Aos poucos, se juntaram a ela antigas alunas, que se tornaram as primeiras missionárias da caridade. Madre Teresa procurava Jesus nos lugares onde ninguém O buscava: no lixão, ela ia quase todos os dias revirar a imundície, e muitas vezes recolhia ali pessoas doentes, já roídas pelos ratos, e até bebês, um dos quais conseguiu “ressuscitar” com um boca a boca (fato captado pelas câmeras da BBC).
Certamente, não foi uma mulher perfeita… deve ter tido lá os seus erros. Mas, dentro do coração de milhões de pessoas, católicas ou não, há uma convicção: se aquela mulher me visse em dificuldades, ela se comoveria e me ajudaria. Ela era mesmo santa. Tanto que seu nome virou sinônimo de virtude e bondade.
Suas rugas profundas eram como o leitos de um rio, onde corria amor e sofrimento. Mas o escritor ateuChristopher Hitchens não se comoveu com essa mulher; antes a odiou. Escreveu um livro e produziu um documentário – “Anjo do Inferno” – afirmando que Madre Teresa era “uma fanática, fundamentalista e uma fraude”. Em um programa de TV, foi além, e a xingou de bitch.
Como militante do socialismo, Hitchens não poderia mesmo entender o bem que a Madre fazia aos pobres. Sua visão materialista de mundo o impedia de ver além do que os olhos podem enxergar. Cadê os hospitais de ponta? Cadê os pobres saindo da pobreza? Perguntava ele.
Hitchens acusava a Madre de não ajudar os pobres a sair de seu estado de pobreza. De fato, Madre Teresa não fundou uma ONG, ela não fazia trabalho social; ela fazia CARIDADE, ela amava cada pobre como um filho saído de seu ventre. A mesma acusação que se fez a ela, poderia-se fazer a São Francisco de Assis: quem aí ouviu dizer que o santo levou algum pobre a ascender socialmente? E, no entanto… ele era a maior riqueza dos pobres, em seu tempo.
Alguns leitores nos pediram para refutarmos o documentário “Anjo do Inferno”. Curiosamente, a BBC deixa disponível esse filme no Youtube, mas não o estupendo Something Beautiful For God, produzido pela mesma emissora, em 1969 (se alguém achar no Youtube, por favor me avise). O interesse da BBC em encobrir as boas obras da Madre e jogar lama em sua memória fica ainda mais claro quando a emissora se recusa a autorizar a exibição do documentário de 1969 em um festival de cinema gratuito realizado em 2010, para celebrar o centenário de nascimento de Teresa (Fonte: The Hindu).
Alguns dizem que Hitchens era obcecado pela figura de Madre Teresa. Eu prefiro pensar que ele era fascinado por ela, mas se revoltava contra esse fascínio, tentando sufocá-lo com fúria. Fúria e amargura era só o que ele tinha, já que seu livro e seu documentário são pobres, muito pobres em fundamentação. Que Deus tenha misericórdia de sua alma. Espero que, ainda que em seu último suspiro, ele tenha se arrependido de seus erros.
Em vez de rebater o documentário de Hitchens, em que Madre Teresa é ate mesmo acusada de combater fortemente o aborto e o divórcio (eita mulé marvada!), preferimos deixar aqui o testemunho do nosso leitor Harun Salman. Ele aprendeu a amar Jesus no convívio com a freirinha de Calcutá. Então, os ateus socialistas ladram, e a caravana da caridade passa!
“A Madre não fazia proselitismo; evangelizava”
Filho de uma família altamente cosmopolita, cresci entre Sussex (Inglaterra) e Sringeri (Índia), com eventuais férias no Brasil. Um dia, ouvi alguém dizer que “o santo é a criatura humana plenamente realizada”. Pronto. Decidi ser santo. Minhas primeiras referências foram Swami Chinmayananda, um líder hindu, e Madre Teresa.
Convivi com os dois. Com Swami Chinmayananda, aprendi sânscrito e vedanta. Com Madre Teresa, aprendi a amar Jesus. Estudar com Swamiji (uma forma carinhosa de chamar Swami) foi fácil. Ele e seus discípulos davam aula perto de casa. Porém, trabalhar com Madre Teresa foi bem mais difícil. Ela percorria ambientes perigosos, trabalhava muito e não podia perder tempo catequizando um moleque com pretensões à santidade.
Tive que esperar pela autorização dos meus pais. Finalmente a autorização veio. Era 1979. Eu não tinha mais o cabelo azul da rebeldia. Tinha estudado enfermagem. Falava hindi, sânscrito, tâmil e malayalam. Era o melhor aluno do colégio, campeão de matemática. Parecia um menino ajuizado. Era um bom ator. Meus pais acreditaram. E, aos 15 anos, conheci minha heroína.
Eu era apenas mais um de uma grande turma de estudantes ingleses, uma garotada que queria “fazer a sua parte”. Madre Teresa nos olhou com simpatia e gentileza, mas não sem certa contrariedade. E nos pôs para trabalhar, inicialmente, pequenas tarefas: varrer o dispensário, lavar o chão, cortar vagens. Aos poucos, os que mostravam resistência iam ganhando mais tarefas. A maioria ia desistindo. Dessa turma inicial, só eu perseverei.
Madre Teresa chegava para a missa e lá estava eu. Teimoso. Acho que ela começou a achar engraçado. Ganhei mais responsabilidades. Fui autorizado a trabalhar em Nirmal Hriday, um local fundado pela Madre para que as pessoas destituídas (“os mais pobres entre os pobres”) não agonizassem como animais, nas ruas, mas tivessem seus últimos momentos cercadas de amor.
A Madre não fazia proselitismo; evangelizava. Cada moribundo recebia atenção conforme a sua fé. Chamávamos sacerdotes hindus e pândits quando necessário. Frequentemente, eles não vinham. Por isso, memorizei o “Garuda Purana”, um texto hindu, que fala do pós-morte, com o equivalente hindu de Céu, Inferno e Purgatório. Um senhor que estava no final da vida pediu-me que o recitasse. Recitei. Ele perguntou como eu sabia aquilo. E eu disse que Jesus também ensinava sobre Swarga (o Céu). “Quem é Jesus?”, ele perguntou, querendo evidentemente uma resposta filosófica (hindus são muito introspectivos). Eu respondi: “Jesus é o começo e o fim”. Ele suspirou: “Oh! Eu amo Jesus!”, e morreu.
A maioria estava lá morrendo mesmo. Levantei os olhos para chamar alguém e dei de cara com Madre Teresa. Devo ter feito alguma coisa bem, pois me foram confiadas novas tarefas. Ajudei a separar aqueles que na verdade não estavam morrendo, mas só precisavam de atendimento médico. Não podíamos pagar táxis (dinheiro era sempre um problema), por isso, quando um paciente precisava ser levado para o hospital, eu o carregava. Sou forte, isso nunca foi problema.
O trabalho, que já era muito, aumentou. Fui autorizado a trabalhar em Shanti Nagar, uma “cidade” fundada por Madre Teresa para abrigar os hansenianos, sempre vítimas de preconceito (leia-se violência). Amei o trabalho! Era exaustivo, mas apaixonante!Faltavam recursos, sobrava amor! Madre Teresa precisava estar em constante movimento, pedindo ajuda para os recursos mais elementares. Nunca sabíamos de onde viria a comida, no dia seguinte. Nem se haveria comida, no dia seguinte. Vivíamos da Providência, literalmente! Por isso, vivíamos em oração.
Sem oração, eu entraria em pane! Aprendia-se a orar na marra! Madre Teresa era absolutamente gentil, com todo mundo. Mas nem um pouco sentimental. Era firme, decidida, prática. Não ficava sorrindo à toa, feito uma pateta, nem vivia de cara amarrada. Gostava de cantar e de que cantassem. Ela gostava muito de me ouvir cantar “À la claire fontaine”, uma canção infantil, e “Teresinha de Jesus”. Traduzi a letra para a Madre, e ela observou que era um ensinamento sobre a Santíssima Trindade (“Acudiram três cavalheiros…”). E é mesmo!
Ela trabalhava mais do que qualquer pessoa que eu conheci. A qualquer momento que alguém olhasse para ela, ela estaria trabalhando, sem sair do estado orante. Eu vi sua saúde declinar, ao longo dos anos. Ficava impaciente quando sua energia física não acompanhava sua incrível energia espiritual.
Quando eu perdi minha família, foi nela que eu encontrei conforto. Quando meus amigos, a mulher que eu amava e toda a sua família foram mortos num terrível massacre, em 1994, foi nela, velhinha e muito doente, que eu encontrei conforto. O que ela disse? Nada. Ela simplesmente estava lá.
Título Original: Quem não gosta de Madre Teresa, bom sujeito não é
Site: Aleteia
Editado por Henrique Guilhon
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