Há não muito tempo, descobriu-se uma espécie de água viva, a Turritopsis Nutricula ou Turritopsis Dohrnii, que tem uma capacidade realmente assombrosa: esses espécimes simplesmente não padecem dos efeitos do envelhecimento, e simplesmente nunca morrem de velhos! São virtualmente imortais: estão livres dos processos biológicos (os quais não cabe tentar explicar aqui) que provocam a decadência celular e o envelhecimento. Além disso, são extremamente resistentes a ferimentos e agressões. A única maneira de ceifar a vida de um desses curiosíssimos animais é despedaçando-o. Cientistas acreditam que outras criaturas marinhas podem também compartilhar deste mesmo “dom da imortalidade”2. Algo que dá o que pensar...
Já o caso dos seres humanos é diferente: é como se nascêssemos para morrer. Nascemos, nos fortalecemos, crescemos, atingimos o ápice de nossas capacidades físicas e mentais em torno dos 30/40 anos de idade e então, a partir daí, passamos a perder vitalidade, um pouquinho mais a cada ano passa, até que... A "máquina" inacreditavelmente maravilhosa entra num definitivo processo de falência.
Do ponto de vista puramente biológico, a morte permanece um mistério, assim como é a existência das doenças para a sensibilidade humana. Inúmeras pessoas de fé ao redor do mundo sofrem com esse antigo dilema: se Deus é Bom e Todo-Poderoso, porque existem o mal e o sofrimento? Por que existem doenças? Entrando finalmente na questão trazida pelo nosso leitor, porque existem doenças genéticas?
O Pecado, a grande causa dos males do mundo
A morte entrou no mundo pelo pecado. Nós nascemos para a felicidade, para a saúde e para viver eternamente, e é por isso que não nos conformamos com as dores e sofrimentos, com as doenças e com a morte. Já os animais, que não possuem alma igual a dos seres humanos e não foram criados para a vida eterna (como vimos aqui), não têm consciência da própria finitude, e assim não sofrem com essas questões transcendentais. Os humanos são os únicos seres que sofrem com a própria finitude.
E da mesma maneira como a morte, também as doenças e todo tipo de desvio e imperfeição da natureza entraram no mundo pelo pecado. Nós não sabemos como seria a vida dos seres humanos sem o pecado. – Adão e Eva foram criados sem pecado, mas não resistiram à tentação do Inimigo. – A história da Queda do homem, nos primeiros capítulos do Livro do Gênesis, quer a interpretemos literalmente ou não, narra como os seres humanos, que foram criados inocentes, foram enganados. Houve um enganador, um embusteiro, um mentiroso, desde o princípio da nossa história: Satanás. E o homem pecou. Pecando, caiu, perdendo o Paraíso, a Intimidade com Deus e a vida eterna e plena que lhe havia sido preparada.
Quando o homem caiu na mentira de Satanás, o Pecado entrou no mundo. Interessante notar que São Paulo Apóstolo, na Carta aos Romanos, descreve esta realidade da seguinte maneira: Adão e Eva transgrediram; assim o Pecadoentrou no mundo. Paulo usa palavras diferentes: uma para o pecado pessoal do ser humano, o pecado da desobediência e da transgressão; outra palavra para o Pecado que entrou no mundo. E que Pecado é esse que entrou no mundo? É Satanás, o inventor do Pecado.
Também é preciso notar que Jesus chama Satanás de “príncipe deste mundo” (Jo 12,31; 14,30; 16,11), e que a Sagrada Escritura afirma que “o mundo está no Maligno”, e que os seres humanos vivem agora sob a influência maciça e tirânica de nosso maior Inimigo (Jo 5,19; Ef 2,2).
O Pecado, que é uma invenção angélica, isto é, de anjos rebeldes, já havia sido inventado antes do homem. O que o homem fez foi aderir a ele, dando as costas para Deus; foi assim que a doença e a morte entraram no mundo. Vivemos, de certo modo, sob o jugo das ações de Satanás e seus anjos, que nos submetem. Pelo Pecado do homem, - crime infinitamente grave porque foi praticado contra Aquele que é infinitamente Bom e Santo, - estamos sujeitos a todo tipo de imperfeição neste mundo. Vivemos agora um período histórico de luta, no qual iremos, com a ajuda de Deus e de sua Graça, com a Redenção em Cristo, lutar contra esses inimigos. E o último inimigo que será vencido, conforme diz São Paulo, é a morte (1 Cor 15,26).
No Antigo Testamento havia o domínio do Pecado. No Novo Testamento, o Filho de Deus se faz homem e vem a este mundo para nos libertar deste domínio do Pecado, da doença, da morte... De todo mal, enfim. Assim como Jesus venceu a morte na cruz (embora ela continue a nos assolar enquanto estamos neste mundo), Ele derrotou também a doença. Os Evangelhos nos mostram, - e o evangelista faz questão de salientar isso, - que o Senhor curou pessoas de suas doenças crônicas, como a mulher que sofria de hemorragia e o cego de nascença. Ora, alguém que já nasce cego sofre de uma doença genética, evidentemente.
Jesus derrotou a doença, mas nós continuaremos lutando com ela até o dia definitivo da nossa Salvação. Da mesma maneira se dá com a morte, nossa última inimiga. Estes séculos em que vivemos, que se situam entre a Ressurreição de Cristo e o Dia do Juízo Final, são tempos de luta. É preciso que tomemos, cada um de nós, a nossa cruz, e sigamos o Salvador do Mundo.
Que sentido tem a doença? Como acabamos de ver, sabemos por Revelação Divina qual foi a sua origem. Mas sabemos também que toda a dor, sofrimento e confusão que vivemos neste mundo possuem algo de redentor. Nossa própria cruz, se a unimos à Cruz do Senhor, é redentora, é salvífica, nos conduz à Salvação e à Libertação final, um pouco mais a cada dia. Este é um grande mistério do cristianismo que, - muito lamentavelmente, - vem sendo esquecido pelos nossos pastores. A maioria dos padres, hoje, não fala mais no valor do sacrifício, não exalta mais a importância de se levar a cruz com coragem e disposição.
Quando tomamos a nossa cruz no dia a dia, estamos seguindo pelo Caminho da Redenção! Jesus disse a todos(atenção: a todos): “Quem quiser me seguir, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e me siga.” (Lc 9:23)! Hoje, porém, muitos católicos adotaram o discurso de falsos profetas e pregadores que ensinam uma tal “teologia da prosperidade”, que ensina exatamente o contrário do que disse Jesus! "Siga Jesus e você vai ficar rico", gritam eles, "Siga Jesus e você vai ter uma vida só de felicidades, sem doenças, sem tribulações, sem problemas!". Mas o Jesus que é Cristo, Filho do Deus Vivo, continua dizendo o mesmo que sempre disse: “Quem quiser me seguir, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e me siga”. Os homens interpretam e mudam a Palavra de Deus conforme seus desejos, mas o Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13,8).
Jesus venceu o Pecado, e com ele a doença e a morte, mas Deus permite ainda que soframos com todas essas coisas, porque (mesmo que não possamos compreender) é o melhor para nós. Já nascemos marcados pelo egoísmo e pelo Pecado, e se tivéssemos já, agora, uma vida livre de todo e qualquer sofrimento, certamente nos tornaríamos soberbos e nos esqueceríamos de Deus. Basta observar como os que mais sofrem são justamente, via de regra, os que têm mais fé e buscam mais a Deus.
Certas calamidades, que vemos neste mundo, nos levam a intimamente perguntar: “Por que Deus permite isto?”, mas o cristão verdadeiro nunca se esquece: este mundo, esta vida passageira, não é tudo; a morte não é o fim, pelo contrário, é o começo da vida verdadeira e eterna, e dentro desse contexto infinitamente maior, toda imperfeição que vemos aqui não tem importância praticamente nenhuma.
____
1. TAHAN, Lilian. Ela desafiou a ciência. Correio Braziliense, Brasília, p. 29, 14 fev. 2003. Grifo nosso.
2. Conf. artigo da National Geographic "'Immortal' Jellyfish Swarm World's Oceans", disponível em
http://news.nationalgeographic.com/news/2009/01/090130-immortal-jellyfish-swarm.html
Acesso 4/12/013.
____
Referência:
Pregação do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., disponível em
http://padrepauloricardo.org/episodios/por-que-existem-doencas-geneticas
Título Original: Sobre a Perfeição Divina e as doenças genéticas
Site: Fiel Católico
Editado por Henrique Guilhon
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Exibir comentário