Dom Henrique Soares
Apresento aqui algumas ponderações sobre o ecumenismo.
Que é ecumenismo?
É um belíssimo movimento de fé e amor suscitado pelo Espírito Santo no coração de tantos cristãos de diversas comunidades eclesiais no sentido de rezar e trabalhar com esforço sincero para conseguir uma maior unidade entre os cristãos. Assim, a finalidade última do movimento ecumênico é a unidade visível da Igreja de Cristo, expressa na comunhão de fé e amor entre todos os que têm o nome de cristãos. Sendo assim, o ecumenismo dá-se somente entre as comunidades cristãs, isto é, aquelas que aceitam Jesus como Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Salvador do mundo, e professam a Santa e Indivisa Trindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Neste sentido, não são cristãos os espíritas, as testemunhas de Jeová, os mórmons...Com eles, não se deve falar em ecumenismo: com os não-cristãos faz-se diálogo inter-religioso, que é a busca de um respeito recíproco para trabalhar em prol do bem comum e dos valores humanos universais. Então, a palavra-chave para o ecumenismo é unidade; já para o diálogo inter-religioso, a palavra-chave é respeito.
As igrejas cristãs são todas iguais?
Para que se coloque o ecumenismo em prática de modo correto, é necessário compreender a doutrina católica sobre a Igreja e suas relações com os outros cristãos! A nossa fé é claramente exposta pelo Concílio Vaticano II:
(1) A Igreja é necessária para a salvação, porque Cristo, o único Salvador, quis a Igreja, fundou a Igreja e deu-lhe a missão de continuar sua missão: “Cristo, Mediador único, constitui e sustenta indefectivelmente sobre a terra, como organismo visível, a sua Igreja santa, comunidade de fé, de esperança e de caridade, e por meio dela comunica a todos a verdade e a graça” (LG 8). Então, a Igreja não é facultativa ou sem importância: aderir a Cristo exige a pertença à sua Igreja, pela qual Cristo fala e na qual Cristo dá a salvação, sobretudo nos sacramentos da fé.
(2) Esta Igreja de Cristo é única e permanece de modo pleno somente na Igreja católica, fundada por Cristo: “Esta é a única Igreja de Cristo, que no Símbolo (= Credo) professamos una, santa, católica e apostólica, e que o nosso Salvador, depois da sua ressurreição, confiou a Pedro para que ele a apascentasse, encarregando-o, assim como aos demais apóstolos, de a difundirem e de a governarem, levantando-a para sempre como ‘coluna e sustentáculo da verdade’. Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste (= permanece inteira, continua íntegra na sua essência) na Igreja católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele” (LG 8).
(3) E as outras comunidades cristãs? O Concílio ensina que elas têm elementos da Igreja de Cristo e afirma claramente que fora do corpo visível da Igreja católica há inúmeros elementos de santificação e verdade (cf. LG 8); e os cita: “a palavra de Deus escrita, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade e outros dons interiores do Espírito Santo e elementos visíveis” (UR 3). O Concílio também afirma que os atos de culto de nossos irmãos separados são canais de graça e podem conduzir à salvação: “Também não poucas ações sagradas da religião cristã são celebradas entre os nossos irmãos separados... estas ações podem realmente produzir a vida da graça e devem mesmo ser tidas como aptas para abrir a porta à comunhão e à salvação” (UR 3). Portanto, o Espírito do Ressuscitado serve-se também dessas comunidades separadas da Igreja católica: “As igrejas e comunidades separadas, embora creiamos que tenham defeitos (na profissão de sua fé, na sua doutrina e práxis eclesial), de forma alguma estão despojadas de sentido e de significação no mistério da salvação. Pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como meio de salvação cuja força deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada a Igreja católica” (UR 3).
(4) Nossos irmãos não-católicos não estão visivelmente na plena comunhão da Igreja de Cristo, que somente se realiza na Igreja católica: “Os irmãos separados, quer como indivíduos, quer como comunidades e igrejas, não gozam daquela unidade que Jesus quis prodigalizar a todos os que regenerou e convivificou num só corpo e numa vida nova; unidade que as Sagradas Escrituras e a venerável Tradição da Igreja abertamente declaram. Porque só pela Igreja católica de Cristo, que é o instrumento geral da salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios da salvação” (UR 3).
Estes pontos, aqui apresentados mostram-nos o quanto é firme e coerente a posição da Igreja na questão ecumênica. O Concílio nada mais fez que reafirmar a fé constante da Igreja de Cristo. Uma coisa deve ter ficado clara: ecumenismo não é relativismo (dizer que todas as religiões são iguais e têm o mesmo valor), não é irenismo (fazer de conta que dá pra ficar tudo como está, aceitando a doutrina uns dos outros como se essa Babel doutrinal fosse vontade de Cristo e estivesse de acordo com a doutrina dos Apóstolos) nem tampouco é sincretismo (mistura de religiões e de ritos). Então, cuidado com a palavra “ecumenismo”: pode prestar-se a tristes enganos!
Vejamos, agora, algumas questões práticas, ligadas ao ecumenismo.
(1) Um católico pode participar de um culto protestante ou das reuniões de uma religião não-cristã?
Se se trata de um culto de formatura, de um casamento a que se foi convidado, de um funeral, sim. Se, ao invés, se trata de fazer aquelas famosas “visitas”, não! Para que um católico participe de um culto evangélico, é necessário que haja um motivo extraordinário, como uma celebração ecumênica, com a presença de representantes da Igreja católica. Em geral os católicos que participam de cultos protestantes não têm suficiente formação doutrinal católica e terminam por misturar tudo e até por abandonar a fé católica. Além do mais, quando um protestante convida um católico para ir ao culto, fá-lo não com intenção ecumênica e fraterna, mas com o intuito de proselitismo, isto é de “converter” o católico... como se um católico não fosse cristão!
Pior ainda seria participar de um culto espírita, de uma reunião das testemunhas de Jeová ou dos mórmons... ou de uma “missa” ou quaisquer outros sacramentos administrados na “Igreja” Brasileira. Esses sacramentos são todos provavelmente inválidos!
(2) Pode-se fazer celebrações ecumênicas de formatura e outros eventos?
Em princípio sim. Mas é necessário, em cada caso, a permissão do Bispo. Não basta a vontade do padre! Além do mais, uma celebração ecumênica não é ir cada um pra rezar do seu modo, quase que ignorando o outro; ao invés, deve ser preparada com antecedência pelos ministros das diversas comunidades que participarão da celebração, de modo que seja uma celebração só, toda integrada e na qual cada um exerça um papel, em unidade e comunhão. Caso contrário, é melhor que não haja celebração ecumênica!
É importante notar que não se faz celebração ecumênica com os não-cristãos (espíritas, por exemplo). Quando o Papa reuniu todas as religiões em Assis, no momento da oração cada grupo religioso fez a sua separadamente, em locais separados. O Papa somente rezou junto com os cristãos!
Também não se deve organizar celebração ecumênica aos domingos, para não atrapalhar a participação da missa. Se um católico participa de uma celebração ecumênica num domingo, de modo algum está dispensado da missa dominical!
A Igreja católica não faz celebração ecumênica com as “Igrejas” Brasileiras, pois não reconhece estas últimas como igrejas. Não reconhece seus sacramentos nem seus ministros, nem faz nenhum tipo de diálogo ecumênico com elas, pois não crê na idoneidade de seus ministros que, em geral, enganam o povo fazendo-se passar por católicos e imitando tudo que é da Igreja católica! Um católico que celebre qualquer sacramento nas “Igrejas” Brasileiras peca gravemente e simula a celebração dos sacramentos!
(3) Um católico pode casar-se com um não-católico?
Pode, desde que tenha a licença do Bispo. Para isso é necessário que a parte não-católica se comprometa a respeitar a religião da parte católica e que o católico se comprometa a fazer o possível para que os filhos sejam educados na fé católica. Se não for possível, em último caso, que os filhos sejam educados como cristãos até que possam optar livremente pela religião do pai ou da mãe.
Caso um católico case-se com um não-católico sem a devida permissão canônica, incorre em pecado grave e seu casamento é nulo para a Igreja católica.
(4) Um católico pode participar de estudos bíblicos com os irmãos protestantes?
Em princípio sim. O problema é que na atual situação do Brasil, esses estudos não têm o objetivo de fazer crescer na comunhão e no amor a Jesus, mas de querer “converter” os católicos, fazendo-se uma leitura ridicularmente fundamentalista da Palavra de Deus, que termina por trair o sentido da mesma. Em geral, os católicos que fazem esses “estudos” com os irmãos protestantes são despreparados e terminam completamente confusos. Sendo assim, na nossa situação, um católico que deseje conhecer mais a Palavra de Deus vá participar de um dos cursos bíblicos promovidos pela Igreja. Na nossa Arquidiocese há muitíssimos e de boa qualidade! Expor a nossa fé a riscos desnecessários é temeridade e, portanto, pecado!
(5) A Igreja católica aceita o batismo dos cristãos não-católicos?
Em geral sim, desde que batizem em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, utilizando água. Com certeza batizam validamente: a Igreja Episcopal Anglicana, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil, a Igreja Metodista.
Apesar de terem uma visão deficiente sobre este sacramento, a Igreja aceita também o batismo das seguintes comunidades: presbiterianos, batistas, Igrejas congregacionais, adventistas, a maioria das igrejas pentecostais e Exército da Salvação.
A Igreja tem dúvidas sobre o batismo dos pentecostais que batizam só em nome de Jesus, da Igreja Pentecostal Unida do Brasil e das chamadas Igrejas Brasileiras (são ao redor de 30). Se alguém batizado nessas comunidades pedir para entrar na Igreja católica, deve ser batizado sob condição (“Se não és batizado, eu te batizo em nome do Pai...”)
Com certeza, batizam invalidamente: as Testemunhas de Jeová, os mórmons e a Ciência Cristã.
Espero que tenham ficado claros estes pontos. Lembremo-nos que todos aqueles que crêem que Jesus é Senhor e Deus são cristãos e nossos irmãos. Podemos nos ajudar tanto na vida diária e dar juntos um belo testemunho de amor a Jesus, apesar daquilo que nos separa. O Senhor deseja para nós a unidade na sua única Igreja. Quanto aos não-cristãos, devem ser respeitados na sua consciência e opção religiosa. Quanto aos ateus, devem ser também respeitados e acolhidos. Que vendo nosso carinho e respeito para com eles, possam descobrir em Cristo o Deus verdadeiro!
Foto: Web
Site: Dom Henrique
Editado por Henrique Guilhon
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