Os textos da Bíblia começaram a ser escritos desde os tempos anteriores a Moisés (1200 a.C.).
Moisés foi o primeiro codificador das leis e tradições orais e escritas de Israel. Essas tradições foram crescendo aos poucos por outros escritores no decorrer dos séculos. Assim foi se formando a literatura sagrada de Israel. A partir de Salomão (972-932), um grupo de escritores que zelavam pelas tradições de Israel, os escribas e sacerdotes, deram origem ao Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia. Depois foram surgindo os outros livros, os Profetas e os Escritos.
A Bíblia grega dos Setenta (LXX), destinada aos judeus da Dispersão, foi traduzida do hebraico para o grego, em Alexandria, por volta do ano 200 anos antes de Cristo.
Demorou alguns séculos para que a Igreja chegasse à forma final da Bíblia. Em vários Concílios, alguns regionais e outros universais, a Igreja estudou o cânon da Bíblia; isto é, o seu índice. O Concílio Vaticano II disse que: “Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados” (Dei Verbum 8). Isto se deu no século V, no tempo de Santo Agostinho, que dizia: “Eu não acreditaria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (Catecismo § 119).
A Bíblia foi escrita em hebraico e grego e, depois, traduzida para o latim e outras línguas. São Jerônimo (347-420), chamado de “Doutor Bíblico”, fez a revisão da versão latina da Bíblia (Vulgata), em Belém, a pedido do Papa São Dâmaso (366-384). Esta versão foi tomada como referência pelo Concilio de Trento (1545-1563).
No século XVII, Antonio Pereira de Figueiredo produziu a clássica tradução católica, baseada na Vulgata. No século XX, com manuscritos hebraicos e gregos descobertos, sobretudo nas grutas de Qumran na Palestina, perto do Mar Morto, em 1947, a Vulgata recebeu uma revisão profunda; surgiu a “Nova Vulgata”, após o Concílio Vaticano II, em 1979, e revisada em 1986. As traduções mais antigas da Bíblia davam mais importância às palavras, hoje se valoriza muito o sentido da frase, dentro do contexto bíblico que se refere.
O Concílio Vaticano II, na “Dei Verbum”, insistiu na necessidade de traduções corretas e adequadas: “Como a palavra de Deus deve estar à disposição de todas as épocas, pede a Igreja com materna solicitude se façam versões corretas e adequadas para as diversas línguas, sobretudo a partir dos textos originais dos livros sagrados… e, com prévia anuência da autoridade eclesiástica, podem ser utilizadas por todos os cristãos” (n.22).
Hoje temos várias traduções da Bíblia. Cada uma delas foi traduzida dentro de uma finalidade, e buscando melhorar a tradução, mantendo o mesmo conteúdo. A antiga edição publicada pela Editora “Ave Maria” (1959), foi elaborada pelo “Centro Bíblico Católico de São Paulo”; é uma tradução da Bíblia dos Monges de Maredsous, beneditinos da Bélgica, que é uma versão francesa dos originais hebraico, aramaico e grego, com base na Vulgata. Esta versão atendeu ao intenso movimento bíblico no Brasil na década de 1950.
A Bíblia de Jerusalém (Ed. Paulinas, 1985), é considerada em alguns países a melhor tradução, pelas opções críticas que orientaram a tradução, as ricas notas, as referências marginais e outras informações valiosas. Foi traduzida dos originais hebraicos, aramaicos e gregos. É uma versão bastante “técnica” e crítica, especial para quem gosta de exegese bíblica.
A Bíblia TEB – Tradução Ecumênica – também foi traduzida com rigor científico, dos textos originais hebraico, aramaico e grego, com introduções, notas essenciais e glossário. A tradução foi feita por ampla equipe de estudiosos de diversas confissões cristãs e do judaísmo, e foi aprovada pela CNBB (Ed. Loyola, Paulinas, 1995). Esta versão tem uma “dimensão ecumênica” com o objetivo de promover a união entre católicos, protestantes e judeus, já que a Bíblia é uma só e deve unir a todos que a usam. A versão em português seguiu a edição francesa.
A necessidade de novas traduções ao longo do tempo surge pelo fato da relação dos vocábulos com a realidade estar em contínua mudança. A CNBB providenciou uma tradução com introduções e notas (Edições CNBB e Canção Nova, 2008), que é o texto de referência para os documentos oficiais da CNBB, textos litúrgicos, etc.
Traduzir é sempre correr o risco de perder algo da força e do texto original. Esse risco tem consequências especialmente sérias quando se quer traduzir a Bíblia fugindo intencionalmente da sua nomenclatura original e típica, a título de que é arcaica ou ininteligível ao homem de hoje. Há hoje uma tendência a fazer novas traduções da Bíblia em “estilo popular”, nem sempre adequadas. Duas traduções sofreram duras críticas de biblistas famosos.
D. Estevão Bettencourt, osb; e D. João Evangelista Martins Terra, S. J., que foi Membro da Equipe Teológica do CELAM e da Pontifícia Comissão Bíblica, criticaram a chamada “Bíblia – Edição Pastoral”, em tradução e notas de Ivo Storniolo e Euclides Balancin. Eles consideraram, que é inspirada por ideologia marxista, deturpa as concepções da história sagrada e da teologia; a leitura materialista aplicada ao texto sagrado torna a mensagem imanentista, fazendo-a perder o seu caráter transcendental…, deturpa o sentido do texto sagrado… e faz “incitamento à luta de classes e às divisões entre os homens”. (Revista Pergunte e Responderemos, Nº 342 – Ano 1990 – Pág. 514).
Outra tradução questionada é a “Bíblia na Linguagem de Hoje”; D. Estevão diz que: “a obra é infeliz, pois, mais do que uma tradução, fizeram uma interpretação, por vezes nitidamente protestante. Além do quê, a adaptação do texto sagrado ao vocabulário popular faz que o novo texto deixa de apresentar termos bíblicos ricos de conotações e temas teológicos como “Tradição, depósito, mistério” (Revista “Pergunte e Responderemos”, Nº 523, Ano 2006, pg.7).
É útil que o cristão possa se utilizar de boas traduções como a de Jerusalém, Ave Maria, TEB e outras aprovadas pela autoridade eclesiástica, para conhecer mais profundamente o “mistério da fé”.
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
Nº 475 – Ano: 2001 – p. 567
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Sobre Prof. Felipe AquinoO Prof. Felipe Aquino é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI. Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova.