múltiplas: má formação, desilusões, maus exemplos, traições, uma má catequese (algo lamentavelmente muito comum), condicionamento familiar, cultural e/ou social, etc…
Portanto, a Igreja não afirma que exclusivamente aqueles que aderiram visivelmente ao catolicismo serão salvos.
Esperando, com a Graça de Deus, ter lançado alguma luz sobre a questão, desejamos bençãos e a Graça divina a todos os que leram este artigo na íntegra.
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