Poucos dias após a renúncia de Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, o seriado "Evidências", produzido pela TV Novo Tempo (ligada à igreja Adventista, contando com o apoio cultural da sua Casa Publicadora Brasileira [30:18]), dedicou todo um programa à "História do Papado"[0], apresentado e narrado pelo "teólogo e arqueólogo" Rodrigo Silva [00:34 / 30:13] que, segundo afirmava, pretendia "contar um pouco da história dos Papas" [01:27], expondo as coisas segundo "fatos históricos, bíblicos e proféticos" [27:27].
Continuando
São Paulo também diz com extrema clareza: "Rogamo-vos, irmãos: não vos deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta tidas como procedentes de nós e que vos afirmassem estar iminente o dia do Senhor. Ninguém de modo algum vos engane". Estes versículos também foram omitidos pelo programa, mas é fácil adivinhar o porquê: os Adventistas (e também os Testemunhas de Jeová) NÃO OBEDECEM este ensinamento inspirado de São Paulo: desde seu surgimento, com Willian Miller (por volta de 1816), até seu desenvolvimento com as "profecias" de Ellen Gould White (cerca de 1845), o que o Adventismo mais faz é ficar, ele próprio, perturbado e alarmado com o Dia do Juízo e - pior ainda! - ficar perturbando e alarmando os outros com base nas suas "pretensas revelações", que historicamente já se demonstraram falhas... Antes, deveriam seguir os ensinamentos simples e objetivos do Senhor: "Vigiai!" (Mateus 24,42; 25,13; Marcos 13,33-37; Lucas 21,36; 1Coríntios 16,13; 1Pedro 4,7 etc.) e "Aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mateus 24,6). Bastam estes dois ensinamentos para que o cristão compreenda que deve estar preparado TODOS OS DIAS para a vinda do Senhor ou para o juízo particular diante de Deus em razão da sua morte (Hebreus 9,27).
Quanto ao Anticristo que se manifestará nos últimos dias e que presenciará a 2ª Vinda do Senhor, São Paulo é muito claro acerca dele: ele "se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus"; portanto, além de imoral, ele requer para si o conceito de divindade (como o faziam os imperadores pagãos da Ásia, da Grécia e de Roma, antes de Constantino!!!). Essa figura tentará se passar por Deus e enganará muitos pois realizará muitos "portentos, sinais e prodígios"; mas aqueles que o aceitarão, o farão por "não terem cultivado o amor à verdade que os teria podido salvar". Por isso, Jesus nos deixou a seguinte questão: "Quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?" (Lucas 18,8). Pois bem: as incertezas doutrinárias que o Protestantismo multifacetado ajuda a criar e espalhar no mundo, certamente estão influenciando para o esfriamento e a perda da fé (o que já vem sendo observado pelo aumento estatístico dos "sem religião" nos últimos censos) e esse será o campo propício para a ação do Anticristo. Não se aplica à Igreja Católica pelo simples fato de Cristo ter concedido a esta o dom da infalibilidade (cf. João 16,12-14) e a graça de permanecer no mundo até a sua vinda gloriosa (cf. Mateus 16,16-19; 28,18-20).
Com isto em mente, temos que as bestas-feras apontadas pelo Apocalipse 13 representam simplesmente o Império Romano pagão e o seu Imperador (também pagão), que combatiam ferozmente o Cristianismo no tempo do Apóstolo João e que, portanto, também não se identificam com o Anticristo final, retratado por São Paulo aos tessalonicenses. Do mesmo modo, a Igreja Católica também não se identifica nem com as bestas de Apocalipse 13 (já que o número 666 indica "César Nero") e nem com os anticristos apontados por São João ou por São Paulo, pelos motivos já expostos.
b) O estudo sistemático da Bíblia e da interpretação mais antiga das profecias apocalípticas apontam que os cristãos primitivos sempre entenderam que este anticristo seria uma união perigosa entre a Igreja e o Império Romano [21:21].
O programa esqueceu que Jesus QUIS fundar a Igreja (Mateus 16,18) e que esta recebeu efetivamente o Espírito Santo para ter acesso infalível a toda a verdade (João 16,12-14; Atos 2), devendo o próprio Jesus permanecer na Igreja até a consumação dos séculos (Mateus 28,20). Jesus teria mentido? Seria então um falso profeta? Óbvio que não! Com efeito, o "estudo da Bíblia" que conclui que o anticristo seria "a união da Igreja com o Império Romano" pode ser tudo, menos "sistemático", já que tal conclusão seria contraditório e até um abuso de intelectualidade. Além disso, o programa mencionou a "interpretação mais antiga das profecias apocalípticas".
Infelizmente, o programa pecou mais uma vez em não apontar fontes... Qual autor patrístico escreveu isso? Nem Santo Ireneu de Lião (+202), que abordou em detalhes os "últimos dias" (v. Contra as Heresias, livro 5), chegou a uma conclusão próxima a essa. Quanto ao Anticristo, na época em que o Cristianismo (=Catolicismo) se expandia (antes mesmo de Constantino!) sob "uma só fé e um só batismo" (Efésios 4,5), escreveu Cipriano de Cartago (+258):
- "Aumenta, dia a dia, o povo fiel; abandonam-se os velhos ídolos, tornam-se desertos os seus templos. Então, o que faz o malvado? Inventa nova fraude para enganar os incautos com o próprio título do nome 'cristão'. Introduz as heresias e os cismas para derrubar a fé, para contaminar a verdade e dilacerar a unidade. Assim, não podendo mais segurar os seus na cegueira da antiga superstição, os rodeia, os conduz ao erro por novos caminhos. Rouba à Igreja os homens e, fazendo-lhes acreditar que alcançaram a luz e se subtraíram à noite do século, envolve-os ainda mais nas trevas: não observam a lei do Evangelho de Cristo e se dizem cristãos, andam na escuridão e pensam que possuem a luz, nisto são iludidos e lisonjeados pelo adversário, que, como diz o Apóstolo, 'se transfigura em anjo de luz' (2Coríntios 11,14). Disfarça seus ministros em ministros de justiça, ensina-lhes a dar à noite o nome de dia, à perdição o nome de salvação, ensina-lhes a propalar o desespero e a perfídia sob o rótulo da esperança e da fé, a apregoar o Anticristo com o nome de Cristo. Mestres na arte de mentir, diluem com as suas sutilezas toda a verdade" (Cipriano de Cartago, +258; Da Unidade da Igreja Católica 3,2-4).
Seria bom que os Adventistas considerassem isto antes de querer escrever algo acerca do Anticristo...
c) Se a Bíblia diz que a rocha é Cristo e a Igreja Católica diz que é Pedro e os demais Papas, está aí um exemplo de um homem usurpando o lugar de Cristo, significando isso uma "quebra de acordo", conforme profetizado por Paulo [21:36].
Quem disse que Pedro é a pedra foi o próprio Cristo ("Tu és 'keppa' e sobre esta 'keppa' edificarei a minha Igreja", cf. Mateus 16,18); e Pedro e seus sucessores não estão usurpando o lugar de Cristo porque foram os únicos a receber(em) do mesmo Cristo a chave do Reino dos Céus, como já o demonstramos. Daí a expressão "Vigário de Cristo".
Ora, se Pedro e os Papas usurpassem o lugar de Cristo, estes não usariam o título de "Vigário de Cristo", mas de "Cristo" (=o Ungido) mesmo. Apenas a falta de lógica pode levar alguém a afirmar que os Papas usurpam o lugar de Cristo. Não há que se falar, portanto, em "quebra de acordo", mas em "manutenção do desejo de Jesus"...
d) É por isso que na Doação de Constantino o Papa "é chamado de 'Vicarius Filii Dei', o substituto do Filho de Deus, aquele que está no lugar do Filho de Deus" [22:01].
Vigário não é o substituto, mas aquele que representa fisicamente alguém que detém um poder superior. Se fosse substituto, como erroneamente quis fazer crer o programa, o Papa também seria Deus e Homem, como Jesus (algo que nenhum Papa jamais aventou para si!).
A leitura integral do "Constitutum Donatio Constantini" também não apoia o argumento de que o Papa estaria usurpando o lugar de Cristo; apenas o aponta como "Vicarius Filli Dei", ou seja, "aquele que representa fisicamente [na terra] o Filho de Deus"; nada demais, portanto.
O que o programa não diz - mas que todo fiel adventista automaticamente sabe -, é que apontando ao Papa o título de "VICARIVS FILLI DEI" estão, com isso, querendo apontá-lo como "a besta do Apocalipse", que porta o número 666. Isto porque, segundo eles, a soma dos caracteres latinos que representam algum valor totalizaria 666:
V(5) + I(1) + C(100) + A(0) + R(0) + I(1) + V(5) + S(0) +
F(0) + I(1) + L(50) + I(1) + I(1) +
D(500) + E(0) + I(1) = 666
No entanto, essa tese não tem como se sustentar por quatro razões:
a) Nenhum Papa jamais empregou o título "Vicarius Filli Dei" (Vigário do Filho de Deus), conforme consta na "Doação de Constantino" (criado por um falsário do séc. VIII), mas sim o título "Vicarius Christi" (Vigário de Cristo). E embora muitos adventistas afirmem que esse título encontra-se "na tiara do Papa", nunca foi encontrada uma tiara contendo esse título, como reconhecem alguns trabalhos mais sérios[17].
b) Mas ainda que o Papa empregasse o título de "Vicarius Filii Dei", ainda assim não seria possível demonstrar que a soma das letras em algarismos romanos totalizaria 666, em virtude dos encontros entre as letras que apontam um valor numérico diferente. Em outras palavras:
VI=(6) + C(100) + A(0) + R(0) + IV(4) + S(0) +
F(0) + I(1) + LII(52) +
D(500) + E(0) + I(1) = 664
c) A Bíblia não diz em qual idioma ou alfabeto esse "número de homem" (no sentido de ser humano) foi escrito. Com efeito, o Adventismo, obrigando seus seguidores a empregarem o latim está, mais uma vez, ultrapassando os limites da "Sola Scriptura" (que afirma adotar) e invadindo o terreno do extrabíblico (que afirma não adotar). Porém, neste caso de usar o latim, "o feitiço volta-se contra a feiticeira", de modo que se isolarmos e somarmos os caracteres latinos da fundadora do Adventismo, obteremos também o número 666:
E(0) + L(50) + L(50) + E(0) + N(0) +
G(0) + O(0) + V(5) + L(50) + D(500) +
W=V(5)+V(5)] + H(0) + I(1) + T(0) + E(0) = 666
d) O Apóstolo João, de origem judaica, adotou o grego para redigir o Apocalipse, sendo este destinado às comunidades da Ásia maior, que também não usava o latim, de modo que não teriam como decifrar a "mensagem secreta" do Apóstolo.
Portanto, considerando todo o contexto bíblico, histórico e geográfico, devemos considerar somente os idiomas e alfabetos grego e/ou hebraico, os quais também possuem letras que indicam valores numéricos. Então, se fizermos a gematria da forma grega do nome "César Nero", ou seja, "NVRN RSQ" (escrita da direita para a esquerda), empregando o alfabeto hebraico, totalizaremos 666, pois:
N(50) + V(6) + R(200) + N(50) +
R(200) + S(60) + Q(100) = 666
A "prova dos nove" pode ser dada por alguns antigos manuscritos que trazem o número variante de 616 ao invés de 666: omitindo a letra Num final (que vale 50) de César Nero (para empregarmos a forma latina do nome Nero), obteremos o número 616:
V(6) + R(200) + N(50) +
R(200) + S(60) + Q(100) = 616
Ora, o grego era de pleno conhecimento do Apóstolo e das comunidades destinatárias, que estavam sob o domínio romano, justificando assim a forma da expressão; já os caracteres hebraicos empregados, eram de pleno conhecimento de João, em virtude da sua descendência judaica e podia ser decifrado pelas comunidades primitivas porque também congregavam judeus conversos ao Cristianismo (como nos prova os livros dos Atos dos Apóstolos e as epístolas de Paulo em diversas passagens), os quais certamente conheciam os valores das letras hebraicas.
Também o Apocalipse 17,10-11 sustenta esta interpretação do número 666, já que diz:
- "São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo. A Besta que existia e não existe mais é ela própria o oitavo e também um dos sete, mas caminha para a perdição".
Ora, referindo-se ao Império Romano, logo percebemos que os reis de que trata a citação são os imperadores romanos. Devemos considerar cronologicamente os imperadores a partir da vinda de Cristo até a época da redação do livro do Apocalipse. Então:
• 5 já caíram: Augusto (31 a.C.-14 d.C.), Tibério (14-37 d.C.), Calígula (37-41 d.C.), Cláudio (41-54 d.C.) e Nero (54-68 d.C.);
• 1 existe: Vespasiano (69-79 d.C);
• 1 que virá e durará pouco: Tito (79-81 d.C.: durou apenas 2 anos!);
• a besta é o oitavo que, ao mesmo tempo, é um dos sete anteriores, ou seja, Nero (já que NVRN RSQ = 666!).
O Apóstolo, assim, alude à lenda do "Nero redivivo" (esta surgiu logo após ao seu suicídio e afirmava que Nero não havia morrido, pois o ferimento que o levou à morte fora sobrenaturalmente curado, estando ele agora oculto em algum lugar, devendo logo reassumir o poder do Império). Portanto, a besta que possui o número 666 é o Imperador Domiciano (81-96 d.C.), o qual - tal como Nero - tornava agora a perseguir os cristãos, só que com mais força e crueldade...
Continua
Título Original: "A História do Papado": Uma Refutação a um Programa de TV Adventista
Foto: Web
Site: Apologistas Católicos
Editado por Henrique Guilhon
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