Pe. Anderson Alves.
Será possível inserir alguém entre a nossa relação com Cristo? Podemos ter algum outro modelo de vida? O homem pode alcançar a santidade? Ele não será sempre santo e pecador? Os mortos não estão “dormindo” até o dia da ressurreição final? Afinal das contas: Se Jesus é o único mediador, por que recorrer à intercessão dos santos?
Essa é uma questão belíssima, que leva muita gente a pensar na vida eterna. Podemos nos aproximar lembrando uma imagem da Divina Comédia de Dante Alighieri: o Céu é um reino de luz no qual os santos estão como espelhos, refletindo em si e nos outros a imagem do único Deus, sumamente Santo. Certamente a luz de Deus é infinita, impossível de ser aumentada, pois Deus é o ser perfeitíssimo, mas cada santo reflete a seu modo a luz infinita de Deus. Quanto mais pessoas houver no Céu, a divina luz será refletida com maior intensidade. No Céu, cada um é extremamente feliz e essa felicidade se une à dos outros.
Os santos estão no Céu cantando louvores a Deus e ao Cordeiro. E quanto mais uma pessoa está unida a Deus, amor infinito, mais estará unido aos outros homens. No Céu os santos intercedem pelos que ainda caminham nesse mundo, e isso é uma consequência do conhecimento e do amor que vem de Deus.
Desse modo, os santos são como um reflexo da luz divina; um reflexo imperfeito de Deus no nosso mundo e pleno no Céu. Os santos não são fontes de luzes por si mesmas, mas refletem a única luz de Cristo. São Paulo diz que em Jesus habita corporalmente a plenitude da divindade. Mas é difícil imitar todos os aspectos da sua vida. Por isso, podemos contemplar nos santos aspectos da vida de Cristo. Os santos são um raio luminoso do mistério infinito de Cristo no nosso mundo.
Chesterton dizia que cada santo tem o mérito de lembrar à sua época alguma virtude de Cristo que estava esquecida no seu momento histórico. E cada época é convertida pelo santo que mais a contradiz. Sendo assim, num momento que o luxo começava a reinar na Europa, São Francisco de Assis veio nos mostrar a beleza do desprendimento, assim como Cristo o vivia; em uma época violenta como o século XX (época dos grandes sistemas totalitários, dos grandes genocídios), os santos nos fizeram lembrar a misericórdia de Deus (Santa Faustina, Madre Teresa de Calcutá, Beato João Paulo II e muitos outros). Os santos são em cada época uma recordação única do mistério de Cristo.
Agora temos que considerar algumas objeções:
Será possível inserir alguém entre a nossa relação com Cristo? Podemos ter algum outro modelo de vida? Não será verdade que só Cristo (solus Christus) salva? Imitar algum outro personagem histórico não seria uma influencia pagã, uma espécie de idolatria?
Para responder a essas objeções, evidentemente, temos que recorrer à Bíblia, formada pela Igreja e fonte da sua doutrina.
1 Cor 4,16: “Rogo-vos pois, sede meus imitadores”; 1 Cor 11,1: “Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo”; 1 Tes. 1,6: “De vossa parte, vos fizestes imitadores nossos e do Senhor, abraçando a palavra com a alegria do Espírito Santo, em meio a muitas tribulações”; Heb. 6, 11,12 “Desejamos, pois, que cada um de vós manifeste até o fim a mesma diligência para a plena realização da esperança, de forma que não sejais indolentes, mas imitadores daqueles que, mediante a fé e a perseverança, herdam as promessas”; Fil. 3,17: “Irmãos, sede meus imitadores, e prestai atenção nos que vivem segundo o modelo que têm em nós”. Esses textos nos mostram que podemos imitar outras pessoas além de Jesus Cristo; o critério é imitar os que por sua vez foram imitadores de Cristo.
O homem pode alcançar a santidade? Ele não será sempre santo e pecador (iustus et pecattor)? Não seria uma presunção chamarmos alguém de santo?
A Bíblia não só diz que é possível se tornar santo, mas que essa é a vocação universal de todo homem. Já no Antigo Testamento Deus exorta: “Sede santos porque Eu sou santo” (Lev 11,44); e no Novo Testamento há várias afirmações desse tipo: “Procurai a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor”(Hb. 12,14); “A exemplo da santidade daquele que vos chamou sede também vós santos em todas as vossas ações” (1 Pe. 1,15); “Bendito seja Deus ... que nos escolheu em Cristo antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos” (Ef. 1,4); “Vivei uma vida digna da vocação para a qual fostes chamados” (Ef. 4,1); “Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que delas nem sequer se fale entre vós, como convém a santos” (Ef 5,3); “Está é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Tes. 4,3); Deus poderia exigir do homem algo impossível de se alcançar? A santidade é possível porque antes de tudo ela é um dom de Deus e Ele só nos pede o que Ele mesmo nos concede.
Os mortos não estão “dormindo” até o dia da ressurreição final? Enquanto essa não chega o que conta é a fé pessoal, e não a oração dos mortos.
Nos Evangelhos vemos a cena da transfiguração do Senhor, a qual narra o encontro de Jesus Cristo com Moisés e Elias, dois personagens mortos há séculos. Eles aparecem conversando com o Senhor (aparecem rezando). E em outro texto lemos que Deus é o juíz dos vivos e não dos mortos.
“No mesmo dia chegaram junto dele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, Dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, casará o seu irmão com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. (...) Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu. E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mat 22:23-32).
Nesse texto Ele diz claramente que Abraão, Isaque, Jacó estão vivos, junto de Deus. Isso mostra que não há sono eterno até o juízo final, mas os amigos de Deus voltam para ele, depois da morte. E que os santos rezam por nós está afirmado no livro do Apocalipse:
“Quando, enfim, abriu o sétimo selo, fez-se silêncio no céu cerca de meia hora. Eu vi os sete Anjos que assistem diante de Deus. Foram-lhes dadas sete trombetas. Adiantou-se outro anjo e pôs-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os oferecesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está adiante do trono. A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus.” (Ap 8,1-4);
Portanto, os santos estão vivos, intercedendo diante de Deus pelos seguidores de Cristo. Dentre os santos há um lugar especial à Virgem Maria. Essa é venerada pelos cristãos desde sempre. De fato, se Jesus Cristo nos disse que devemos amar inclusive os nossos inimigos, como não amar “a mãe do meu Senhor” e todos os que o serviram com fidelidade?
A veneração aos santos nada tem a ver com a idolatria, que é um pecado grave contra a fé e consiste em colocar algo ou alguém no lugar de Deus. É certo que alguns grupos querem convencer os católicos de que conhecem o que os católicos adoram melhor mesmo do que os próprios católicos. Mas isso é uma pretensão absurda. O culto cristão de adoração é devido somente ao Deus Uno e Trino. No principal ato de culto católico, a Missa, todas as orações são dirigidas ao Pai, por meio de Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Não há nenhuma dirigida aos santos. Os cristãos podem pessoalmente pedir aos santos que rezem a Jesus Cristo conosco, mas a Missa é um ato de culto exclusivo ao Deus Uno e Trino.
Portanto, não há o que temer. Podemos olhar com gratidão as Sagradas Escrituras e aos santos como os grandes imitadores de Cristo, reflexos da santidade divina. Esses estão diante de Deus vivos e transbordam nos demais o amor que incessantemente recebem de Deus.
Esta é uma frase bíblica que os protestantes recortam e tiram fora do contexto para acusar falsamente a doutrina bíblica da intercessão dos Santos ensinada pela Igreja. Primeiro lugar, este versículo está recortado, o versículo completo fica assim:
“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, o qual morreu em resgate por todos” I Tim 2,5
Observaram? O versículo terminado diz que somente Ele morreu por Nós, ou seja, Só Jesus Cristo é o Salvador, este versículo ensina que a Salvação vem somente de Jesus Cristo, isso nada tem a ver com a intercessão dos Santos. É fácil ver o por que de São Paulo ter escrito isso, naquela época os fariseus acreditavam em Deus, mas nao acreditaram em Jesus, e até hoje os Judeus nao creem na divindade de Jesus Cristo. Por isso ele escreveu isso, que de nada adianta você crer em Deus, se nao tem Jesus como teu Senhor e Salvador. Agora o que isso tem a ver com a intercessão dos Santos? Sendo que nós acreditamos que os Santos apenas oram/rezam/intercedem por nós, e NAO acreditamos que eles salvam (o que seria um absurdo)?
Na verdade, existem muitos intercessores. O novo testamento está repleto de passagens que nos exortam a interceder uns pelos outros, inclusive, a que precede o versículo citado acima:
“Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graça por todos os homens (…). Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador”
(1Tm 2,1-3).
“Orai uns pelos outros para serdes curados” (Tg 5,16b)
Logo, Jesus não pode ser o único intercessor. No entanto, todo e qualquer intercessor, sempre ora e obtém a graça em nome de NS Jesus Cristo, e não em seu próprio nome. Pois é somente através de Jesus Cristo que temos acesso ao Pai. Quanto mais santo o intercessor, mais eficaz é a intercessão. Diz ainda a Bíblia, que quanto mais santo o intercessor, maior a eficácia da oração:
“A oração do justo tem grande eficácia.” (Tg 5,16c)
Ora, se a oração de um justo tem grande eficácia, não há dúvida que é melhor pedir a intercessão de um justo do que de um pecador. E, como não existem homens neste mundo mais santificados do que aqueles que já estão no Céu, obviamente, é melhor pedir a intercessão de um santo do Céu do que de um homem que ainda vive neste mundo. Os santos do Céu estão vivos.Porém, argumentam alguns: “Mas como podem interceder se estão mortos e inconscientes?” E quem disse que estão mortos aqueles que estão VIVOS diante do Trono de Deus, porque o nosso Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, como ensinou Jesus:
“Moisés chamou ao Senhor: Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó. Ora Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos porque todos vivem para Ele.” (Lc 20, 37-38)
Portanto, Jesus nos diz que os santos falecidos (como Abraão, Isaac e Jacó) estão vivos na Presença de Deus, pois VIVEM para Ele. Não estão mortos, nem inconscientes! O livro do Apocalipse também ensina que os santos falecidos não estão adormecidos, mas mesmo antes da ressurreição, suas almas dialogam e intercedem junto a Deus:
“Vi sob o ALTAR as ALMAS DOS HOMENS IMOLADOS por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que dela tinham prestado. E CLAMARAM EM ALTA VOZ: Até quando ó Senhor, Santo e Verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes da terra? A cada um deles foi dada, então, uma veste branca, e foi-lhes dito, também, que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos seus companheiros e irmãos, que iriam SER MORTOS COMO ELES.”
(Apc 6,9-11)
Neste diálogo, as almas dos santos falecidos clamam a Deus para que apresse o Dia do Juízo Final. Observe que as almas não estão adormecidas, mas estão sob o altar de onde falam com Deus. Elas clamam ansiosas pelo Dia do Juízo Final, que será também o dia da aguardada ressurreição da carne. Deus lhes dá uma veste branca (símbolo da santidade) e ordena que aguardem mais um pouco. E, enquanto aguardam, o que fazem estas almas? Aguardam adormecidas ou vivas e acordadas? Vejamos:
“Então um dos anciões falou comigo e perguntou-me: Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm? Respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os SOBREVIVENTES da grande tribulação. Lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Por isso, ESTÃO DIANTE DO TRONO DE DEUS, E O SERVEM, DIA E NOITE, NO SEU TEMPLO.” (Apc 7,13-15)
Portanto, esta é a situação das almas enquanto aguardam pelo ansiado dia do Juízo Final e da ressurreição da carne, quando finalmente
“Deus os abrigará em sua tenda e não haverá nem fome, sede, sol ou calor e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos” (Apc 7,15-16).
Veja também como estas almas (os santos, pois estavam com vestes brancas, símbolo da santidade), intercedem diante do Trono de Deus:
“Outro anjo pôs-se junto ao ALTAR, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes para que os oferecesse com as ORAÇÕES DE TODOS OS SANTOS NO ALTAR de ouro, que ESTÁ ADIANTE DO TRONO. A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com AS ORAÇÕES DOS SANTOS, DIANTE DE DEUS.”
(Apc 8,3-4)
Eis aí uma passagem bíblica que nos garante a intercessão dos santos falecidos, e que agora estão diante do Trono de Deus. São oferecidas a Deus as orações de TODOS os santos. Se são de todos os santos, são tanto as orações dos santos da terra (cristãos que levam uma vida santa) quanto dos santos do Céu (que estão vestidos de branco diante do Trono de Deus). Embora este trecho da abertura dos 7 selos esteja se referindo aos santos do Céu (no quinto, sexto e sétimo selos), podemos entender as orações que chegam a Deus, também vindas dos santos da terra, pois é afirmado ser as orações de TODOS os santos. Um exemplo destas orações de santos falecidos, encontra-se em Macabeus. Nela, Judas Macabeus relata uma visão que teve de Onias e Jeremias, já falecidos, intercedendo pelo povo:
“Onias (…) estava com as mãos estendidas, INTERCEDENDO por toda a comunidade dos judeus. Apareceu a seguir um homem notável (…) Esse é aquele que MUITO ORA pelo povo e por toda cidade santa, é Jeremias, o Profeta de Deus.” (2Mac 15,12-14).
E como os santos conhecem nossas preces? Eles são onipresentes?De modo algum. Só Deus é Onipresente. No entanto, todos pertencemos ao Corpo Místico de Cristo no qual vivenciamos a comunhão dos santos, ou seja, vivenciamos o fluxo de amor e relacionamentos entre todos os membros do Corpo Místico. De um modo especial, os santos que estão no Céu já possuem uma relação de profunda intimidade com Deus, de modo que através da onipresença de Deus, os santos tomam conhecimento das preces que lhes são dirigidas. Em outras palavras, é o próprio Deus quem lhes transmite as nossas preces. Eis como Dom Estevão Bettencourt explica esta questão:
“Os bem-aventurados têm conhecimento das preces que neste mundo lhes são dirigidas, pois Deus, que fez os homens solidários entre si, não permite que essa comunhão seja dissolvida pela morte. Por isso pedimos aos santos que intercedam por nós no Céu, e Deus lhes dá a conhecer nossas orações para que, de fato, eles rezem por nós ao Pai.”
Mas, então, qual a necessidade desta intercessão, se Deus já conhecia a prece antes mesmo do santo interceder? Na verdade, toda e qualquer prece feita neste mundo, já era do conhecimento de Deus, antes mesmo de nós formularmos nossas súplicas. Embora assim seja, Deus quer façamos nossas súplicas. Vejamos o que disse Jesus a respeito:
“O Pai já sabe de vossas necessidades antes mesmo de pedirdes.” (Mt 6,8)
“Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.” (Jo 16,24).
Embora Jesus reconheça que Deus já conheça nossas necessidades antes mesmo de fazermos nossa prece, Jesus insiste que devemos formular nossas preces dizendo: Pedi e recebereis. Por que? Para que nosso coração vá sintonizando cada vez mais profundamente ao Coração de Jesus, que "o" intercessor por excelência, nosso modelo à imagem do qual fomos feitos. E também para que tenhamos um diálogo, uma relação com Deus através da oração. Ora, esta relação amorosa, Deus também deseja que exista entre todos os membros do seu Corpo Místico. Por isso, mesmo já conhecendo de ante-mão as nossas súplicas, Deus incentiva a prática da oração e da intercessão para que exista este relacionamento amoroso entre nós e Deus e também entre todos os filhos de Deus, ou seja, para que “a nossa alegria seja completa”. Interceder por alguém é um ato de amor entre os filhos de Deus. Deixar de interceder é falta de amor. Deus jamais proibirá a intercessão porque Deus é Amor.
“Naquele dia pedireis em meu nome e já não digo que rogarei ao Pai por vós. Pois o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus.” (Jo 16,26-27)
Título Original: Jesus é o Único Mediador entre Deus e os Homens.
Site: Links Católicos
Editado por Henrique Guilhon
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