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INTRODUÇÃO
Eclo 44,1-2 – “Façamos o elogio dos homens ilustres, que são nossos antepassados, em sua linhagem. O Senhor deu-lhes uma glória abundante, desde o princípio do mundo, por um efeito de sua magnificência”.
Dentre os assuntos polêmicos que constam na pauta dos não católicos, está à questão da veneração dos santos, tão defendida por nós e tristemente escrachada por parte daqueles que por falta de compreensão da fé católica, deixaram para trás, uma tradição primitiva que nasceu na própria Igreja fundamentada na doutrina apostólica (Ef 2,20). Nós que somos crentes, diariamente, convivemos com a ironia daqueles que dizem que “Deus não divide” a sua glória e por esse motivo, atribuem o culto de hiper dulia/dulia a um costume alheio a verdade, porém, se a Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo a dois mil anos, incentiva a veneração desde os primórdios, como entender essa prática sem correr o risco de glorificar a criatura e não o criador?
Nós, como católicos, sabemos que toda “honra, glória e louvor” é exclusiva ao Deus todo poderoso. É isso que cantamos nas missas, no momento em que entoamos o nosso hino de louvor:
“Glória, glória, anjos do céu, cantam todo o seu amor e na terra homens de paz, Deus merece o louvor”.
Sendo assim, como entender a veneração concedida aos santos e a Maria Ss? Será que erramos ao louvarmos os servos de Deus? Analisemos as escrituras, para assim, descobrirmos que a prática de veneração na Igreja Católica, vem dos próprios escritos neo-testamentários.
A GLÓRIA QUE NOS É DADA (VINDA DO PRÓPRIO DEUS)
A glória de Deus jamais deve ser dividida. Essa glória consiste em seu senhorio de poder, de Rei e de Criador. É necessário entender que dar a glória a criatura, como se essa fosse uma divindade, é uma ato de idolatria e de profanação dos mistérios sagrados. O povo de Israel, por diversas vezes cometeu esse pecado: trocar a glória de Deus por uma criatura ou um objeto.
Sl 105,19-20 – “Fabricaram um bezerro de ouro no sopé do Horeb, e adoraram um ídolo de ouro fundido. Eles trocaram a sua glória pela estátua de um touro que come feno”.
Esse erro, característico de povos pagãos que não cultuam um único Deus é a compreensão total do que podemos afirmar de que o “Senhor jamais dividiria a sua glória”. Acreditar que qualquer coisa que não seja Deus, possa ser maior que Ele, é transferir a glória do criador para a criatura.
Isso é condenável.
Por outro lado, sabemos que glorificar a criatura, sabendo que ela continua sendo uma criatura e entendendo que o próprio Senhor atua nessa criatura, sendo o seu único Deus, faz-nos entender o que a Igreja e as escrituras ensinam sobre os atos de veneração.
Podemos encontrar esse exemplo, ainda no velho testamento. Como já citado, os judeus trocaram a glória de Deus por um objeto na intenção de adorá-lo como se isso (objeto), fosse o próprio criador. Em contra partida, lemos no livro de Crônicas que o profeta Jeremias, compôs uma lamentação para o Rei Josias, simplesmente porque esse rei restituiu as coisas sagradas para o povo hebreu, relembrando assim, a existência de um único Senhor:
2 Cr 35,25-26 – “Jeremias compôs uma lamentação fúnebre sobre ele (Josias). Todos os cantores e todas as cantoras falam ainda de Josias em suas lamentações; é este um verdadeiro costume em Israel. Esse cantos fúnebres figuram no livros da lamentações”.
Deus atuou por meio do Rei Josias e após a sua morte, carinhosamente, o povo continuava a lembrar-se de seus atos em favor de toda a nação e por esse motivo, compôs um cântico fúnebre que além de ser entoado, tornou-se costume. Os hebreus não trocaram a glória de Deus e a colocaram no rei já morto, ao contrário, glorificaram a vida de Josias na intenção de glorificar o próprio Senhor.
Até o próprio Cristo, segundo o evangelho de São Mateus, afirma que em Salomão, havia “glória”:
Mt 6,29 – “E eu vos digo que nem mesmo Salomão, EM TODA A SUA GLÓRIA, se vestiu como qualquer deles”.
Olhando para o novo testamento, percebemos que em diversas passagens, Jesus Cristo afirma que nós “devemos estar nEle” e que a glória de Deus Pai, dada ao Deus filho, foi entregue a todos os seus filhos a fim de que nós todos sejamos um.
É isso que São João escreve em seu evangelho:
Jo 17,21-23a – “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também ELES ESTEJAM EM NÓS e o mundo creia que tu me enviaste. DEI-LHES A GLÓRIA QUE ME DESTE, para que sejam um, como nós somos um: EU NELES e tu em mim”.
Isto é, o primeiro a glorificar os santos, foi o Cristo ao afirmar que Ele próprio, nos deu a glória que habitava nele. Dar essa glória, não significa que “somos maiores que Ele” e sim, que somos coparticipantes de sua realidade de salvação. Não éramos nada até então, porém, com o advento de Cristo e com a passagem pelas águas (batismo), passamos a ser filhos de Deus e integrantes de seu Reino de Glória.
Se o próprio Jesus afirma que todo aquele que o serve o “Pai o honrará” (Jo 12,26), por que nós deveríamos ter receio de honrar as criaturas de Deus, uma vez que, verdadeiramente estamos glorificando a Deus, pela vida de tantos irmãos e irmãs que anteriormente a nós, sofreram por amor ao Cristo?
Nós que somos chamados a servir ao Senhor, além de justificados, também somos glorificados:
Rm 8,30 – “E os que predestinou, também os chamou; e os que chamou, também os justificou, e os que justificou, TAMBÉM OS GLORIFICOU”.
A Igreja é um misto de pecadores e santos e todos nós, somos chamados a viver a santidade e a imitar os atos daqueles que foram nossos mestres na fé. Quando louvamos um servo de Deus, não estamos dividindo a glória do Altíssimo com a criatura e sim, glorificando ao próprio Cristo que por meio do homem, continua realizado a sua obra de salvação. O escritor da epístola aos Hebreus, deixa claro que nós devemos lembrar e imitar nossos guias:
Hb 13,7 – “Lembrai-vos de vossos guias que vos pregaram a palavra de Deus. Considerais como souberam encerrar a carreira e imitai-lhes a fé”.
A “glória que nos é dada” continua sendo motivo de amor para que assim, possamos prosseguir em nossa caminhada cristã. Louvar os santos é louvar ao próprio Deus que operou milagres através de tantas vidas. Não estamos aqui, dividindo a glória de Deus, ao contrário, estamos exaltando o poder do Senhor, através da vida dos santos.
São Paulo aos romanos, insiste em dizer que como herdeiros de Deus, seremos glorificados com ele (Rm 8,17). É por isso que sem qualquer receio de “dividir a glória de Deus”, o apóstolo manifesta que todo aquele que faz o bem, deve ser honrado e glorificado:
Rm 2,10a – “GLÓRIA, HONRA e paz para todo aquele que pratica o bem”.
Assim como ao escrever aos Tessalonicenses, o mesmo Paulo afirma que por meio do evangelho, nós tomamos parte na glória de Jesus.
2 Ts 2,14 – “E por meio do nosso Evangelho vos chamou a TOMAR PARTE NA GLÓRIA de nosso Senhor Jesus Cristo”
Se dissermos que a glória (não no sentido de adoração e sim, como honra, respeito e veneração) atribuída à outra pessoa, seria um ato de sacrilégio, teríamos que retirar diversos escritos do novo testamento que fazem referências claras a glória dos santos. Quantas vezes, em nossa caminhada cristã, não ouvimos a seguinte frase: “Não podemos atribuir a glória a si mesmo ou a ninguém, já que a glória é só de Deus”. A frase em si, não está errada, porém, se entendermos que essa glória está intimamente ligada ao projeto do Senhor, entenderemos que nós também tomamos parte dela.
É isso que São Paulo continua ensinando a todas as Igrejas que ele escreve. Ele ensina aos Romanos que a vida eterna é para aqueles que visam à glória e a honra:
Rm 2,7-8 – “A vida eterna para aqueles que pela constância no bem VISAM À GLÓRIA, à HONRA e à incorruptibilidade; a ira e a indignação para os egoístas, rebeldes à verdade e submisso à justiça”.
Aos Coríntios, ele pede para que todo aquele que se gloriar, glorie-se no Senhor. O próprio apóstolo diz se gloriar nos irmãos, mediante ao amor do salvador:
1 Cor 1,31 – “Para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.
1 Cor 15,31 – “Eu protesto que cada dia morro, gloriando-me em vós, irmãos, por Cristo Jesus, nosso Senhor”.
Aos Gálatas, ele pede que antes que alguém se glorie por si só, examine a sua própria conduta.
Gl 6,4a – “Cada um examine a sua própria conduta, e então terá o de que se GLORIAR por si só”.
Por fim, o apostolo ao escrever a carta a Timóteo, solicita fraternalmente que nós, cristãos, concedamos o devido amor e respeito para com os homens. Além de solicitar a súplica, Paulo faz um pedido curioso: “façam ação de graça por todos os homens” (1 Tm 1,1).
A Igreja como guardadora da verdade, continua seguindo esse pedido com muito carinho. Assim como o escritor de Hebreus solicita que lembremo-nos de nossos guias na fé (Hb 13,7), assim como o apóstolo dos gentios pede que façamos ações de graça por todos homens (1 Tm 2,1), assim nós, católicos, nos últimos dois mil anos, continuamos a honrar com muita veneração e piedade a virgem santíssima e todos os santos que anteriormente a nós, trilharam um caminho de santidade.
Sendo assim, dizer que glorificar Maria Santíssima e os Santos é um ato de “dividir a glória de Deus com a criatura”, não passa de sofisma. As escrituras são claras que o primeiro a glorificar os santos, foi o próprio Cristo (Jo 12,26 e Rm 8,20) e venerá-los é propagar a própria glória de Jesus, uma vez que, buscando a santidade, refletimos como um espelho a glória do Altíssimo.
2 Cor 3,18 – “Mas todos nós, com rosto descoberto, REFLETINDO COMO UM ESPELHO A GLÓRIA do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”.
Escrito por: Érick Augusto Gomes
Site: accatolica.com
Editado por Henrique Guilhon