Continuamos com a recensão do livro "Eu, bispo exorcista" de Mons. Andrea Gemma.
Como observamos no primeiro post, D. Andrea Gemma, hoje bispo emérito, escreveu o livro quando estava à testa da diocese de Isernia-Venafro, narrando suas experiêncas na prática do exorcismo.
Dom Andrea Gemma deixou a diocese a seu sucessor em 2007, quando atingiu o limite de idade fixado pelo Direito Canônico.
A Igreja em crise não usa as suas armas
O bispo procurou inspiração nos textos do Vaticano II, e eis as suas conclusões:
“Ide e folheai todos os documentos do Concílio Vaticano II, [...] verificai se se fala, e quantas vezes, do demônio e das suas obras. Sabeis que naqueles dezesseis documentos, pensados e ponderados, não existe sequer a palavra inferno, nem a palavra ‘demônio’? Incrível, mas verdadeiro, basta ir verificar...” (p. 88).
Ele debruçou-se sobre os textos litúrgicos antigos e novos. E ficou estupefato:
“Sempre lamentei que na reforma da Missa se tenha tirado aquela oração a São Miguel [Exorcismo Breve], que Leão XIII, não sem inspiração do alto, quis que fosse recitada no fim de cada celebração. Muitas vezes o demônio, pela voz dos possessos, fez saber que gostou muitíssimo dessa abolição! [...] O que é que sugeriu e sugere evitar-se o mais possível, nos textos litúrgicos, a menção a Satanás, às suas nefastas intervenções, às conseqüências da sua ação destrutiva? Quem possa, que me responda. E com argumentos válidos, por favor. [...] Hoje a obra assassina do demônio é mais evidente do que nunca [...]. Então, não somente não era o caso de expurgar as fórmulas deprecatórias e imprecatórias, mas sim de multiplicá-las e reforçá-las. Porém, infelizmente não foi assim” (p. 27).
O ambiente laicizado hodierno: vitória do demônio
D. Andrea reparou que os históricos dos que padecem malefícios e o dos possessos eram muito parecidos. É imensa, diz ele, a quantidade de ocasiões que o contexto atual oferece às serpentes infernais para se apossarem das suas vítimas.
“A maior vitória do diabo consiste em convencer os homens de que ele não existe”. Esta verdade indiscutida levou o prelado à conclusão de que o ambiente moderno serve de luva ideal para as garras infernais.
Laicismo e materialismo abrem as portas da possessão
A todo momento,esse ambiente sugere que não há Deus nem demônio, nem Céu nem inferno. E os espíritos malignos atacam e invadem os corpos das suas vítimas de inúmeras formas.
Há cultos satânicos explícitos. Mas também implícitos, como certas técnicas de meditação e algumas terapias alternativas, superstições ou modas tipo Nova Era ou músicas tipo rock and roll.
Como é que a humanidade gerou esse ambiente enganosamente neutro e materialista, porém tão útil para os espíritos das trevas?
A Revolução gera ambiente propício à ação diabólica
D. Andrea dá uma elucidativa explicação histórica. Ela se aproxima muito da denúncia do processo revolucionário que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira formula na sua obra magistral Revolução e Contra-Revolução. Não descartamos que o culto bispo italiano tenha tirado dela alguma inspiração:
“A laicização da nossa sociedade é o fruto de um longo e complexo processo que durou cerca de cinco séculos, e que se desenvolveu em três etapas fundamentais, três revoluções no campo cultural e social, mas com lances também cruentos, que levaram à gradual transformação do mundo antigo, tradicional, para dar na sociedade atual, pós-moderna e secularizada”.
D. Andrea descreve essas sucessivas revoluções: primeiro a revolução protestante, que causou um grande desgarramento da sociedade cristã medieval; segundo o Iluminismo e a Revolução Francesa; terceiro a Revolução comunista marxista.
Por fim, acrescenta, uma quarta etapa ou Revolução: a do movimento estudantil dos anos 60, que contestou a família, generalizou o uso da droga, propugnou a libertação dos vínculos morais, e sobretudo revoltou-se contra toda autoridade. Esse processo gerou uma sociedade e uma cultura que tendencialmente seduzem os homens para a idéia de que Deus e a religião são coisas absurdas (pp. 113 ss).
Há os que se deixam levar por essa influência, ensina D. Andrea. Mas há também os que reagem de um modo exasperado e caem no exagero oposto: as novas e enganosas formas de religiosidade. Todas são fáceis presas de Lúcifer.
Armas para derrotar os demônios
D. Andrea exorta os fiéis a recorrerem às armas que vencem o demônio: a Fé, os Livros Sagrados, o jejum, os sacramentos. E, sobretudo, a oração por meio de Nossa Senhora, a “inimiga eterna de Satanás” (p. 16).
Dom Andrea no Vaticano
Entre as orações específicas, ele recomenda a renúncia formal a Satanás, como se faz na renovação das promessas do batismo, e o exorcismo breve:
“São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate; cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da Milícia Celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém” (p. 17).
E recomenda também não se deixar seduzir pelo ambiente revolucionário hodierno nem pelas falsas novidades nas formas de religiosidade — inclusive no âmbito católico —, que tanto e tão bem servem de ocasião para os malefícios e possessões por parte do pai da mentira.
Com essas cautelas e armas espirituais, o católico resistirá e sairá vitorioso, confiando sempre na promessa divina: “As portas do inferno não prevalecerão” (Mt 16,18).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Exibir comentário