Voltamos a frisar o que afirma S. Paulo: que a ordenação de Timóteo se deu mediante a imposição das mãos do colégio de presbíteros ou do "conselho de anciãos". Vemos então que os primeiros presbíteros foram ordenados pelos próprios Apóstolos e os presbíteros seguintes foram ordenados pelos Apóstolos ou por outros presbíteros previamente ordenados. O certo é que para que uma ordenação seja válida, é preciso que o aspirante seja ordenado por um presbítero que por sua vez tenha sido ordenado por outro presbítero, e assim sucessivamente, numa linha descendente que tem origem nos Apóstolos e, deles, ao próprio Senhor Jesus Cristo, que os elegeu. A esta legítima linha de sucessão chamamos "Sucessão Apostólica".
O mesmo ocorre com Tito, que também sendo um presbítero, é enviado por S. Paulo a organizar as igrejas e instituir presbíteros para o seu governo:
“O motivo de ter-te deixado em Creta foi para que acabasses de organizar o que faltava e estabeleceres presbíteros em cada cidade, como te ordenei." (Tt 1,5)
A finalidade era sempre clara:
“Tu, pois, filho meu, mantei-te forte na graça de Cristo Jesus; e do quanto me tens ouvido na presença de muitas testemunhas, confiai-o a homens fiéis, que sejam capazes, por sua vez, de instruir a outros" (2Tm 2,1-2)
Em conformidade com o claríssimo testemunho das Sagradas Escrituras, também em documentos extra-bíblicos antiquíssimos (desde o início do séc. II) é possível observarmos que a Igreja primitiva já estava organizada hierarquicamente com o colégio de bispos, presbíteros e diáconos.
O bispo era o chefe de uma "igreja", isto é, de uma diocese, um conjunto de paróquias geograficamente organizadas. Cada paróquia tinha como ministro um presbítero; este era o sacerdote responsável por ministrar os Sacramentos e orientar os fiéis na doutrina. Era normalmente auxiliado por diáconos. Tudo isto é testificado, por exemplo, nas sete cartas de Santo Inácio de Antioquia [1] datadas do ano 107 (escritas antes mesmo da organização final dos livros da Bíblia). Santo Inácio foi Bispo de Antioquia e discípulo pessoal dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo.
O Episcopado tem origem na Sucessão dos Apóstolos
Episcopado é o nome que se dá ao ministério do Bispo. O Episcopado tem origem no ministério dos Apóstolos, como vimos. Isto é, foi o próprio Senhor Jesus Cristo Quem elegeu os Apóstolos como Bispos da Sua Igreja, que Ele mesmo instituiu sobre a Terra (Mt 16,18). Com efeito, a Bíblia ensina que Nosso Senhor deu o governo da Igreja aos Santos Apóstolos: "Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e, quem me rejeita, rejeita àquEle que me enviou" (Lc 10,16).
Eles, os Apóstolos, estariam agora assentados na Cadeira de Moisés, e no lugar dos escribas e Fariseus (cf. Mt 23,2-3). Por isso, o Cristo deu a eles a autoridade que outrora foi dada a Moisés: "ligar e desligar, atar e desatar", com o sentido de unir e desunir: definir o que é certo e o que é errado em termos de doutrina verdadeiramente evangélica (cf. Mt 18,18). Por essa razão, São Paulo ensina que “a Igreja do Deus Vivo é a Coluna e o Fundamento da Verdade” (cf. 1Tm 3,15).
Como os Apóstolos não permaneceriam conosco para sempre, e como o mundo é muito grande, nas várias regiões e nações aonde eles iam pregando o Evangelho, iam também instituindo novos bispos, que deveriam cuidar do rebanho de Cristo em sua ausência. – E, claro, após a sua morte também. Afinal, Jesus prometeu que estaria com a sua Igreja até o fim dos tempos, e não até a morte dos Apóstolos (cf. Mt 28, 20).
Um dos testemunhos históricos mais antigos desta realidade está na Primeira Carta de São Clemente aos Coríntios (2), escrita por volta do ano 90 (dois séculos antes da composição final da Bíblia Cristã). Clemente, 4º. Bispo de Roma na sucessão de Pedro, escreveu:
“(42) Os Apóstolos receberam do Senhor Jesus Cristo o Evangelho que nos pregaram. Jesus Cristo foi enviado por Deus; Cristo, portanto, vem de Deus, e os Apóstolos vêm de Cristo. As duas coisas, em ordem, provêm da Vontade de Deus. Eles receberam instruções e, repletos de certeza por causa da Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, fortificados pela Palavra de Deus e com plena certeza dada pelo Espírito Santo, saíram anunciando que o Reino de Deus estava para chegar. Pregavam pelos campos e cidades, e aí produziam suas primícias, provando-as pelo Espírito, a fim de instituir com elas bispos e diáconos dos futuros fiéis. Isso não era algo novo: desde há muito tempo, a Escritura falava dos bispos e dos diáconos. Com efeito, em algum lugar está escrito: ‘Estabelecerei seus bispos na justiça e seus diáconos na fé’."
“(44)Nossos Apóstolos conheciam, da parte do Senhor Jesus Cristo, que haveria disputas por causa da função episcopal. Por esse motivo, prevendo exatamente o futuro, instituíram aqueles de quem falávamos antes, eordenaram que, por ocasião da morte desses, outros homens provados lhes sucedessem no ministério."
“A História Eclesiástica”[2], de Eusébio de Cesaréia, é outro dos mais rigorosos registros dos acontecimentos dos primeiros quatro séculos da Igreja, incluindo a realidade histórica da sucessão dos Apóstolos. Segundo a o ensinamento que os Apóstolos diretos de Jesus Cristo comunicaram aos seus discípulos, os bispos da Igreja são sucessores diretos dos Apóstolos. É exatamente por isso que, fora da Sucessão dos Santos Apóstolos, não há nem pode haver Episcopado verdadeiro: logo, não há Igreja de fato.
Ordenação Episcopal de Dom Júlio E. Akamine
Testemunhos históricos da Sucessão Apostólica
Alguns membros de algumas das novas seitas ditas "evangélicas" chegam ao extremo de alegar que a Sucessão Apostólica teria sido inventada pela Igreja Católica para sustentar que só ela possui bispos e presbíteros verdadeiros. Nada está mais distante da realidade, por tudo o que acabamos de ver e por muitos outros motivos, como o fato de que a Igreja Católica não alega que só ela possua bispos e presbíteros verdadeiros. Ela reconhece a validade dos ministros da Igreja Ortodoxa, que são também sucessores dos Apóstolos. – É no mínimo curioso como o subjetivismo protestante tenta inverter os fatos, querendo "reinventar" até a História! Não foi a Igreja Católica que inventou a Sucessão Apostólica: o protestantismo é que precisou inventar que a Sucessão dos Apóstolos não é um fato (ignorando as afirmações diretas das Sagradas Escrituras, que eles tem como regra de fé, juntamente com a farta documentação existente, os registros historiográficos, a arqueologia, etc.) pois esta é a maior prova de que as tais "igrejas", ditas "evangélicas", não são igrejas de fato, mas apenas seitas que deturpam o cristianismo original.
Conclusão
Desgraçadamente, sair por aí inventando “igrejas” e se intitulando a si mesmo "pastor", "bispo" e até "apóstolo" (!) é coisa muito, muito fácil, e praticamente estimulada pela nossa legislação, que inclusive oferece isenção de impostos a toda sorte de falsos profetas. Tanto é verdade quer, nos tempos atuais, "igrejas" são encaradas e geridas como se fossem empresas, verdadeiras máquinas de fazer dinheiro. Fundar "igreja" e se intitular a si mesmo de "bispo" é talvez o charlatanismo mais rentável de todos! Exemplos de patifes que amealharam imensas fortunas usando o santo Nome de Deus em vão e corrompendo o Evangelho são bem conhecidos. Infelizmente, pessoas ingênuas e desesperadas, sem nenhum conhecimento da fé e da verdadeira Igreja, nunca faltaram. A responsabilidade por essa situação, em parte é dos próprios presbíteros e bispos atuais, mas este é um outro problema muito vasto, que não nos compete analisar. Um dia, cada um de nós prestará contas diante do Justo Juiz. Por isso, católico, é de suma importância que você conheça o nosso passado, as nossas raízes, a história da verdadeira Igreja, e que preserve a memória cristã.
Em resumo, fora da sucessão regular dos Apóstolos não há verdadeiro episcopado, não há verdadeiro ministério, não há bispos e, menos ainda, "apóstolos". Não há Igreja de fato. Por esta razão, os chamados “bispos evangélicos" não são bispos, e suas “igrejas” não são igrejas. Dizer isto não é ser intolerante, nem rigoroso, nem grosseiro. É apenas e simplesmente falar a verdade. Ou será que para sermos gentis e tolerantes deveríamos ser coniventes com a mentira?
Já está mais do que na hora desses nossos irmãos saírem de sua falsa “redoma bíblica” e procurarem conhecer a verdadeira fé cristã, dos primeiros séculos, dos tempos em que a Bíblia Sagrada ainda nem estava definida, e que é a mesma fé de hoje e de sempre. Os que assim fizeram acabaram retornando para a primeira e única Igreja de Cristo, como aconteceu neste caso e em muitos outros. –Pois Jesus é a Verdade, e Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. O que sempre foi Verdade não pode ser mentira agora.
Peçamos a Deus que nossos irmãos separados ditos "evangélicos" sejam libertos do subjetivismo e do engano. E que mais e mais católicos busquem conhecer melhor o tesouro que possuem na Igreja Católica, e deem o seu testemunho sempre que tiverem oportunidade para tanto.
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[1] INÁCIO, de Antioquia. Padres Apostólicos - Carta aos Romanos. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides M. 2ª. Edição. São Paulo: Paulus, 1995. (Patrística; 1). p. 103-108;
[2] CLEMENTE, Bispo de Roma. Padres Apostólicos, Primeira Carta de Clemente aos Coríntios. Tradução Ivo Storniolo, Euclides M. Balancin. São Paulo: Paulus, 1995. (Patrística, 1). p. 5-70;
[3] EUSEBIO, Bispo de Cesaréia. História Eclesiástica. Tradução Monjas Beneditinas do Mosteiro de Maria Mãe de Cristo. São Paulo: Paulus, 2000 (Patrística; 15).
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Ref.:
Apostolado "Veritatis Splendor", artigo "Estudando a sucessão apostólica", disp. em:
veritatis.com.br/apologetica/protestantismo/8115-estudando-a-sucessao-apostolica
Acesso 24/4/015
Título Original: A invasão de "bispos" e a Sucessão Apostólica
Site: O Fiel Católico
Editado por Henrique Guilhon
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