Poucos dias após a renúncia de Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, o seriado "Evidências", produzido pela TV Novo Tempo (ligada à igreja Adventista, contando com o apoio cultural da sua Casa Publicadora Brasileira [30:18]), dedicou todo um programa à "História do Papado"[0], apresentado e narrado pelo "teólogo e arqueólogo" Rodrigo Silva [00:34 / 30:13] que, segundo afirmava, pretendia "contar um pouco da história dos Papas" [01:27], expondo as coisas segundo "fatos históricos, bíblicos e proféticos" [27:27].
Continuando
4. ACUSAÇÕES DIVERSAS CONTRA O CATOLICISMO COMO UM TODO
É claro que a "metralhadora giratória" não podia ser apontada apenas contra o Papado... Para manter a "tradição protestante", ela deve ser apontada também para diversos outros temas, que as "profecias adventistas" do séc. XIX pretendem lançar "luz":
1º) Jesus também advertiu aos Apóstolos que não se deixassem ser chamados como "guias da Igreja", porque Cristo é o único guia, no entanto, o clero católico se denominou o supremo guia espiritual teológico dos leigos [09:35]
Jesus advertiu aos Apóstolos que não se deixassem ser chamados como "guias da Igreja"? Onde, na Bíblia (inclusive na tradução protestante de Almeida, usada pelos Adventistas), encontra-se essa expressão?
A "Sola Scriptura" também não funciona aqui...
Pior: o Protestantismo adota o título de "pastor" para a sua liderança... E qual a função principal do pastor? Não é justamente guiar, conduzir, apascentar o rebanho? E não foi exatamente isso que Jesus ordenara em João 21? "Apascenta as Minhas ovelhas"...
Como se vê, o programa cai numa contradição pra lá de aberrante, apenas para manifestar a todo custo sua posição anticatólica.
2º) A 1a parte de Daniel 7,25 diz que o "futuro poder" da besta cuidaria de reformar os calendários[18]. Isto realmente foi feito pela Roma pagã (Calendario Juliano, de ano 46 a.C.) e também pela Roma papal (Calendário Gregoriano, de 1582), fazendo com que os calendários bíblicos baseados na agricultura, na astronomia e nas festas religiosas fossem quase esquecidos [22:17].
Para começar, o principal calendário adotado pelos judeus (e, portanto, pela Bíblia) não foi estabelecido por estes, mas pelos babilônios! Prova disso está em Êxodo 13,3-4, em que Moisés, falando dos Ázimos diz:
- "Lembrai-vos deste dia, em que saístes do Egito, da casa da escravidão, pois com mão forte Iahweh vos tirou de lá e, por isso, não comereis pão fermentado. Hoje é o mês de ABIB e estais saindo".
Mas qual é o "mês tradicional" que os judeus celebram os ázimos? NISAN, pois a partir do Exílio Babilônico passaram a seguir o calendário deste povo pagão!!! Temos ainda 1Reis 6 a 8, que aponta três meses do calendário fenício...
Não coube, pois, à Bíblia estabelecer o Calendário universal. Prova disso, são as "lacunas" nos calendários: se pesquisarmos a Bíblia de capa a capa, veremos que ela não aponta todos os meses do ano, nem do calendário original (citado por Moisés), nem do calendário babilônico (adotado pelos judeus exilados), nem do calendário fenício, nem de nenhum outro...
O questão do calendário não é, pois, de natureza bíblica, mas científica, de modo que a reforma do calendário realizada pelo Papa Gregório XIII (1572-1585) era medida que se fazia extremamente necessária pois o equinócio da primavera (usado para o cômputo da Páscoa) caía cada vez mais cedo, já que "desaparecia" 1 dia a cada 128 anos. Assim, no tempo de César, o equinócio da primavera caía no dia 24/03; 128 anos depois, em 23/03;... no séc. XVI, o equinócio já estava próximo de 11/03! Portanto, além de extinguir a diferença entre o ano civil e o ano trópico, era preciso também evitar que, após a reforma do calendário, o problema tornasse a ocorrer.
Consultando diversos astrônomos e matemáticos de renome (Inácio Danti, Cristóvão Clau, Pedro Chaón, Aloísio e Antonio Lílio), Gregório XIII apresentou, por fim, o novo calendário através da bula "Inter Gravissimas", de 24/02/1582.
Por outro lado, convém observar que a Comissão de Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas (do qual a Igreja Católica não faz parte) apontou, em um documento de 07/04/1999, que:
- "O calendário gregoriano está mais próximo da realidade astronômica do que o calendário juliano. Conforme o primeiro, o ano civil conta 26 segundos a mais do que a duração da terra em torno do sol, ao passo que, segundo o calendário juliano, a diferença é de 11 minutos e 14 segundos. Atualmente o calendário juliano acusa uma diferença de 13 dias em relação ao calendário gregoriano. No ano 2100, a diferença será de 14 dias".
Recorde-se também que a Conferência de Alep, na Síria, celebrada em 03/1997, com o participação do mesmo Conselho Mundial de Igrejas e do Conselho das Igrejas do Oriente Médio, recomendou, entre outras coisas, que todas as igrejas cristãs continuassem a fixar a data da Páscoa no domingo que se segue à primeira lua cheia da primavera nórdica, segundo o método de cálculo adotado pelas comunidades do Oriente e do Ocidente, método este já estipulado pelo 1o Concílio de Niceia em 325. É bom esclarecer que a Igreja Adventista do 7º Dia foi uma das participantes desta Conferência...[19]
E depois vão dizer que a Igreja Católica é inimiga da Ciência! No mais, veja-se o que foi escrito mais acima sobre a celebração da data da Páscoa.
a) Os meses atuais "são quase todos" homenagens aos imperadores romanos - como Júlio César (Julho) e Augusto (Agosto) - ou aos deuses romanos - como Marte (Março) e Ianus (Janeiro). O mês de Setembro, que lembra Sete, passou a ser pelas mudanças romanas o mês nove e assim sucessivamente até Dezembro [22:50].
O calendário latino, de 12 meses, foi estabelecido antes da Era Cristã pelos romanos, povo de origem pagã. Portanto, não é de se estranhar que alguns meses derivem dos nomes dos seus deuses ou imperadores. Aliás, a própria Bíblia, adotando majoritariamente o calendário babilônico, não teve o condão de alterar-lhe os nomes dos meses; e nem mesmo os judeus tentaram fazê-lo por conta própria. Daí o absurdo do argumento adventista.
O Papa Gregório XIII, embora pudesse, não alterou os nomes dos meses para evitar mais confusão ainda, já que diversas nações (principalmente as protestantes) estavam boicotando a reforma do calendário; contentou-se com tão somente ajustar os dias do ano civil ao ano trópico.
Contudo, o imperador francês Napoleão Bonaparte quis, em 1792, por conta própria, alterar os nomes e dias dos meses do ano, tendo por base as condições climáticas e agrícolas das estações (algo mais "natural", como de certa forma defendeu o programa), para simbolizar a quebra com a ordem antiga. Eis os meses do ano segundo este "novo Calendário":
No outono:
- Vindemiário: vindima das uvas (de 22 de setembro a 21 de outubro)
- Brumário: nevoeiro (de 22 de outubro a 20 de novembro)
- Frimário: geadas (de 21 de novembro a 20 de dezembro)
No inverno:
- Nivoso: neve (de 21 de dezembro a 19 de janeiro)
- Pluvioso: chuvas (de 20 de janeiro a 18 de fevereiro)
- Ventoso: ventos (de 19 de fevereiro a 20 de março)
Na primavera:
- Germinal: germinação das sementes (de 21 de março a 19 de abril)
- Floreal: flores (de 20 de abril a 19 de maio)
- Pradial: prados (de 20 de maio a 18 de junho)
No verão:
- Messidor: colheita (de 19 de junho a 18 de julho)
- Termidor: calor (de 19 de julho a 17 de agosto)
- Frutidor: frutos (de 18 de agosto a 20 de setembro)
A confusão no Império francês foi tamanha, que o "Calendário Revolucionário" foi extinto em 31 de dezembro de 1805 pelo próprio Napoleão, restabelecendo-se, assim, o Calendário Gregoriano.
Bem que os Adventistas poderiam adotar o Calendário Napoleônico, baseado na natureza, para não ter que citar os "nomes inconvenientes" dos meses do Calendário latino... Que tal?
b) A Páscoa, celebrada na Bíblia no dia 14 de Nisã, passou para o domingo seguinte à lua cheia do equinóxio primaveril do hemisfério norte, para acomodar no mesmo calendário eclesiástico as festas religiosas católicas com as festas pagãs de Baco, deus do vinho, que deu origem ao Carnaval [23:33]
O que que é isso, companheiro?
As festas de Baco, deus do vinho, eram de dois tipos:
• As festas religiosas em sua homenagem, públicas, celebradas anualmente de 16 de março a 18 de março (data fixa); e
• As orgias ou bacanais (em razão da identificação de Baco com Dionísio), clandestinas, que não tinha data certa para ocorrerem, podendo se dar até 5 vezes ao mês!!!
Só com isto, percebe-se a falácia da afirmação, uma vez que a Páscoa cristã (celebrada sempre aos domingos desde o Período Apostólico) é uma data móvel no Calendário, de modo que raramente cai entre 16 e 18 de março (do mesmo modo que os dias 16 a 18 de março nem sempre caem em um domingo), bem como é propriamente celebrada um único domingo ao ano (e não 5 vezes todos os meses)...
Também duvidosíssima é a ligação histórica entre os antigos bacanais (realizados diversas vezes ao ano e cerca de 5 dias por mês) e o carnaval (popularmente festejado uma vez ao ano, antes do início da Quaresma). Parece que o único ponto de contato que existe entre essas duas festividades populares são os excessos e a promiscuidade. Como quer que seja, a Igreja Católica jamais apoiou tais vícios e pecados, de modo que a contra-argumentação do programa é completamente infundada e absurda.
Continua
Título Original: "A História do Papado": Uma Refutação a um Programa de TV Adventista
Foto: Web
Site: Apologistas Católicos
Editado por Henrique Guilhon
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