Neste seu célebre Diário, escreveu ela a respeito da sua infância: “...eu senti a graça à vida religiosa desde os meus sete anos de idade. Aos sete anos de vida ouvi pela primeira vez a Voz de Deus em minha alma, ou seja, o convite à vida religiosa, mas nem sempre fui obediente à Voz da Graça. Não encontrei ninguém que me pudesse esclarecer essas coisas...”.
Aos dezesseis anos de idade, Faustina deixou a casa paterna para ir trabalhar como empregada doméstica em Aleksandrów, a fim de angariar meios para a subsistência própria e ajudar seus pais. O desejo de ingressar na vida religiosa ia amadurecendo nela, mas, como seus pais não concordavam com tal decisão, a pequena Helena procurava sufocar em si o Chamado Divino.
Anos depois, escreveria em seu Diário: “Numa ocasião, eu estava com uma de minhas irmãs em um baile. Enquanto todos se divertiam a valer, a minha alma sentia tormentos interiores. No momento em que comecei a dançar, repentinamente vi Jesus ao meu lado, Jesus sofredor, despojado de suas vestes, todo coberto de chagas, e me disse estas palavras: 'Até quando hei de ter paciência contigo, e até quando me decepcionarás?'. Nesse momento parou a música animada, não vi mais as pessoas que estavam comigo... Somente Jesus e eu, ali permanecíamos. Sentei-me ao lado de minha irmã, disfarçando com uma dor de cabeça o que se passava comigo. Em seguida, afastei-me discretamente dos que me acompanhavam e fui à Catedral de Santo Estanislau Kostka. Já começava a anoitecer e lá haviam poucas pessoas. Sem prestar atenção a nada do que ocorria à minha volta, caí de bruços diante do Santíssimo Sacramento e pedi ao Senhor que me desse a conhecer o que deveria fazer a seguir. Então, ouvi estas palavras: 'Vai imediatamente a Varsóvia, e lá entrarás no convento'. Terminada a oração, levantei-me, fui para casa e arrumei as coisas indispensáveis. Da maneira como pude, relatei a minha irmã o que havia acontecido na minha alma. Pedi que se despedisse por mim de meus pais e assim, só com a roupa do corpo, sem mais nada, vim para Varsóvia...” (Diário de Santa Faustina, 9).
Em Varsóvia (Polônia), Helena procurou lugar em diversas comunidades religiosas, mas em todas era recusada. Foi somente no dia 1 de agosto de 1925 que se apresentou à Congregação das Irmãs da Divina Misericórdia, à Rua Zytnia, e ali foi aceita. Antes disso, para atender às condições, teve que trabalhar como empregada doméstica para uma família numerosa na região de Varsóvia, para dessa forma conseguir seu enxoval pessoal.
Ela descreveu em seu Diário os sentimentos que a acompanhavam após ter ingressado na vida religiosa: “Sentia-me imensamente feliz, parecia que havia entrado na vida do Paraíso! O meu coração só era capaz de uma contínua oração de ação de graças!” (Diário, 17).
Na Congregação, recebeu o nome de Irmã Maria Faustina. Realizou o noviciado em Cracóvia (Polônia) e foi ali que, na presença do Bispo Estanislau Rospond, professou seus primeiros votos religiosos e, passados cinco anos, os votos perpétuos de castidade, pobreza e obediência. Trabalhou em diversas casas da Congregação, porém permaneceu mais tempo em Cracóvia, Vilna (Lituânia) e Plock (Polônia), exercendo funções de cozinheira, jardineira e porteira. Exteriormente, nada deixava transparecer a sua ardente alma mística. Ela cumpria assiduamente suas funções, guardando com zelo a regra religiosa. Era recolhida e silenciosa, embora ao mesmo tempo fosse desembaraçada, serena e cheia de amor benevolente. Teve uma vida espiritual extraordinariamente rica de generosidade, de amor e de carismas que escondeu na humildade das tarefas quotidianas. Nutriu uma fervorosa devoção à Eucaristia e à Mãe do Redentor, e amou intensamente à Igreja, participando humildemente na sua missão de salvação.
O severo estilo de vida e os extenuantes jejuns que ela se impunha, mesmo antes de ingressar na Congregação, enfraqueceram tão severamente seu organismo que já no postulado ela precisou ser encaminhada para tratamento de saúde. Após o primeiro ano do noviciado, vieram experiências místicas extremamente dolorosas, – da chamada noite escura da alma, - e depois os sofrimentos espirituais relacionados com o cumprimento da missão que recebeu de Jesus Cristo.
Em 1937, escreveu ela em seu Diário: “A glorificação da tua Misericórdia, ó Jesus, é a missão exclusiva da minha vida!”. E o Senhor a escolheu para se tornar Apóstola da Sua Misericórdia, a fim de aproximar mais de Deus os homens, segundo o Mandato de Jesus: “Os homens têm necessidade da minha Misericórdia”. Em 1934, Irmã Maria Faustina ofereceu-se a Deus pelos pecadores, sobretudo por aqueles que tinham perdido a esperança na Misericórdia Divina. Ofereceu sua vida a Deus em sacrifício a fim de salvar almas, e por essa razão foi submetida a numerosos sofrimentos. Enriqueceu sua vida consagrada e seu apostolado com o sofrimento do espírito e do coração.
Nos últimos anos de sua vida, intensificaram-se as enfermidades do organismo: desenvolveu-se a tuberculose, que atacou seus pulmões e o trato alimentar. Por essa razão, por duas vezes, durante alguns meses, permaneceu hospitalizada. Consumida pela tuberculose, morreu santamente em Cracóvia no dia 5 de Outubro de 1938, com a idade de 33 anos.
João Paulo II proclamou-a Beata no dia 18 de Abril de 1993; sucessivamente, a Congregação para as Causas dos Santos examinou com êxito positivo uma cura milagrosa atribuída à intercessão da Beata Maria Faustina, e no dia 20 de Dezembro de 1999 foi promulgado o Decreto sobre esse milagre.
Foi Canonizada em 30 de abril de 2000, pelo Papa João Paulo II, sendo agora invocada como Santa Maria Faustina do Santíssimo Sacramento.
O Terço da Divina Misericórdia
Diário de Irmã Faustina, Vilna, Lituânia, sexta-feira 13.09.1935:
A noite, quando me encontrava na minha cela, vi o Anjo executor da ira de Deus. Estava vestido de branco, o rosto radiante e una nuvem a seus pés. Da nuvem saíam trovões e relâmpagos para as suas mãos e delas só então atingiam a Terra. Quando vi esse sinal da Ira de Deus, que deveria atingir a Terra, e especialmente um determinado lugar que não posso mencionar por motivos bem compreensíveis, comecei a pedir ao Anjo que se detivesse por alguns momentos, pois o mundo faria penitência. Mas o meu pedido de nada valeu perante a Cólera de Deus.
(...) Porém, nesse mesmo momento senti em mim a força da Graça de Jesus que reside na minha alma; e, quando me veio a consciência dessa Graça, imediatamente fui arrebatada até o Trono de Deus. (...) Comecei, então, a suplicar a Deus pelo Mundo com palavras ouvidas interiormente. Quando assim rezava, vi a impossibilidade do Anjo em poder executar aquele justo castigo, merecido por causa dos pecados. Nunca tinha rezado com tanta força interior como naquela ocasião. As palavras com que suplicava a Deus eram as seguintes: Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro; pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós.
No dia seguinte pela manhã, quando entrei na nossa capela, ouvi interiormente estas palavras: 'Toda vez que entrares na capela, reza logo essa oração que te ensinei ontem'. E quando rezei essa oração, ouvi na alma estas palavras: 'Esta oração serve para aplacar a Minha ira. Tu a recitarás por nove dias, por meio do Terço do Rosário da seguinte maneira: primeiro dirás o PAI NOSSO, a AVE MARIA e o CREDO. Depois, nas contas de PAI NOSSO, dirás as seguintes palavras: Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro. Nas contas de AVE MARIA rezarás as seguintes palavras: Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. No fim, rezarás três vezes estas palavras: Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro'". (Diário §474- 476).
Promessas de Jesus Cristo a Santa Faustina
"Oh! que grandes graças concederei às almas que recitarem esse Terço. (...) Anota estas palavras, Minha filha, fala ao mundo da minha Misericórdia, que toda a humanidade conheça a minha insondável Misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o Dia da Justiça. Enquanto é tempo, recorram à fonte da Minha misericórdia, tirem proveito do Sangue e da Água que jorraram para eles." (Diário §848)
"Recita, sem cessar, este Terço que te ensinei. Todo aquele que o recitar alcançará grande Misericórdia na hora da sua morte. Os sacerdotes o recomendarão aos pecadores como a última tábua de salvação. Ainda que o pecador seja o mais endurecido, se recitar este Terço uma só vez, alcançará a graça da Minha infinita misericórdia." (Diário §687)
"Pela recitação deste Terço agrada-Me dar tudo o que me peçam. Quando os pecadores empedernidos o recitarem, encherei de paz as suas almas, e a hora da morte deles será feliz. Escreve isto para as almas atribuladas: Quando a alma vir e reconhecer a gravidade dos seus pecados, quando se abrir diante dos seus olhos todo o abismo da miséria em que mergulhou, que não se desespere, mas antes se lance com confiança nos braços da Minha misericórdia, como uma criança no abraço da sua querida mãe. Essas almas têm prioridade no Meu Coração compassivo, elas têm primazia à minha Misericórdia. Diz que nenhuma alma que tenha invocado a minha Misericórdia se decepcionou ou experimentou vexame. Tenho predileção especial pela alma que confiou na minha Bondade. Escreve que, quando recitarem esse Terço junto aos agonizantes, Eu Me colocarei entre o Pai e a alma agonizante não como Justo Juiz, mas como Salvador Misericordioso." (Diário §1541)
"Defendo toda alma que recitar esse Terço na hora da morte, como se fosse a Minha própria Glória (...) Quando recitam esse Terço junto a um agonizante, aplaca-se a Ira de Deus; a Misericórdia insondável envolve a alma." (Diário §811)
A Sagrada Imagem de Jesus Misericordioso
No dia 22 de fevereiro de 1931, Jesus Cristo apareceu a Irmã Faustina e lhe recomendou que pintasse uma imagem, apresentando-lhe o modelo na visão.
"Pinta uma Imagem de acordo com o modelo que estás vendo, com a inscrição: 'JEZU, UFAM TOBIE' (Jesus, eu confio em Vós). Desejo que esta Imagem seja venerada, primeiramente, na vossa capela e, depois, no mundo inteiro. Prometo que a alma que venerar esta Imagem não perecerá. Prometo também, já aqui na Terra, a vitória sobre os inimigos e, especialmente, na hora da morte. Eu mesmo a defenderei como Minha própria Glória. (...) Quero que essa Imagem, que pintarás a pincel, seja benzida solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia."(Diário §47-49)
”Ofereço aos homens um vaso, com o qual devem vir buscar graças na Fonte da Misericórdia. Esse vaso é a Imagem com a inscrição: Jesus, eu confio em Vós.” (Diário §327)
Jesus, eu confio em Vós
Acima, a imagem original de Jesus Misericordioso conforme descrito por Santa Faustina Kowalska, pintada pelo artista lituano Eugênio Kazimirowski, por encomenda do Pe. Miguel Sopocko. Durante a pintura desta imagem, ao menos duas vezes por semana a Irmã Faustina, – que durante todo o período da pintura imagem permaneceu em Vilna (Vilnius, Lituânia), – ia ao ateliê a fim de fornecer orientações e sugerir detalhes relacionados à aparência da imagem.
Trechos do Diário de Santa Faustina
"'Minha filha, ajuda-Me a salvar um pecador agonizante; reza por ele o Terço que te ensinei'. Quando comecei a recitar este Terço, vi o agonizante em terríveis tormentos e lutas. Defendia-o o Anjo da Guarda, mas estava como que impotente diante da enormidade da miséria dessa alma. (...) No entanto, durante a recitação do Terço vi a Jesus da forma como está pintado na Imagem. Os raios que saíam do Coração de Jesus envolveram o enfermo, e as forças do mal fugiram em pânico. O enfermo exalou tranquilamente o último suspiro." (Diário §1565)
"União com os agonizantes. Pedem-me orações, e posso rezar, pois admiravelmente o Senhor está me dando um espírito de oração. Estou continuamente unida com Ele, sinto plenamente que vivo pelas almas, para conduzi-las à Vossa misericórdia, Senhor. Quanto a isso, nenhum sacrifício é pequeno demais." (Diário §971)
"Frequentemente convivo com almas agonizantes, pedindo para elas a misericórdia de Deus. Oh! como é grande a bondade de Deus, maior do que podemos compreender. Existem momentos e mistérios da misericórdia de Deus com que até os Céus se assombram. Que se calem os nossos juízos sobre as almas, porque é maravilhosa com elas a Misericórdia de Deus." (Diário §1684)
"Muitas vezes, faço companhia a almas agonizantes, e peço para elas confiança na Misericórdia Divina e suplico a Deus aquela grande abundância da Graça de Deus que sempre vence. A Misericórdia de Deus atinge às vezes o pecador no último instante, de maneira surpreendente e misteriosa. Exteriormente vemos como se tudo estivesse perdido, mas não é assim. A alma, iluminada pelo raio da forte Graça de Deus extrema, dirige-se a Deus no último instante com tanta força de Amor que imediatamente recebe de Deus [o perdão] das culpas e dos castigos, e exteriormente não nos dá nenhum sinal nem de arrependimento nem de contrição, visto que já não reage a coisas exteriores. Oh! quão inconcebível é a Misericórdia de Deus. Mas, oh! horror, - existem também almas que voluntária e conscientemente afastam essa Graça e a desprezam. Embora já em meio à própria agonia, Deus Misericordioso dá à alma esse momento de luz interior com que, se a alma quiser, tem a possibilidade de voltar a Deus. Mas, muitas vezes, as almas têm tamanha dureza de coração que conscientemente escolhem o Inferno, anulam todas as orações que as outras almas fazem por elas a Deus, e até os próprios esforços de Deus..." (Diário §1698)
"Oh! como devemos rezar pelos agonizantes! Aproveitemos a misericórdia, enquanto é tempo de compaixão." (Diário §1035)
"Ó vida cinzenta e monótona, quantos tesouros há em ti! Nenhuma hora se assemelha a outra, e por isso o enfado e a monotonia desaparecem quando olho para tudo com os olhos da fé. A Graça que é destinada para mim nesta hora não se repetirá na hora seguinte. Ser-me-á dada ainda, mas já não será a mesma. O tempo passa e nunca volta. O que, porém, nele se encerra não mudará nunca, fica selado por todos os séculos." (Diário §62)
"...O Senhor me deu a conhecer como deseja que a alma se distinga por atos de Amor, e vi, em espírito, quantas almas clamam a nós: 'Dai-nos Deus', - e ferveu em mim o sangue apostólico. Não o pouparei, mas entregarei até a última gota pelas almas imortais; embora fisicamente talvez Deus não o exija, em espírito, posso fazê-lo, e não será menos meritório." (Diário §1249)
Desejo percorrer o mundo todo e falar às almas da grande Misericórdia de Deus. SACERDOTES, AJUDAI-ME NISSO..." (Diário §491)
"Diz aos Meus sacerdotes que os pecadores empedernidos se arrependerão diante das palavras deles, quando falarem da Minha insondável Misericórdia, da Compaixão que tenho para com eles no Meu Coração. Aos sacerdotes que proclamarem e glorificarem a Minha Misericórdia darei um poder extraordinário, ungindo as suas palavras, e tocarei os corações daqueles a quem falarem." (Diário §1521)
"Minha filha, olha para o abismo da Minha Misericórdia e dá a esta Misericórdia louvor e glória. Faz da seguinte maneira: reúne todos os pecadores do mundo inteiro e mergulha-os no abismo da Minha Misericórdia." (Diário §206)
"Penetra nos Meus mistérios e conhecerás o abismo da Minha misericórdia para com as criaturas e a Minha insondável bondade — e a darás a conhecer ao Mundo. Através da oração, serás medianeira entre a Terra e o Céu." (Diário §438)
"Prepararás o mundo para a minha última vinda." (Diário §429)
"O Meu Reino está sobre a Terra; a Minha Vida, na alma humana." (Diário §1784)
"Quando mergulhei em oração e me uni com todas as Santas Missas que, neste momento, estavam sendo celebradas no mundo inteiro, supliquei a Deus, por meio de todas essas Santas Missas, Misericórdia para o mundo, especialmente para os pobres pecadores que estivessem em agonia naquele momento. E, nesse instante, recebi interiormente a Resposta Divina interior de que mil almas receberam a graça por intermédio da oração que eu estava elevando a Deus. Não sabemos que número de almas vamos salvar com as nossas orações e sacrifícios; por isso rezemos sempre pelos pecadores." (Diário §1783)
“Frequentemente acompanho uma alma agonizante, mesmo a grande distância. Mas a maior alegria que experimento é quando vejo que a Promessa da Misericórdia está se cumprindo nessas almas. O Senhor é fiel, cumpre o que promete.” (Diário §935)
Visão do Inferno de Santa Faustina
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Fontes e bibliografia:
1. DIÁRIO de Sta. Faustina Kowalski. Editora dos Padres Marianos, Varsóvia 2001.
2. SOPOCKO, Miguel, Pe. A Misericórdia de Deus em Suas Obras. Porto Alegre: Pallotti, 1954.
3. BONIEWICZ, Edmundo. Proclamemos a Mensagem da Divina Misericórdia. Semanário “Niedziela” (O Domingo), Czestochowa, 2000.
Título Original: Santa Faustina, a Imagem de Jesus Misericordioso e o Terço da Divina Misericórdia
Site: Voz da Igreja
Editado por Henrique Guilhon
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