Por Carlos J. Magliano Neto
Já finalizando o seu trabalho, o senhor fala do seu verdadeiro propósito (pág. 70). Aproveito deste capítulo apenas a frase de A. Raine:
“Você pode atingir o topo da escada e então descobrir que ela não está apoiada na parede certa” (pág. 70)
Certamente pastor, lendo tudo o que li e refletindo tudo o que pude refletir, percebi que tive sorte, pois a minha escada está apoiada numa parede sólida, de 20 séculos de História, iniciada pelo amor de Jesus (cf. Ef 5,25) e não pelas divisões e meditações humanas (cf. 1ª Cor 1,10-13).
“Nos passos de Maria” é um livro interessante. No seu decorrer vai acontecendo uma espécie de mutação, onde o senhor vai evoluindo no conhecimento da pessoa e da importância de Maria. Essa evolução do pensamento é percebida quando, por exemplo, logo no início, na página 16, é dito que Maria está “na posição de um mortal comum, e jamais numa posição de privilégio”. No fim do livro já se entende que isso não é verdade. Agora o senhor vê que Maria aceitou “o maior desafio que um mortal poderia ter aceito” (pág. 74) e que isto deu a ela uma “posição de destaque” (pág. 75).
Falar de Maria para um protestante torna-se algo muito difícil, já que durante séculos foi sufocado “no coração dos evangélicos o culto da Virgem” e assim “destruíram os sentimentos mais delicados da piedade cristã. No seu Magnificat, Maria declara que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada até o fim dos tempos (Lc 1,48). Todos nós verificamos que esta profecia se cumpre na Igreja Católica e, nestes tempos dolorosos, com intensidade sem precedentes. Na Igreja Evangélica, tal profecia caiu em tão grande esquecimento que dificilmente se encontra algum vestígio da mesma” (Manifesto de Dresden – Teólogos Luteranos). E o autor do documento protestante ainda continua: “Eu próprio me devo contar entre as pessoas que não o fizeram durante os longos anos de sua vida, por conseguinte, não seguiram as Escrituras segundo a qual ‘Desde agora vão me chamar de bem-aventurada todas as gerações da Terra’. Eu não me havia incluído entre estas gerações. É verdade que havia lido na Sagrada Escritura que Isabel havia falado, inspirada pelo Espírito Santo, reconhecendo Maria como a Mãe do meu Senhor. Sua velha prima tributou-lhe o maior louvor dizendo: ‘Como mereço que a Mãe do meu Senhor venha visitar-me?’ (Lc 1,43)”.
Maria é uma das figuras mais fortes do cristianismo. Apesar de aparecer muito pouco na Bíblia, os cristãos de todos os tempos sempre admiraram e olharam com muito carinho àquela que Deus “desejou como residência própria” (Sl 132,13). Apenas a partir da divisão de 1517, é que uma parte dos cristãos protestaram e jogaram por terra 1500 anos de respeito e afeição pela Mãe do Filho de Deus (cf. Lc 1,35).
Devo dizer que seu livro foi uma ajuda para que eu me preparasse mais e buscasse um maior conhecimento da Doutrina Cristã e da pessoa da Virgem Santíssima que “posta, no que é possível a uma criatura, o mais próxima de Deus, tornou-se superior a todos os louvores dos homens e dos anjos” (Papa Pio IX, Definição Dogmática Ineffabilis Deus, 15). A própria Bíblia recomenda a prepararmo-nos: “Estejam sempre prontos a responder para a vossa defesa a todo aquele que pedir a razão da vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito” (1ª Pe 3,15). Foi o que procurei fazer: mostrando a razão de minha esperança, a verdadeira Doutrina, mas com suavidade e respeito, sem atacar.
Nestes 2 milênios de Igreja, ela sempre soube que sua função era anunciar a Boa Notícia sobre o Reino pelo mundo inteiro, como um testemunho para todas as nações (cf. Mt 24,14), pois a vontade de Deus é “que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se” (2ª Pe 3,9). E é nesta missão que a Igreja segue, sob ataques, divisões e lutas, mas firme e forte, pois muitos “desviaram da verdade” e “estão pervertendo a fé de vários. Apesar disso, o sólido alicerce colocado por Deus permanece, marcado pelo selo desta palavra: ‘O Senhor conhece os que são seus’” (2ª Tm 2,18-19). “Foi sempre privilégio da Igreja vencer quando é ferida, progredir quando é abandonada, crescer em ciência quando é atacada” (Santo Hilário de Poitiers, Doutor da Igreja, Na Escola dos Santos Doutores, 1783).
Muitos podem afirmar que a Igreja deixada por Cristo saiu de seu rumo e perdeu a intimidade com o seu Senhor. Afirmando isso, essas pessoas correm o risco de dizer que a Palavra de Deus é ineficiente e que Deus não tem capacidade de sustentar aquilo que fala. Muito ao contrário disto, a Bíblia é bem clara ao falar da obra de Cristo, que é a Igreja, Seu Corpo: “Foi o Senhor quem estabeleceu alguns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres. Assim, ele preparou os cristãos para o trabalho do ministério que constrói o Corpo de Cristo. A meta é que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento é a plenitude de Cristo. Então, já não seremos crianças, jogados pelas ondas e levados para cá e para lá por qualquer vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e pela astúcia com que eles induzem ao erro. Ao contrário, vivendo amor autêntico, cresceremos sob todos os aspectos em direção a Cristo, que é a Cabeça. Ele organiza e dá harmonia ao Corpo inteiro, através de uma rede de articulações, que são os membros, cada um com sua atividade própria, para que o Corpo cresça e construa a si próprio no amor” (Ef 4,11-16). É lógico: foi o Senhor quem estabeleceu e preparou os cristãos para que unidos na mesma fé e livres de qualquer vento de doutrina construíssem o Corpo de Cristo, que é a Igreja, no amor. Veja que é o Senhor pessoalmente quem administra e zela por sua obra. Se Ele tivesse que fazer alguma correção, alguma modificação, faria na sua obra, porque Ele “a alimenta e cuida dela” (Ef 5,29). Não abandonaria sua Igreja como uma obra inacabada, criando inúmeras divisões (cf. Mt 12,25) pois afinal tudo o que Deus faz é “muito bom” (Gn 1,31).
“Como, afinal, Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1ª Tm 2,4); como Cristo veio procurar e salvar a quem estava perdido (Lc 19,10) e para reunir os filhos de Deus que estavam dispersos (Jo 11,52), assim, a Igreja, constituída por Deus mãe e mestra dos povos, reconhece-se devedora em relação a todos e está sempre disposta e procura erguer os que estão caídos, a sustentar os que vacilam, a abraçar os que retornam, a confirmar os bons e conduzi-los à perfeição. Por isso ela não pode deixar de testemunhar e anunciar a verdade divina que a tudo cura (cf. Sb 16,12), bem sabendo que lhe foi dito: ‘O meu Espírito que está sobre ti e as minhas palavras que te pus na boca não se afastarão agora e para sempre’ (Is 59,21)” (Papa Pio IX, Consti-tuição Dogmática Dei Filius, 6).
Obviamente, por mais que se tente explicar a Doutrina, se o ouvinte não estiver acompanhado pela graça de Deus e não quiser realmente compreendê-la, de nada adiantará tantas exposições e tanto trabalho, assim como ensina o Apóstolo Paulo: “para que vocês acreditassem na minha pregação, não por causa da sabedoria dos homens, mas por causa do poder de Deus” (1ª Cor 2,5). Deste modo, “saibamos que a fé católica não é apenas o conteúdo daquilo que nós cremos e que está no ‘Creio em Deus Pai’ que todos os domingos nós professamos, mas está, sobretudo, numa atitude interior de adesão à Verdade revelada, aí está a fé. Se eu faço livremente uma adesão minha ao que Jesus me revelou, ao que está na Bíblia, ao que a Igreja ensina, aí está a minha fé” (Dom José de Almeida Batista Pereira, Bispo Emérito de Guaxupé-MG, no “Programa Na Fé Católica” em 25 de abril de 2003).
Apesar do senhor discordar dos dogmas marianos, pude perceber a sua intenção de apontar a figura de Maria em sua comunidade. Belo aconselhamento o senhor dá:
“Nos exemplos que deu, imitemos aquela que foi digna de ter copiados seus princípios de vida e fé. Podemos andar nos passos de Maria” (pág. 77).
Continue pastor a levar para os cristãos de sua comunidade a figura santa e suave da Santa Maria. Feliz pela intenção com a Mãe do Senhor, tenho agora a mesma alegria do Concílio Vaticano II: “Muito se alegra e se consola este sagrado Concílio o saber que não falta, mesmo entre os Irmãos separados, quem preste a honra devida à Mãe do Senhor e Salvador... Todos os fiéis dirijam súplicas insistentes à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que ela, que assistiu os alvores da Igreja, também agora, exaltada no céu acima de todos os anjos e bem-aventurados interceda junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, para que as famílias dos povos, quer se honrem do nome de cristão tão quer desconheçam ainda o seu Salvador, se reúnam felizmente, em paz e concórdia, no único povo de Deus, para a glória da santíssima e indivisa Trindade” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 69).
Assim chego ao fim, reafirmando o que disse no decorrer de todo esse trabalho: como a Bíblia me diz que a obra do Redentor é eterna (cf. Mt 16,18 e Jr 32,37-40) e não comenta nada sobre a sua falência, muito ao contrário, Jesus mesmo promete assistência diária (cf. Mt 28,20) e o Espírito que nos “encaminhará para a Verdade plena” (Jo 16,13), continuo católico; e da mesma forma como o povo de Deus venerava a Arca da Aliança que era a habitação da Lei (cf. Js 7,6), continuarei venerando a sempre Imaculada Santíssima Virgem Maria, a nova Arca da Aliança, habitação do Legislador, seguindo a orientação de São Paulo: “Quanto a você, permaneça firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo; você sabe de quem o aprendeu” (2ª Tm 3,14).
Um abraço fraterno na Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Amém!
Site: Universo Católico
Editado por Henrique Guilhon
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