A Igreja é a coluna (mestra) e sustentáculo (preservadora) da verdade – 1º Tim 3,15

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É importante falar de Deus, das coisas de Deus, sem tirar os pés do mundo, pois estamos nele, embora que não sejamos dele. O Viver em Deus, fala de Deus, dos fatos da Igreja, do meio cristão católico. O Viver em Deus não é fechado em si mesmo, portanto faz também a apresentação de obras de outros sites católicos, o que, aqui, mais se evidencia, no intuito da divulgação e conhecimento dos mesmos. UM BLOG A SERVIÇO DA IGREJA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Sejam todos bem - vindos!

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Quando neste blog é falado, apresentado algo em defesa da Igreja, contra o protestantismo, é feito com um fundo de tristeza ao ver que existem "cristãos" que se levantam contra a única Igreja edificada pelo Senhor Jesus no mundo. Bom seria se isto não existisse, a grande divisão cristã. Mas os filhos da Igreja têm que defendê-la.

Saibam, irmãos(ãs), que o protestantismo, tendo que se sustentar, se manter, se justificar, terá que ser sempre contra a Igreja católica (do contrário não teria mais razão de sê-lo) ainda que seja pela farsa, forjar documentos, aumentar e destorcer fatos (os que são os mais difíceis para se comprovar o contrário pelos cientistas católicos, pois trata-se de algo real, mas modificado, alterado para proveito próprio.) E tentarão sempre atingir a Igreja na sua base: mentiras contra o primado de São Pedro, contra o Papa e sua autoridade, contra o Vaticano, contra a sua legitimidade, e outros tantos absurdos. São, graças a Deus, muitos sites católicos que derrubam (refutam) estas mentiras, provando o seu contrário, bastando portanto se fazer uma pesquisa séria, por exemplo, com o tema: cai a farsa protestante, refutando o protestantismo, etc. O Espírito Santo jamais abandona sua Igreja. Que saibamos, por este Espírito, amar aos protestantes que não participam destas ações malignas, e aos que se incumbem destas ações, os inimigos da Igreja, que saibamos, ainda que não consigamos amá-los o bastante, ao menos respeitá-los em sua situação crítica perante Jesus e desejar a eles a conversão e a Salvação de Nosso Senhor Jesus. "Se soubéssemos verdadeiramente o que é o inferno, não o desejaríamos ao pior inimigo".

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Notas Importantes

*O marcador “IDOLATRIA”, na seção TEMAS, abaixo, à esquerda, assim está exposto com a função de desmentir as acusações de idólatras aos católicos, outras vezes também denunciando que estes próprios acusadores cometem a idolatria ao dinheiro, entre outras.

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Tradutor

domingo, 21 de abril de 2019

Cristo passou pela morte para destruir a nossa morte



Felipe Aquino

Toda a nossa alegria e esperança estão na Ressurreição do Senhor; por isso a Páscoa é a maior festa do calendário litúrgico. A ressurreição do Senhor é a garantia da nossa ressurreição para a vida eterna em Deus, quando então, como nos assegura São Paulo, “Deus será tudo em todos” (1 Cor 15,28).

Cristo passou pela morte para destruir a nossa morte e ressuscitou para nos dar uma nova vida, pois: “Todo aquele que está em Cristo, é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!” (2 Cor 5,17).

Pelo batismo, o Senhor aplica a cada um de nós a salvação que Ele nos conquistou. Por isso, esse é o primeiro sacramento a ser ministrado a cada fiel. Ensinou-nos o apóstolo: “Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo, para que como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do pai, assim nós também vivamos uma vida nova” (Rm 6,3-4).

São Paulo deixou muito clara essa verdade essencial da nossa fé, ao repetir aos colossenses: “Sepultados com Ele no batismo, com Ele também ressuscitastes por vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Cl 2,12).

No batismo nosso homem velho, escravo do pecado e do demônio, foi pregado na cruz santa do Senhor, morreu e, então, saiu da água ressuscitado. Ali foi cancelado “o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. [O Senhor] aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na Cruz” (Cl 2,14). Por isso disse o Apóstolo: “Somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3,20).

Que maravilha! Nosso corpo será semelhante ao corpo glorioso do Senhor ressuscitado! Que mais poderemos desejar? É em vista disso que São Paulo bradou aos incrédulos: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé” (I Cor 15,14). E mais, disse ele: “Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima” (I Cor 15,19).

A ressurreição do Senhor é a garantia da nossa. O apóstolo nos ensinou que “semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível; semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita vigoroso” (1 Cor 15,42b-43). E, quando isto acontecer, disse o Apóstolo: “Quando este corpo corruptível estiver revestido da incorruptibilidade […] então se cumprirá a palavra da Escritura: “A morte foi tragada pela vitória” (Is 25,8). “Onde está ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (Os 13,14) (1 Cor 15,54-55). Cristo, com a Sua morte, destruiu o aguilhão (o ferrão) da morte, que é o pecado (cf. I Cor 15,56-57). Essa é a essência da nossa fé.

Com toda a diligência os Apóstolos anunciavam ao povo a ressurreição do Senhor. Já em Pentecostes, cinquenta dias depois da Páscoa, Pedro lhes dizia: “A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas” (At 2,32). “Vós o matastes crucificando-o por mãos de ímpios. Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte” (At 2,23b-24a). Na casa de Cornélio, Pedro repetiu: “Eles o mataram, suspendendo-o num madeiro. Mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia, e permitiu que aparecesse (…) às testemunhas que Deus havia predestinado, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressuscitou” (At 10, 39b-41).

Em vista de tudo isso São Paulo advertiu: “Se, portanto ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,1-3).

Essa é a dimensão nova que a ressurreição do Senhor deve trazer à nossa vida “É hora de deixarmos de lado o homem velho com os seus vícios: ira, maledicência maldade, inveja, ciúme, palavra torpe, soberba, vaidade, luxúria, preguiça, etc., e buscarmos os frutos do Espírito Santo: amor alegria, paz, bondade, paciência, mansidão, confiança, autodomínio” (Gl 5,19-22). E, acima de tudo, como disse o apóstolo: “Revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14).

A Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um evento histórico e transcendente. No n.639 o Catecismo afirma: “O mistério da Ressurreição de Cristo é um acontecimento real que teve manifestações historicamente constatadas, como atesta o Novo Testamento. Já S. Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: “Eu vos transmiti… o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Kefas, e depois aos Doze” (1Cor 15,3-4). O apóstolo fala aqui da viva tradição da Ressurreição, que ficou conhecendo após sua conversão às portas de Damasco.

O primeiro acontecimento da manhã do Domingo de Páscoa foi a descoberta do sepulcro vazio (cf. Mc 16, 1-8). Ele foi a base de toda a ação e pregação dos Apóstolos e foi muito bem registrada por eles. São João afirma: “O que vimos, ouvimos e as nossas mãos apalparam isto atestamos” (1 Jo 1,1-2). Jesus ressuscitado apareceu a Madalena (Jo 20, 19-23); aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-25), aos Apóstolos no Cenáculo, com Tomé ausente (Jo 20,19-23); e depois, com Tomé presente (Jo 20,24-29); no Lago de Genezaré (Jo 21,1-24); no Monte na Galiléia (Mt 28,16-20); segundo S. Paulo “apareceu a mais de 500 pessoas” (1 Cor 15,6) e a Tiago (1 Cor 15,7).

S. Paulo atesta que Ele “…ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e foi visto por Khefas, e depois pelos Onze; depois foi visto por mais de quinhentos irmãos duma só vez, dos quais a maioria vive ainda hoje e alguns já adormeceram; depois foi visto por Tiago e, em seguida, por todos os Apóstolos; e, por último, depois de todos foi também visto por mim como por um aborto” (1 Cor 15, 3-8).

“Deus ressuscitou esse Jesus, e disto nós todos somos testemunhas” (At 2, 32). “Saiba com certeza toda a Casa de Israel: Deus o constituiu Senhor (Kýrios) e Cristo, este Jesus a quem vós crucificastes” (At 2, 36). “Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos” (Rm 14, 9). No Apocalipse, João arremata: “Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos, e tenho as chaves da Morte e da região dos mortos” (Ap 1, 17s).

A primeira experiência dos Apóstolos com Jesus ressuscitado, foi marcante e inesquecível: “A paz esteja convosco!” “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu”! “Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o então e comeu-o diante deles” (Lc 24, 34ss).

Os vinte longos séculos do Cristianismo, repletos de êxito e de glória, foram baseados na verdade da Ressurreição de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu e cresceu em cima de uma mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do que a própria Ressurreição do Senhor.

Por Cristo ressuscitado milhares de fiéis enfrentaram a morte diante da perseguição dos judeus e dos romanos. Multidões foram para o deserto para viver uma vida de penitência e oração; multidões de homens e mulheres abdicaram de construir família para servir ao Senhor ressuscitado. Sua Igreja já sobrevive por 2000 anos, vencendo todas as perseguições. Já são 266 Papas, 21 Concílios Ecumênicos, e hoje são cerca de 4 mil bispos e 416 mil sacerdotes e 2 bilhões de fiéis. E não se trata de gente ignorante ou alienada; muito ao contrário, são universitários, mestres, doutores. “Eis que estou convosco todos os dias [Ressuscitado!] até o fim do mundo!” (Mt 28,20).

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Prof. Felipe Aquino



Sobre Prof. Felipe AquinoO Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.

Título Original: Ressuscitou!


Site: Cléofas
Editado por Henrique Guilhon

segunda-feira, 8 de abril de 2019

A Idade Média - Uma época obscura?

Web

Montfort


Fides, si non cogitatur, nulla est.
(A fé, sem a razão, é nula.)
Santo Agostinho, 354-430 d.C.


São muitas as vozes, amplificadas pelos meios modernos de propaganda, que defendem que a Igreja Católica Apostólica Romana propaga o obscurantismo e impede o desenvolvimento científico. Recentemente, esta acusação tem sido feita com maior freqüência devido às condenações pela Igreja ao uso de células-tronco retiradas de embriões humanos e à terapia transgênica. A Igreja, se bem que em si e por sua natureza tenha por fim a salvação das almas e a felicidade eterna, é entretanto, na própria esfera das coisas humanas, a fonte de tantas e tais vantagens, que as não poderia proporcionar mais numerosas e maiores mesmo quando tivesse sido fundada sobretudo e diretamente em mira a segurar a felicidade desta vida [i]. Esta afirmação poderia ser demonstrada de diversas maneiras, em particular, este artigo traz argumentos que mostram a participação fundamental da Igreja na institucionalização e organização da Universidade, instituição que tem sido, reconhecidamente, uma das criações mais fecundas do Ocidente medieval, na qual os doutores escolásticos transmitiram o amor à verdade, que precisava ser descoberta onde estivesse, e no desenvolvimento científico, onde numerosos integrantes do corpo eclesiástico deram significativas contribuições.

A Universidade medieval não tem precedentes históricos tanto por sua estrutura institucional quanto por seu papel social e intelectual [ii], [iii]. Poucas foram as escolas que se avizinharam da instituição universitária. É verdade que Platão traçou um programa de formação intelectual no Livro VII de sua República. Nessa República ideal, Platão supõe um Estado que patrocine e controle os estudos, mas na realidade, nenhum Estado concretizou, de fato, essa aspiração. No mundo helênico aparecem escolas públicas, mas todas isoladas. Em Roma, somente Adriano pensou estabelecer um Ateneu que se parecia muito a uma Universidade. Esse projeto, entretanto, somente se realizou e, assim mesmo, efemeramente, no tempo de Cassiodoro e do Papa Agapito I no século VI [iii].

As primeiras Universidades apareceram em Bolonha, Paris, Montpellier e Oxford nos primeiros anos do século XIII. Derivadas de escolas preexistentes, para além da diversidade das instituições, elas tinham em comum serem organismos autônomos de natureza corporativa [iv]. Neste aspecto, foi principalmente do papado, representado pelos grandes papas teólogos e canonistas da primeira metade do século XIII, que o apoio foi decisivo [ii]. Em todos os lugares o papado garantiu a autonomia universitária. Em 1214 foram outorgados os privilégios pontificais da Universidade de Oxford. Em Montpellier, onde prossegue o desenvolvimento contínuo das escolas de medicina desde os anos de 1130, a transformação em universidade foi conseguida em 1220 graças aos estatutos outorgados por um legado pontifical. Ademais, um legado pontifical outorgou à jovem universitas magistrorum et scolarium Parisiensium seus primeiros estatutos, confirmados solenemente pela bula pontifical Parens Scientiarum, de 1231 [ii].

Ser autônomo significava ser mestre de seu recrutamento, poder dotar-se de estatuto, poder impor a seus membros o respeito a uma determinada disciplina coletiva e a regras de cooperação mútua, poder, enfim, organizar livremente aquilo que era a própria razão de ser da cooperação universitária, quer dizer, o ensino, os programas, a duração dos estudos, as modalidades dos exames que sancionavam esses estudos e a colação dos graus que coroavam o êxito nos ditos exames [iv]. O título de doctor ou a licentia docendi, conferido pelas universidades medievais, não tem antecedente na Antigüidade clássica [iii].

A gratuidade do ensino e dos graus era um princípio sagrado no século XIII [iii]. As primeiras derrogações vieram de Oxford, onde para fazer viver os mestres, uma ajuda monetária foi consentida; em Paris, em 1281, o Papa Martinho IV sancionou a existência de uma caixa comum, para a qual os escolares contribuíam semanalmente.

O leque social nos meios universitários era extremamente largo [v]. Os nobres nunca foram muito numerosos nas universidades medievais; freqüentemente menos de 5% e, no máximo, 10 a 15%, em casos excepcionais. Os estudos universitários não condiziam ainda nem ao tipo de cultura nem ao tipo de carreira a que esse grupo social se dedicava preferencialmente. É bem provável que o maior número dos estudantes e dos graduados viesse das “classes médias”, sobretudo urbanas (notários, comerciantes, artesãos abastados etc) [ii]. Muitas matrículas assinalam a existência de pauperes studentes, reconhecíveis por serem mais ou menos dispensados do pagamento dos direitos universitários. Eram muito numerosos nas universidades alemãs. De uma maneira geral, os estudantes pobres eram particularmente numerosos nas universidades em que as faculdades de Artes haviam permanecido importantes e nas com característica eclesiástica. Os estudos de artes eram relativamente breves, pouco dispendiosos e podiam dar acesso a ofícios intelectuais como o de mestre-escola. Do papado, os universitários haviam também recebido privilégios apreciáveis em matéria beneficial: podiam receber benefícios eclesiásticos e gozar de seus rendimentos durante cinco ou sete anos sem residir no local e sem receber as ordens exigidas [v]. O Chanceler da Universidade de Paris, Jean Gerson (1363 – 1429), filho primogênito de uma família camponesa de doze filhos e nascido na pequena Vila Ardennais, havia começado seus estudos no mosteiro Saint-Remi em Reims. Ainda no século XIX, o monge agostiniano Gregor Mendel (1822–1884), cujo trabalho explicou a hereditariedade e fundou a Genética, era filho de camponeses pobres em Brunn, Morávia, para citar integrantes do corpo eclesiástico que deram significativas contribuições ao desenvolvimento científico.

Além disso, pelo fato do estatuto jurídico dos estudantes e dos mestres torná-los, por princípio, privilegiados, tornar-se estudante significava poder furtar-se ao imposto e às formas mais rigorosas da justiça ordinária, significava poder pleitear proventos dos benefícios eclesiásticos sem obrigação de residência e tomar assento sob a salvaguarda das mais altas autoridades, laicas ou eclesiásticas [iv].

Em todas as faculdades, o ensino era dominado por dois tipos fundamentais de exercícios: a aula (lectio) e o debate (disputatio). A primeira visava a fazer conhecer ao estudante as “autoridades” e, através delas, permitir-lhe dominar o conjunto da disciplina que estudava; a segunda era, ao mesmo tempo, para o professor, o meio de aprofundar mais livremente certas questões do que num comentário de texto e, para o estudante, a ocasião de pôr em prática os princípios da Dialética e de avaliar a precisão de seu raciocínio [v].

As aulas distinguiam-se entre ordinárias e extraordinárias. As aulas ordinárias eram dadas pelos próprios mestres sobre os livros importantes do programa, no início da manhã; as aulas extraordinárias, dadas por bacharéis, tinham lugar no final da manhã ou à tarde. Nos dois casos, o método era o mesmo: o professor, após uma aula de introdução, lia o texto a ser explicado, interrompendo-se em alguns trechos para um comentário; os estudantes acompanhavam em seu próprio exemplar do texto e tomavam notas.

O texto que se analisa é designado por lectio. Como mostra Pacheco [vi], a busca do entendimento do texto, que se escolhe dentre a já rica pluralidade de fontes e autores, cristãos ou não, inclui a tentativa da descoberta da intentio auctoris e o comentário analítico rigoroso. Acrescenta Pinekaers [vii], a escolástica, estruturada a partir da dimensão interpretativa do texto, assume características especiais: é abstrata, como resultado de um pensamento liberto das conotações acidentais; é analítica, pois a palavra significa a essência; é aistórica, situando-se ao nível do essencial, num presente independente do passado e do futuro; é impessoal, já que nunca usa a primeira pessoa; nunca é subjetiva, mas sempre aponta para o universal.

Os debates, por sua vez, eram um tipo de exercício característico da universidade medieval e constituíam a parte mais significativa do ensino nela praticado. Como salienta Pieper [viii]:

“Houve na universidade medieval a instituição regular da “disputatio”, que, por princípio, não recusava nenhum argumento e nenhum contendor, prática que obrigava, assim, à consideração temática sob um ângulo universal”.

Nas palavras de São Tomás de Aquino, a existência dos debates explicava-se porque:

“Assim como um juiz não pode sentenciar em um Juízo até haver escutado as duas partes, assim o homem que estuda a filosofia julga melhor se observa o choque das idéias, como o de dois adversários em luta” [iii].

Durante suas duas estadas em Paris, São Tomás organizou pelo menos 528 debates, ou seja, mais ou menos dois por semana [v]. Não era suficiente escutar a exposição das aulas por um mestre; era essencial que as idéias se examinassem criticamente nos debates [ix]. Os mais freqüentes eram os “debates ordinários”: o mestre escolhia um tema “quaestio”, presidia a sessão e encarregava um de seus bacharéis de apresentar a “questão” e de responder às objeções dos discípulos, pronto para ajudá-lo ou retomá-lo em caso de necessidade; o público podia compreender, além dos estudantes e dos bacharéis de aula do mestre, estranhos vindos de outras classes. No dia seguinte ao do debate, o mestre apresentava a síntese da discussão e a esclarecia. Uma ou duas vezes por ano, cada mestre devia também organizar um debate de quolibet, onde qualquer tema podia ser abordado e ao qual assistiam todos os membros da faculdade.

As leituras, comentários de textos e a participação nos debates habituavam os estudantes a se exprimir tanto em latim quanto em vernáculo e a posicionar-se em público, a enfrentar e, se possível, vencer, pela argumentação, os eventuais adversários. Seus estudos de lógica e de retórica lhes teriam dado a arte do raciocínio correto e da demonstração convincente. Um longo exercício da memória lhes permitia convocar, sem se referir a notas escritas, múltiplas citações de autoridades que fundamentavam seu saber. Junte-se a isso o fato de, na maior parte das universidades, os estudantes e os jovens mestres em artes poderem tomar a palavra na deliberação das diversas assembléias e conselhos, exercer funções eletivas, representar a universidade diante de autoridades exteriores. Pela importância dada a todas essas atividades, a universidade certamente contribuiu para a formação de homens de saber, dotando-os, não apenas de uma certa bagagem intelectual, mas de saber-fazer e de desembaraço social e politicamente úteis [iv].

Ademais, a Idade Média era atenta às finalidades sociais da universidade. Com efeito, repugnava-se, então, não apenas a idéia de uma cultura desinteressada, mas, também, aquela de um saber cujo detentor utilizasse a seu modo e exclusivamente para seu próprio benefício pessoal [iv]. “Deve-se aprender apenas para a própria edificação ou para ser útil aos outros; o saber pelo saber é apenas uma vergonhosa curiosidade” [x], já havia dito São Bernardo (1090-1153).

Há que se distinguir desde logo o século XIV, que, em muitos aspectos, especialmente em Paris e Oxford, aparece como um prolongamento do século XIII e o século XV onde as dificuldades sensivelmente se acumulam sobre as instituições devido às mudanças ligadas à emergência do Estado moderno [iv]. As universidades modernas, a partir da Renascença, são criações de príncipes e do Estado, que as absorve cada vez mais [ii], [xi]. Os estatutos que elas receberam desde sua fundação, sempre as caracterizando como instituições autônomas, deixam largas possibilidades de controle e de intervenção aos poderes externos e seus representantes. A mais óbvia foi freqüentemente que os professores (ou pelo menos alguns dentre eles) seriam, dali por diante, pagos pelo príncipe que, como retorno, exerceria o direito de responsabilizar-se por suas nomeações. No século XV, vê-se, na França, onde o reforço do poder real foi particularmente precoce, as velhas universidades (Paris, Orléans, Toulouse) passarem para a tutela de reis, de seus Parlamentos e de seus oficiais. Agora, as universidades estavam no quadro das instituições nacionais. O lento abandono de determinados tipos de exercícios (por exemplo, os debates) é, sobretudo no século XV, uma realidade incontestável [iv]. Talvez o mais inquietante seja o fato de os graus parecerem ter sido cada vez mais fáceis de serem obtidos, a julgar-se pelas taxas de êxito crescente que se percebe. De 1600 a 1800, as taxas de êxito passam em Oxford, (bacharelado em Artes) de 35% para 58%; em Franeker (Países Baixos) de 6% para 71% [ii].

O absenteísmo professoral, associado à falta de assiduidade dos alunos, esvaziava aulas e disputas. Para tomar o caso da França, se as principais universidades – Paris, Toulouse ou Montpellier – preservavam um determinado nível de exigência, pequenas universidades provincianas – Avignon, Orange, Orléans, Nantes, Caen, Reims – especializavam-se vergonhosamente na venda de graus a preços de liquidação e sem exame sério. As dispensas de todo tipo eram facilmente conseguidas. O próprio Estado resignava-se a isso, e tanto que, em 1682, autorizou os alunos de Direito com mais de 24 anos, “em virtude da idade”, a conseguir sua licença em seis meses (ao invés dos cinco anos exigidos) [xii].

Na Idade Clássica, até o final do século XVIII, a atividade das Universidades não mais resume toda a vida intelectual. Os reformadores do Iluminismo advogam a sua extinção como resíduos de uma inútil tradição medieval e propunham substituí-las por escolas especializadas [iii]. A Universidade, tão cara a Idade Média, sofria agora o perigo dos chamados “sábios” Iluministas. Os princípios defendidos nessa época são de que o ensino dever-se-ia ficar adstrito a pequenos grupos privilegiados. Voltaire, escrevendo a La Chalotais , concordava em que este tinha razão de proscrever os estudos entre os lavradores. E, numa carta a Damilaville, no ano de 1766, dizia claramente que seria conveniente que o povo fosse guiado e não instruído, afirmando: “Parece-me essencial que haja pobres ignorantes. ... Não é preciso instruir o artesão, mas sim o burguês. ... Se o povo se mete a raciocinar, tudo estará perdido” [xiii].

Além de instituir e fomentar o ensino universitário, a Igreja Católica desenvolveu e difundiu o saber através de seus clérigos. Integrantes do corpo eclesiástico formaram cientistas notórios como Descartes, que estudou no Colégio Jesuíta La Flèche; desenvolveram novas teorias; inventaram máquinas, aparatos; escreveram tratados, estudos, manuais; demonstraram novos princípios em diversos campos da Ciência e das Artes e levaram suas descobertas ao Oriente e às Américas.

A Idade Média viu surgir teorias valorosas, cujos méritos, muitas vezes, foram outorgados a Idade Moderna. A partir de estudos de tratados medievais sobre dinâmica e cinemática, Pierre Duhem argumenta que as idéias essenciais dos princípios básicos da física de Galileu (1564–1642) já estavam presentes no século XIV. A teoria do ímpetus de Jean Buridan (?1300–1358) é vista como um presságio da lei de inércia, que está no cerne da Revolução Científica dos séculos XVI e XVII, e as teses de Nicole Oresme (1323–1382) como uma antecipação da lei da queda dos corpos de Galileu e da geometria analítica de Descartes [xiv].

A participação significativa de integrantes do corpo eclesiástico no desenvolvimento científico foi reconhecida por cientistas notórios. O próprio Galileu, quando em 1611 esteve com Jesuítas em Roma, escreveu a um de seus amigos:

“Estive com os padres Jesuítas e me entretive durante muito tempo com o padre Clavius, com dois outros sacerdotes muito versados na nossa ciência e com os seus alunos também...percebi que eles verificaram a existência real dos novos planetas e que, há dois meses, eles não cessam as suas observações; nós as comparamos às minhas e umas concordam perfeitamente com as outras” [xv].

O trabalho do P. Leon Battista Alberti (1404-1472) é central no desenvolvimento da perspectiva. A palavra “perspectiva” designava, na Idade Média, a ciência da óptica (perspectiva communis). No seu tratado “Sobre a Pintura” de 1435, P. Alberti expõe a perspectiva expressamente no plano matemático e se baseia em conhecimentos sólidos de geometria e óptica: é pela análise dos triângulos e outras figuras formadas pelos raios visuais que convém estudar a representação do espaço. Daí a definição: “o quadro é uma interseção plana da pirâmide visual”. A perspectiva lhe fornece, em particular, os meios de “geometrizar” corretamente as projeções mais importantes das linhas retas (verticais, ortogonais ao plano do quadro etc) [xvi].

Para a história do pensamento científico, o fato é significativo. Como salienta Panofsky [xvii] “não é um exagero afirmar que, utilizado desta maneira, esse motivo (...) representa de algum modo o primeiro exemplo de um sistema de coordenadas que, na esfera da concretude artística, torna visível materialmente o ‘espaço sistemático’ moderno, antes mesmo que o pensamento abstrato matemático o tivesse postulado”. P. Alberti sintetizou e conceituou essas conquistas.

Na Idade Média essa área de estudos era muito ativa; através do que hoje veríamos como passos vacilantes, preparava-se uma síntese cada vez mais ajustada entre a análise geométrica e o estudo da visão dos objetos. De modo direto ou indireto, P. Alberti e seus contemporâneos conheceram esta tradição medieval. Não só o tratado de Jonh Pecham teve ampla difusão, como Blaise de Parma escrevera, por volta de 1390, um tratado de óptica (Quaestiones Perspectivae). Mais ainda, na década de 1420 circulara um tratado, Della Prospettiva, cujo autor foi Paolo Toscanelli. Como conclui Pierre Thuillier 16: “as inovações do século XV devem ser compreendidas com relação a um plano de fundo teórico muito rico. É impossível, em todo caso, aceitar-se a lenda (ainda muito difundida) do ‘obscurantismo medieval’”.

Contudo, o primeiro corpo de católicos eruditos que se tornou preeminente em ciências seculares foram os Jesuítas. A Sociedade de Jesus foi fundada em 1540 por Santo Inácio de Loyola. Os ‘homens do papa’, como eram conhecidos pela sua defesa e propagação da autoridade e do ensinamento papal, deram expressivas contribuições a inúmeras áreas do saber.

Foi o P. Christopher Scheiner (1573–1650), na sua obra Oculus (1619), o primeiro a provar a importância fundamental da retina na visão. Em 1630 publicou Rosa Ursina, sua principal obra. Nestes livros, P. Scheiner descreve algumas de suas descobertas e experimentos tais como a determinação do raio de curvatura da córnea e a descoberta da saída nasal do nervo óptico [xviii], [xix]. Este mesmo padre fornecera provas concludentes sobre a faculdade de acomodação do olho, e se celebrizara pela descoberta das manchas solares e pela invenção do pantógrafo [xx]. Outro jesuíta, o P. Francesco Lana-Terzi (1631–1687) criara um alfabeto para surdos-mudos e um método de leitura para cegos.

Na Matemática, o trabalho do P. Jesuíta belga Gregory Saint Vincent (1584–1667) Opus Geometricum Quadraturae Circuli et Sectionum Coni (1647) fez com que Leibniz o reconhecesse, ao lado de Fermat e Descartes, como um dos que estabeleceram as bases da geometria analítica [xxi]. Pode-se citar também o P. Andrea Tacquet (1612–1660) cujas obras, dentre elas seu principal trabalho Cylindricorum et Annularium (1651), influenciaram Pascal. Neste mesmo século, o P. Girolamo Saccheri (1667–1733) lançava os fundamentos da primeira geometria não euclidiana em Euclides ab Omni Naevo Vindicatus (1733), obra que influenciou Riemann, Lobachevsky, Bolyai e Gauss.

O P. Vincenzo Riccati (1707–1775), por sua vez, estudou equações diferenciais e integrais. Descobridor das funções hiperbólicas, ele encontrou as fórmulas padrão de adição para estas funções e sua relação com a função exponencial. Lambert é freqüentemente citado como o primeiro a introduzir as funções hiperbólicas, contudo, sabe-se que ele não o fez até 1770, enquanto o trabalho do P. Riccati foi publicado entre 1757 e 1767. Seu livro Institutiones é reconhecido como o primeiro tratado extensivo sobre cálculo integral.

Na Física, foram importantes as contribuições do P. Jesuíta Francesco Grimaldi (1613–1663). P. Grimaldi descobriu a difração da luz e expôs a teoria ondulatória de sua propagação na obra Physicomathesis de Lumine (1666). Newton trata das proposições sobre difração da luz de Grimaldi na Parte III de sua Opticks (1704).

Não se deve deixar de mencionar as contribuições do P. Jesuíta Rogério Boscovich (1711–1787) ao desenvolvimento teórico sobre a estrutura da matéria, expostas em sua Theoria Philosophae Naturalis, a qual traz esboços da teoria sobre quarks [xxii]. Nas palavras de Thomson [xxiii]:

“A natureza da coesão foi mais adequadamente explicada por Boscovich do que qualquer outro filósofo. Esta é a mais bela e satisfatória parte de sua teoria”.

Também foram importantes as contribuições dos Jesuítas à Astronomia e à Geofísica. Desde 1824 até hoje, 73 observatórios ao redor do mundo são operados por Jesuítas. Dentre os mais importantes e mais conhecidos estão o do Collegio Romano (Roma), Stonyhurst (Inglaterra), Kalocsa (Hungria), Ebro (Espanha), Georgetown (Washington), Havana (Cuba), Zikawei (China), Manila (Filipinas), Tananarive (Madagascar), Riverview (Austrália) e Calcutá (Índia) [xxiv]. Neste aspecto, não se deve deixar de citar as contribuições do P. Ângelo Secchi (1818–1878), em particular, seus trabalhos sobre classificação espectral de estrelas. Ele foi o primeiro a fazer uso sistemático desta técnica na classificação de estrelas, o que o fez ser chamado de “pai da Astrofísica”. Na Itália, fundou a Sociedade Italiana de Espectroscopistas, dedicada a estudos espectroscópicos do Sol. Destacam-se, do mesmo modo, as contribuições dos Jesuítas à Meteorologia, especialmente no estudo e previsão de furacões tropicais [xxv].

Já no século XX, o P. Jesuíta Georges Lamaître (1894-1966) apresentou as bases da teoria da expansão do Universo em um artigo publicado nos Anais da Sociedade Científica de Bruxelas, em 1927 [xxvi]. Sua teoria foi confirmada em 1964, quando Arno Penzias e Robert Wilson descobriram a radiação de fundo, cuja existência Gamow havia previsto como uma relíquia da explosão inicial. Por seu trabalho, uma comissão internacional lhe outorgou o Prêmio Francqui, em 1934, o qual recebeu das mãos de Einstein.

Tampouco as extraordinárias contribuições dos Jesuítas se limitaram à ciência. Em 1773, contavam com 350 teatros na Europa. Fundaram o primeiro teatro no continente norte-americano – precisamente em Quebec, em 1640. Ensinaram a França a fazer porcelana. O guarda-chuva, a baunilha, o ruibarbo, a camélia e o quinino foram inovações jesuíticas na Europa.

Menos de cem anos depois da fundação da Sociedade de Jesus, os Jesuítas se tornaram os primeiros europeus a penetrarem no Tibet e depois seguirem dali para a China. O P. Jesuíta Matteo Ricci (1552–1610) provou que a Catai de Marco Pólo era idêntica à China, e não um país diferente, e publicou os primeiros mapas da China disponíveis no Ocidente. Na China, este mesmo padre redigiu um tratado de geometria euclidiana em chinês e ensinou-lhes a arte de fabricar relógios de sol. Pelos seus serviços, foi declarado mandarim oficial no palácio do imperador em Pequim. No Japão, o P. Jesuíta português Luis De Almeida fundou, em 1557, o primeiro hospital no Oriente, dentro do qual foi fundada a primeira escola Médico-Cirúrgica [xxvii]. P. Almeida manda construir também um orfanato com vacaria anexa, visando, deste modo, reduzir a mortalidade infantil na região [xxviii].

No Brasil, os Padres Jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta foram exemplos de um prodigioso sacrifício e abnegação a serviço daqueles da recém descoberta Terra de Santa Cruz. Fundaram colégios, ensinaram aos índios a arte de construir moradias com proporção e alinhamento, fazer móveis, plantar e cultivar a terra. Ainda não estava concluída a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda e já a escola estava franqueada aos meninos da nova Cidade do Salvador [xxix]. A criação da escola sempre contemporânea da própria cidade, ou a ela precedendo, como aconteceu em São Paulo, de modo a não se encontrar povoação alguma de certa importância que não tivesse o seu colégio, é um fato característico da missão jesuítica na América Latina.

Foi na escola de Piratininga, inaugurada no dia da Conversão de São Paulo, donde veio ao colégio o nome de São Paulo, derivando-se mais tarde a denominação para a cidade e da cidade para o Estado que P. Anchieta passou, por vezes, noites inteiras a tirar cópias, para os discípulos poderem, a falta de livros, estudar as lições [xxx].

P. Anchieta cultivou com esmero no Brasil as línguas portuguesa e tupi. Deixou-nos sobre esta última a Arte da Língua mais Usada na Costa do Brasil, bem como em latim a Ars Grammatica Linguæ Brasilicæ e o Dictionarium Linguæ Brasilicæ. No mais, a lista de alunos célebres dos Jesuítas no Brasil inclui Gregório de Mattos, Cláudio Manuel da Costa, José Basílio da Gama e P. Antonio Vieira, que, tendo vindo para o Brasil na idade de oito anos, recebeu sua formação literária e científica dos Jesuítas no Colégio de Jesus da Bahia. Também podem ser incluídos os historiadores Francisco de Souza e Pedro Taques, cronista dos bandeirantes, discípulos da Companhia no Rio de Janeiro 29.

Pelo mencionado, a Igreja, no seu magistério, empreendeu-o não somente a salvação das almas e para a felicidade eterna, mas de modo excepcional na esfera das coisas humanas em mira a segurar ainda a felicidade desta vida. Deste modo, por tudo que fez e defende, não se deve obscurecer com afirmações infundadas e distorções históricas absurdas o brilho da contribuição da Igreja Católica ao ensino e ao desenvolvimento científico. Contudo, como reconhece a própria Igreja, esta não se surpreende de ser, à semelhança do seu divino fundador, “objeto de contradição”; mas, nem por isso deixa de proclamar, com humilde firmeza, a lei moral toda, tanto a natural como a evangélica.

Rogério Côrte Sassonia 11/set./2005.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[xix]. Daxecker, F.; Scheiner, Christoph Eye Studies, Doc. Ophthalmol. 1992, 81, 1, 27.

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[xxii]. Rinard, P. M.; Quarks and Boscovich, Am. J. Phys. 1976, 44, 7, 704.

[xxiii]. (The nature of cohesion has been more happily explained by Boscovich than by any other philosopher. Indeed it forms the most beautiful and satisfactory part of his theory). Thomson, Thomas; A System of Chemistry in For Volumes, 5a Ed., Londres, 1818 apud Rooney, R.; Roger “Boscovich and the Development of Chemical Theory”, J. Chem. Educ. 1985, 62, 10, 848.

[xxiv]. Udías, S. J., Agustín; Serving God and Science, Astronomy and Geophysics 2001, 42, 2, 23.

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[xxix]. Cabral, S. J., L. G.; Jesuítas no Brasil (Século XVI), vol. III, Companhia Melhoramentos: São Paulo, 1925, cap. 3.

[xxx]. Cabral, S. J., L. G.; Pátria e Religião, Sta. Rosa: Nictheroy, 1922, p. 8 apud Cabral, S. J., L. G.; Jesuítas no Brasil (Século XVI), vol. III, Companhia Melhoramentos: São Paulo, 1925, cap. 3.

Título Original: Épocas Obscuras?


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sexta-feira, 5 de abril de 2019

Namoro - As quatro virtudes que o mantém




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O caminho para um namoro santo exige 4 virtudes: maturidade, renúncia, espera e paciência

É maravilhosa a essência do amor em todas as suas faces, mas essa experiência perfeita se torna delicada e negativa quando se desvirtua de sua realeza. Amar é dom de Deus e por isso é uma experiência tão perfeita.

Amar é um exercício complexo e encantador, no qual deixamos de viver exclusivamente o nosso tempo para entrar, esperar e compreender o tempo de alguém. E aí temos de perceber a profundidade desse sentimento; amar é, sim, entrar no tempo do outro, é entender, perdoar, estar ao lado sempre, mas não é apoderar-se das vontades alheias nem possuir as rédeas da vida do outro.

Um amor verdadeiro não afasta as pessoas, mas as aproxima; não atropela as etapas que devem ser respeitadas. Não pertencemos a ninguém, não somos propriedade ou objetos de satisfação pessoal; o namoro é, antes de tudo, momento de conhecimento. Somos templo do Espírito Santo de Deus, pertencemos somente a Ele. Amar não é acorrentar, ao contrário é libertar o outro para um mundo diferente do isolamento, da autossuficiência.

Como diz padre Fábio de Melo, “Amor humano é devolução, é restituição. E aquele que aceita qualquer coisa, também será deixado por qualquer coisa”. Somos filhos do céu, filhos da luz, merecemos o Amor em sua mais fiel essência e pureza, não podemos nos contentar com migalhas, fantasias passageiras, promessas imaturas e impensadas. Amar exige maturação, exige renúncia, espera e paciência. É saber entrar no tempo do outro e, acima de tudo, saber permitir que o outro entre em nosso tempo quando isso, de fato, valer a pena.

Diante disso, procure um amor de verdade, diferente daquele que lhe manda flores, envia mensagens e cartões apaixonados; procure um amor que seja muito mais do que isso! Procure um amor que o ajude na caminhada árdua para chegar onde todos nós devemos ir: ao céu!

Um amor que ache seu terço a pulseira mais bela, seu escapulário o seu colar mais lindo, que veja nas suas roupas (avessas ao que o mundo prega) um sinal de pureza e integridade e a ache a mulher mais bela do mundo! Compreenda que, na hora da missão, a rasteirinha toma o lugar do salto alto, que o Evangelho é o mais lindo batom que deve sempre estar em seus lábios e encontre, no seu olhar de compaixão aos irmãos, o brilho mais bonito!

Aquele que entenda que as músicas ouvidas por você são sinal de oração e ligação profunda com o seu Maior Amado: Deus; compreenda que a Missa diária não é loucura ou fanatismo, mas uma necessidade; saiba que a sua Bíblia é o que nunca falta na sua bolsa! Aquele que compreenda sua vocação e a ajude a seguir nesta vontade do Pai!

Procure um amor que entenda a importância da adoração ao Santíssimo Sacramento, muito mais que um encontro de vocês! Que veja, nos retiros e congressos, pontes que poderão levá-los ao Eterno, e não se importe em adiar passeios e viagens por isso! Acredite que a castidade é o único caminho para um namoro santo e um matrimônio enraizado na fé!

Que sejam assim, desde o início, o nosso relacionamento, baseados em princípios e valores da Palavra de Deus e nos mandamentos da Igreja, é verdade que, nem assim, serão perfeitos; sempre passarão por dificuldades, mas é mais certo ainda que estarão no caminho certo, afinal estaremos construindo em rocha firme, portanto, nada poderá derrubar o que vêm de Deus! Por mais difícil que pareça, creia que Deus está preparando seu amado! Paz e Bem!

(Giselle Ferreira (Membro da Comunidade Mariana Boa Semente – Quixeramobim/CE, via Destrave)

Título Original: 4 virtudes para o bem do namoro


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