Acampamento Revolução Jesus
Padre Paulo Ricardo. Foto: Gustavo Borges/cancaonova.com
Eventos Canção Nova
Você precisa viver sua castidade por causa de sua amizade com Deus, por causa do amor
Diante de Deus, por que eu, Pe. Paulo Ricado, estou aqui? Para que estou fazendo esta palestra? Para que todos digam – “Nossa, o Pe. Paulo Ricardo é ‘O cara’, é um gênio!”. Eu sei que não sou isso. Se eu fizer esta palestra por causa de mim, da minha vaidade, porque eu quero aparecer; eu posso fazer uma belíssima pregação, levar todos vocês para o céu, e estar cavando o meu caminho para o inferno.
Não é porque você está fazendo a coisa certa que você é uma pessoa virtuosa… Você pode fazer a coisa certa, mas pela RAZÃO errada. O que faz uma pessoa virtuosa é o coração da pessoa (‘por fora bela viola, por dentro pão bolorento’).
Então, falando sobre o tema da castidade, por que você quer ser casto? Por que você não quer se masturbar, por que você não quer fazer sexo com sua namorada? Por que você quer ter uma vida casta no matrimônio? Você pode estar vivendo uma vida pura, casta, mas se você não tiver uma razão verdadeira, tudo isso não passa de boas maneiras, de comportamento vazio, e isso não é virtude!
Para que seja virtude deve haver uma finalidade, é isso que diferencia o ser humano dos outros animais, pois estamos em busca de uma finalidade em nossa vida. Uma vaca no pasto não fica perguntando o que será dela amanhã. Ela não reflete, não pensa no futuro. Nunca vi um bezerro se perguntando o que vai ser quando crescer. Ele não tem uma tarefa, mas nós seres humanos temos! Temos que realizar algo. Isso é claro no ser humano, não importa a cultura, sem um porquê, uma finalidade, tudo o que fazemos é inútil.
Viver a castidade por amor
A virtude, portanto, precisa de interioridade, precisa de razão. Você precisa viver sua castidade por causa de sua amizade com Deus, por causa do amor, que é a maior de todas as virtudes. Todas as virtudes sem a caridade são deformadas, são vazias.
Imagine que você é de uma empresa de engenharia e tem de fazer um trabalho muito difícil: você tem que erguer um obelisco de 30m de altura e com 300 toneladas. Centenas de pessoas, de cavalos e cordas são necessários para levantar esse obelisco e, após esse tremendo esforço, após essa atitude quase que heroica, quando ele está em pé, chega o engenheiro e diz: “não, está errado, o centro não é aí”.
E você responde, “mas me custou muito, em suei, foi um trabalho imenso, foi heroico o que fizemos”. Mas a conclusão é que vocês não foram heróis, vocês foram bestas. Por mais difícil que tenha sido, o obelisco está no lugar errado e precisará ser carregado novamente para o lugar correto. Foi um trabalho inútil. Veja, você não é herói. Seu esforço foi admirável, mas foi inútil.
“Você precisa viver sua castidade por causa de sua amizade com Deus, por causa do amor”, afirma Pe. Paulo Ricardo. Foto: Gustavo Borges/cancaonova.com
A mesma coisa acontece quando você vive a castidade porque é vaidoso, porque se acha melhor que os outros. Você não é virtuoso. Se você a vive porque acha que o sexo é algo nojento, criado por satanás, você não é virtuoso. Não tem virtude no que você faz. Se você vive a castidade por qualquer outra razão, isso não é uma virtude. Se você não vive a castidade por amor a Deus, mas por amor até a sua namorada, ao seu esposo ou por qualquer coisa que seja, isso não é virtude. Isso não passa de boas maneiras.
Vocês precisam desentortar a vida de vocês. Pode ser que vocês façam muitas coisas corretas, mas se vocês não têm a caridade, de nada disso adianta. Isso é como o bronze que faz barulho no sino, mas o sino é vazio. Se eu desse todos os meus bens aos pobres, se não tivesse a caridade de nada adianta, diz São Paulo. Santo Inácio de Loyola, em seus escritos sobre os exercícios espirituais, vai nos dizer que o princípio e o fundamento da finalidade do homem, ou seja, o que é de mais importante em nossa existência é que “O homem veio a este mundo para louvar e servir a Deus e, com isso, alcançar o reino dos céus”. O que quer dizer que não existimos para nós mesmos, a finalidade da nossa vida é para Deus.
Ele ainda vai dizer que “todas as criaturas, todos os seres do universo existem para o homem”, olha que coisa bonita! A pessoa não é um meio, mas um fim. Tudo existe para ela. A pessoa, portanto, não pode ser usada. Eu posso usar o microfone, a estante, uma cadeira, até um animal, para o alimento, para proteção. Mas os seres humanos não são meios, não são instrumentos.
Santo Inácio diz, ainda, que o homem não é a finalidade em si mesmo, mas ele é a finalidade de todo o universo, tudo existe para o homem, essa é a finalidade das coisas. Mas o homem é diferente, a sua finalidade é para Deus.
Assim, você não vai usar as pessoas, você não vai usar sua namorada, sua esposa, filhos, você não vai usar as pessoas simplesmente porque elas não são coisas, mas elas servem a Deus. Quando você pega uma pessoa e começa a usá-la, você está tomando o lugar de Deus. Quando você quiser que sua namorada fique aos seus pés, você está querendo tomar o lugar de Deus. Como você deve, então, viver a sua castidade? Compreendendo que tudo o que existe deve ser para a gente amar e fazer com que alcancemos o reino dos céus.
Dessa forma, a virtude da caridade é uma espécie de amor diferente. A gente acha que a caridade é o amor que temos para com os pobres, mas não é isso. O amor de caridade, o amor cristão, o Ágape é um amor que temos que ter para com Deus. Você tem que ser amigo de Deus. Vou descrever como deve ser essa amizade e você vai ver como isso vai afetar os seus relacionamentos. Jesus, no Evangelho de São João, capítulo 15, vai dizer “já não vos chamo de servos, mas de amigos”.
O amor verdadeiro é você querer o bem da outra pessoa
Sabemos que somos amigos de alguém quando você quer o bem dessa pessoa, quando você usa de benevolência. Se você gosta de alguém por causa do prazer que a pessoa causa pra você, por causa de algo que ela lhe proporciona, isso não é benevolência, mas interesse. A primeira característica do amor verdadeiro é você querer o bem da outra pessoa. Eu tenho que querer a salvação dessa pessoa. Eu quero um dia estar com essa pessoa vendo a Deus no céu.
Certa vez, São Francisco de Assis foi a um albergue com um de seus frades. Muitos estavam na sala comum e uma prostituta veio até São Francisco e o convidou para o pecado. E, para surpresa do frade, São Francisco aceitou. Quando ela foi levá-lo para o quarto, São Francisco a encaminhou para o pátio, onde havia uma grande fogueira com pessoas se aquecendo. Ele tirou a roupa, ficou completamente nu e se jogou no fogo. De lá ele a convidou para a fogueira e falou: “vem, deite-se comigo”.
Houve um milagre ali, pois São Francisco não se queimou. Mas, com certeza, o coração daquela prostituta queimou ao entender que se deitar com outro homem, que não seu marido, era deitar-se no fogo do inferno. Você quer levar sua namorada para o inferno? Isso não é amor de benevolência, mas amor de concupiscência.
Precisamos querer fazer o bem para Deus. Não que Ele precise, pois Ele já é o tudo, mas precisamos fazer com que sua glória seja acrescentada aqui na terra. Eu, Padre Paulo Ricardo, estou aqui para te converter porque quero o seu bem, mas também porque eu quero que Deus seja conhecido, adorado.
Quando levamos alguém para Deus, nós damos um beijo nele, nós estamos agradando o Seu coração de Pai. Santa Terezinha não fazia as coisas porque queria ser santa, porque queria ir para o céu, mas porque ela queria agradar a Deus. Não há interesse ou troca, mas benevolência. Quando ela ia rezar, ela dizia – “eu vou lá para o meu pai me ver, porque o que agrada o coração do Pai, o que dá alegria ao coração do pai é ver sua filha”. Amizade com Deus quer dizer agradar o coração de Deus.
A amizade tem que ser recíproca
Outra característica da amizade é que ela tem que ser recíproca. Não tem como você ter uma amizade com uma pessoa sem que seja de forma recíproca, vai e volta. Deus me ama e eu amo a Deus. O amor me ama. Eu sou amado pelo Amor, o Amor me aprova, me ama e me quer bem.
Deus me ama, mas isso ainda não é a salvação. Eu preciso amar a Deus de volta. Preciso ter uma gratidão imensa pelo infinito amor que ele tem por mim. Se você não para um pouco para rezar, meditar, para ter uma profunda gratidão, isso não é amizade. Para se ter uma amizade é preciso que haja convívio.
Você pode até ter uma pessoa que você quer bem e que ela também quer o seu bem, porém só existe amizade quando vocês convivem, quando vocês partilham as coisas mais íntimas. Já está dando para entender o tipo de amor que você deve ter com Deus, mas também como isso ilumina tremendamente os seus relacionamentos?
Tem gente que acha difícil namorar à distância, porque o conceito de namoro hoje em dia é apalpar, é esfregação. Não é isso. O namoro é colocar os dois corações, as duas almas em sintonia. O que faz um casal existir não é um olhar para o outro, mas ambos olharem na mesma direção, como nos ensinou São João Paulo II.
Vamos olhar para o céu e vamos caminhar juntos, isso é ser casal, isso é namorar. É conversar com sua namorada e perguntar como vocês vão viver uma vida virtuosa para levar seus filhos para o céu. Isso é namorar. Namoro não é um parque de diversões. Não é para tirar prazer, porque prazer você tira de uma lata de doces, da montanha russa, vendo o leão do circo. Você tem que querer o bem da pessoa e isso é querer que ela vá para o céu.
Daí nós começamos a ver que, se tivermos uma profunda e verdadeira amizade com Deus, a castidade que eu vivo tem finalidade. Não adianta fazer um esforço enorme para carregar o obelisco e levá-lo para o lugar errado. Para quem se casa para ser feliz eu já digo: não vai dar certo. O seu coração é grande demais, nenhuma pessoa vai te fazer feliz.
Case-se com quem te levará para o céu
O que Deus quer é te fazer feliz no céu e que você tenha uma companheira com quem você vai fazer uma aliança de sangue, por quem você daria o seu sangue para ela seja santa. Se você vai se casar, case-se com essa pessoa porque ela vai ser sua companheira no caminho para o céu. Essa é a finalidade da castidade. Pergunte para uma pessoa que é casada há anos, às vezes o casamento se sustenta só por Deus.
Meu irmão, todo homem um dia vai ter que perdoar o corpo da sua mulher. O tempo passa e você vai envelhecer, minha filha. Você vai morrer. E se você quiser conquistar seu namorado com seu corpo, isso vai durar pouco tempo e só vai gerar insegurança. Esconda seu corpo e deixe ele ver a sua alma.
Se seu namorado for apaixonado pelas suas virtudes, ele não troca você por ninguém. Mesmo quando você tiver velha e despencada, ele não vai trocar você por nenhuma bonitona. Porque ele sabe que o corpo passa, mas o seu coração é um tesouro escondido, uma pedra preciosa. O mesmo com os homens, às vezes ele quer mostrar que é o cara. Ame sua namorada e mostre para ela as suas virtudes e leve-a para o céu.
A castidade é um bem precioso e só vale a pena por amor a Deus, porque Ele tem um céu muito bonito esperando por nós. Só vale você fazer esse sacrifício de esperar com seu corpo porque Jesus veio em corpo, se encarnou e se sacrificou por nós, se entregou por você, ele amou você. Esse amor é o mais perfeito, é infinito, e nenhum amor humano é capaz de chegar aos pés desse amor.
Deus quis transformar o amor do homem e da mulher em sacramento para que você se lembre do amor Dele o tempo todo. Quando você tiver unida ao seu esposo num ato conjugal, abertos à vida, no meio da ação sexual, faça uma oração no segredo do seu coração e diga: meu Deus, se é tão bonito estar unida a ele aqui na terra, como será bom estar unida a Vós no céu! Isso é o sacramento do matrimônio, uma seta para o céu, é algo visível que nos aponta para algo invisível.
É por isso que o amor a Deus é que dá a forma, o brilho, a finalidade da nossa castidade. Sem esse amor, a castidade não passa de boas maneiras. A castidade e a amizade com Deus. Se não houver amizade com Deus, você não será casto. Se você quer se casar, não é suficiente que tenha dois, mas 3 nessa relação: você, seu cônjuge e Jesus. Sem essa 3a pessoa, todo o esforço que você faz para viver a castidade, para ser puro, tudo é exterioridade.
O homem foi feito para louvar a Deus, agradar a Deus. As coisas que nos fazem nos aproximar de Deus, nos aproximemos delas. Aquelas que nos afastam, afastemo-nos delas. Nós, no céu, brilharemos na glória de Deus pelo amor que tivemos a Ele aqui na Terra. Ame sem limites, porque Ele nos amou sem limites! E que alegria que Ele nos ama assim!
Padre Paulo Ricardo
Sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá – MT
Título Original: A castidade e a amizade com Deus
Site: Eventos Canção Nova
Editado por Henrique Guilhon
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